“Queremos que as pessoas saibam que estamos a sofrer”: Dezenas de imigrantes acampados em Lisboa desesperam há meses por respostas da AIMA

Enquanto a chuva dá uma pausa ocasional, perante a intempérie dos últimos dias, o frio persistente faz-se sentir nas ruas da capital portuguesa. No entanto, na zona da Igreja dos Anjos, em Lisboa, uma fila de cerca de 20 pessoas forma-se todos os dias, e rapidamente, ao redor de uma carrinha da Comunidade Vida e Paz, que distribui refeições para aqueles em situação de sem-abrigo.

Dembo Camara, um jovem de 21 anos originário da Gâmbia, é um dos primeiros a receber sua refeição, como relata o Público, a quem o imigrante descreve: “Dois pães e leite”. Ele e um grupo de migrantes, também da Gâmbia e do Senegal, têm enfrentado noites frias em tendas improvisadas no largo da igreja e em passeios próximos.

“Ouvi histórias de que, em Portugal, ajudavam as pessoas e eram generosos”, conta Dembo. No entanto, as promessas de uma vida melhor e acesso a trabalho e formação não se concretizaram. “Aquilo que estava à espera e o que vejo é bastante diferente. A minha situação está a piorar”, lamenta.

Dembo, que atua como porta-voz do grupo, destaca as condições precárias em que vivem: “A nossa saúde e sono estão a ser afetados. Alguns de nós nem têm sapatos ou os que têm não são apropriados”. Ele reforça a urgência da situação: “Vou aceitar qualquer tipo de trabalho. Só queremos trabalhar”.

Ao mesmo jornal, todos pedem ajuda, e relatam que há quem esteja há quatro meses à espera de respostas da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). As tendas onde passam dias e noites estão a escassos metros de uma loja da AIMA, mas o regularizar das situações teima em demorar.

Abdoulaye, um senegalês que chegou a Espanha de piroga antes de vir para Portugal, compartilha da mesma esperança e desilusão: “Ouvi dizer que Portugal era um bom país para trabalhar e tranquilo”, conta. No entanto, frisa que a ajuda que tem recebido é principalmente das instituições sociais que passam com comida e roupa.

Ana Rita Rosa, voluntária da Comunidade Vida e Paz há 11 anos, expressa à mesma reportagem a sua preocupação com o aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo na zona: “Há cerca de um mês e meio apareceu esta comunidade e é o número que agora vemos aqui”, revela, indicando que a maioria destas pessoas procura ajuda contínua: tanto que, muitas vezes, os alimentos acabam antes de chegarem para todos.

Celestino Cunha, chefe da Comunidade Vida e Paz, relata a frustração dos migrantes com o processo burocrático. “Vieram com essa esperança e depararam-se com a AIMA e a burocracia normal desse processo”, lamenta, assinalando que a zona dos Anjos sempre esteve ‘habituada’ a receber imigrantes, mas que a chegada de alguns marroquinos e destes senegaleses gerou uma pressão maior na área.

Paulo Santos, coordenador do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo (NPISA) de Lisboa, confirma o aumento do número de sem-abrigo em toda a cidade: “O número tem subido em Lisboa de uma forma geral”, afirma. O responsável indica duas situações distintas na zona dos Anjos: uma delas é a dos migrantes que estão em tendas e a outra é a dos senegaleses e gambianos, que foram identificados em Fevereiro.

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