Reformados a fazerem trabalho voluntário? Proposta da China para combater o envelhecimento demográfico já está a ‘mexer as águas’ na Europa
Com o rápido envelhecimento da sua população e a consequente redução da força de trabalho, a China tem vindo a explorar soluções inovadoras para enfrentar o que é considerado um dos maiores desafios demográficos da sua história. Entre as ideias mais inovadoras destaca-se a proposta recente de encorajar os cidadãos reformados a reintegrarem-se na sociedade através do trabalho voluntário. Esta medida procura aproveitar a vasta experiência e os conhecimentos dos mais velhos para fortalecer o tecido social do país, enquanto tenta mitigar o impacto da diminuição da população ativa. A iniciativa já está a captar a atenção de outros países com desafios demográficos semelhantes, como o Japão, a Alemanha e a Espanha.
Um facto é inegável: a população chinesa está a envelhecer a um ritmo acelerado. De acordo com projeções, até 2035, mais de 450 milhões de cidadãos chineses terão mais de 60 anos, o que representará cerca de 32,7% da população total do país. Simultaneamente, o número de pessoas em idade ativa está a diminuir, o que coloca uma pressão crescente sobre o sistema de pensões e ameaça enfraquecer a força laboral que sustenta a segunda maior economia do mundo.
Neste cenário preocupante, o Governo de Xi Jinping tomou medidas drásticas, que incluem o adiamento da idade de reforma e a implementação de programas de voluntariado destinados a reformados. Ao envolver os mais velhos em atividades voluntárias, o governo pretende não só aliviar a pressão sobre o sistema de pensões, mas também criar uma rede de apoio social e comunitário que beneficie várias gerações.
A ideia de mobilizar reformados para atividades voluntárias não é completamente nova na China. Já em 2003, o governo chinês lançou a iniciativa Silver Age Action, que organizava reformados para trabalharem em áreas rurais e subdesenvolvidas. Agora, assinala o el Confidencial, o país está a expandir esta medida, encorajando os cidadãos mais velhos a participar em atividades comunitárias diversificadas, como o cuidado de crianças, o apoio a pessoas com deficiência e o acompanhamento de outros idosos.
O governo chinês planeia ainda criar plataformas online para facilitar a organização destas tarefas, tornando o voluntariado mais acessível para milhões de reformados. Ao promover a inclusão dos mais velhos através do trabalho voluntário, a China visa combater o isolamento social entre os idosos e reforçar o papel destes cidadãos no fortalecimento das comunidades.
A economia da terceira idade: uma nova força económica
Além de ser um desafio, o envelhecimento populacional também representa uma oportunidade económica significativa, conhecida como a Silver Economy. Na China, esta economia prateada está a emergir como um novo motor de crescimento, à medida que aumenta a procura por produtos e serviços especializados destinados à população idosa.
O voluntariado dos mais velhos pode ser visto como um dos componentes desta economia, ao lado da abertura de novos centros de cuidados para idosos e do aumento da procura por serviços de saúde e assistência social. Com estas iniciativas, a China está a desenhar um novo modelo económico e social, no qual a reforma é redefinida como uma fase produtiva e valiosa da vida.
Um modelo para outros países?
A iniciativa chinesa, que começou por ser implementada em regiões mais desfavorecidas, poderá vir a servir de exemplo para muitos outros países que enfrentam desafios demográficos semelhantes. Nações como o Japão, a Alemanha e a Espanha estão também a deparar-se com uma situação em que o número de idosos ultrapassa a população ativa.
Enquanto a tecnologia e a automatização são vistas como elementos cruciais para o futuro do trabalho, o envolvimento dos reformados em atividades voluntárias poderá desempenhar um papel fundamental na manutenção da coesão social e na estabilidade económica destas sociedades.
Com estas medidas, a China está a traçar o caminho para uma nova abordagem à gestão do envelhecimento da população. Ao promover uma perspetiva criativa e comunitária sobre a reforma, o país propõe transformar esta fase da vida num período produtivo e socialmente significativo. No entanto, este modelo também levanta questões morais, como a necessidade de garantir que os reformados que se voluntariam o façam de forma verdadeiramente voluntária e não como uma solução de recurso para compensar lacunas na força de trabalho.
Seja como uma resposta ao envelhecimento populacional ou como parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento social, a China está a liderar um debate crucial sobre o papel dos idosos nas sociedades modernas. Com um terço da sua população prestes a entrar na terceira idade, o país asiático está a redefinir as regras de como os mais velhos podem continuar a contribuir para o bem-estar económico e social do país.
Esta abordagem inovadora poderá servir de inspiração a outras nações, enquanto enfrentam o desafio comum de uma população que envelhece e uma força laboral que se reduz. A forma como o mundo gerirá estas mudanças demográficas poderá determinar não só a sustentabilidade dos sistemas de segurança social, mas também o futuro das comunidades globais.