Reino Unido: Próximo Governo vai herdar economia complicada e terá de fazer escolhas

Quem quer que seja o primeiro-ministro do Reino Unido saído das eleições de quinta-feira, terá de fazer escolhas difíceis perante um cenário económico complicado, resultado do impacto da pandemia, guerra na Ucrânia e ‘Brexit’.

Nos últimos meses, houve sinais de melhorias da economia britânica, embora ainda não sejam sentidas pelos eleitores, após anos de adversidades e contenção.

Os números oficiais mostram que a economia cresceu 0,7% no primeiro trimestre do ano em relação ao período de três meses anterior, mais do que a maioria das principais economias, e a inflação desceu para 2% em maio, o nível mais baixo desde julho de 2021.

Os preços da energia também caíram e o desemprego, 4,4% em abril, continua baixo relativamente a países europeus. Os salários continuam a crescer, levando o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, a apregoar que o país “virou a esquina” em termos económicos.

Mas, tendo em conta a inflação, os salários reais estão ao nível de 2010, dizem os economistas, e a carga fiscal é a mais alta desde 1948.

Apontado como uma das principais preocupações pelos eleitores, o sistema público de saúde, o NHS, apresenta listas de espera recorde.

De acordo com os últimos dados do NHS, 7,57 milhões de operações não urgentes, como operações a cataratas ou joelhos, estão em lista de espera, quase três vezes mais (2,6 milhões) do que quando o conservador David Cameron ganhou as eleições em maio de 2010.

O aperto na despesa pública afetou outros serviços públicos, como as autarquias, com o financiamento do governo a encolher 40% entre 2010 e 2020.

O número de bibliotecas públicas, por exemplo, diminuirá quase 20% entre 2010 e 2020, segundo o instituto britânico Cipfa, especializado em finanças públicas.

Durante estes 14 anos, a pobreza infantil aumentou, mas os reformados foram protegidos por uma série de medidas do governo.

A perda do poder de compra é refletida pela proliferação de bancos alimentares, que quase não existiam no Reino Unido início da década de 2000.

A Trussell Trust, a maior rede de bancos alimentares do país, que gere 1.699 centros, mais do que hospitais em todo o país, contabilizou mais pelo menos 1.172 pontos independentes.

Uma “década e meia de estagnação” e uma “combinação tóxica de crescimento lento e desigualdade elevada”, é como o centro de estudos Resolution Foundation resume os últimos 14 anos.

A crise financeira de 2008 levou a um aumento do défice e da dívida pública. Controlados pela política de austeridade nos anos 2010, voltaram a deteriorar-se nos últimos quatro anos devido aos apoios públicos durante a pandemia e o aumento do preço da energia.

Atualmente, a dívida situa-se em cerca de 98% do Produto Interno Bruto (PIB), níveis que não se verificavam desde o início da década de 1960.

Os compromissos, tanto dos conservadores e trabalhistas, em reduzir a dívida pública nos próximos anos levaram os analistas a acusar os dois principais partidos de uma “conspiração de silêncio” e de não serem honestos com os eleitores.

“Independentemente de quem assumir o cargo após as eleições gerais, terá, a menos que tenha sorte, uma escolha difícil”, afirmou o diretor do respeitado Instituto de Estudos Fiscais, Paul Johnson, depois de analisar os programas eleitorais, que acusou ambos de ‘conspiração de silêncio’.

Os partidos vão ter de “aumentar os impostos para mais do que nos disseram no seu manifesto”, “fazer cortes em alguns domínios da despesa” ou “pedir mais empréstimos e contentar-se com o aumento da dívida durante mais tempo”, segundo este economista.

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