Quer investir 1 milhão? 6 apostas para um futuro pós-pandemia

A pandemia do novo coronavírus e o seu impacto na forma como vivemos devem dominar qualquer estratégia de investimento que seja concebida por estes dias. E se este é o momento para investir 1 milhão, as melhores apostas vão desde as respostas mais óbvias até às ‘fora da caixa’.

Se por um lado as oportunidades estão no mercado imobiliário, na medidas em que as empresas precisam de mais espaço de armazenamento de dados eletrónicos e com o aumento das compras online a fazer crescer a procuta por depósitos para armazenar e classificar mercadorias, algumas tendências pré-pandemia ganharam igual fôlego.

Falamos, por exemplo, do promissor segmento das bicicletas eletrônicas mas também da biotecnologia.

Contudo, segundo os especialistas consultados pela ‘Bloomberg’, existem também oportunidades mais incomuns e potencialmente divertidas, para aqueles que têm a sorte de ter dinheiro para investir: ossos de dinossauros, arte chinesa, ilhas gregas e ‘memorabilia’ (recordações) do Lehman.

No caso de Eric Becker, fundador e co-presidente da Cresset, o milhão de dólares iria para imóveis industriais. A ocupação por data centers quase duplicou o ano passado. E recorda o exemplo da excessiva utilização da aplicação Zoom, desde o início da pandemia, que está alojada na ‘cloud’ (nuvem), mas também a ‘explosão’ no e-commercea nível mundial. A pandemia causou interrupções na cadeia de fornecimento e os estudos mostram que as empresas do retalho querem aumentar o stock entre 5% a 10% para resistir a esta crise. Para um aumento do stock de reserva de apenas 5%, a nível mundial, as necessidades de espaço disparam significativamente e as empresas precisarão do equivalente “a 213 milhões a 304 milhões de metros quadrados de espaço de distribuição industrial”, estima o especialista.

Becker direciona a sua aposta ‘fora da caixa’ para a aquisição de uma coleção de fósseis de dinossauros. Desde o recente leilão do Stan the T. Rex, por 31,8 milhões de dólares, que se assiste a um crescente interesse em coleções de arte com artefactos antigos.

À luz da grave crise económica que se instalou, para John Pantekidis, diretor de investimentos na TwinFocus, muitos dos investimentos, das oportunidades reais, são aqueles que estão a ser resolvidos e negociados nos corredores dos tribunais de falências. No Reino Unido, as propriedades comerciais e de escritórios têm hoje uma avaliação de cerca de um terço do que era há três anos, podendo eventualmente ser vendidas por até 70% a 80% de suas avaliações anteriores, ponto em que se tornam muito atraentes, assumindo que o comprador pode agregar valor ao adaptá-lo para novos tipos de uso em potencial.

Trabalhando de perto com advogados especializados em falências e banca de investimentos, é possível ganhar o dobro ou o triplo (e até o quádruplo) do que seria possível arrecadar nos mercados públicos num período muito curto.

Na versão menos óbvia, a aposta de Pantekidis vai para imóveis de luxo na Flórida. e na Europa, escolheria uma ilha grega.  Muitos investidores alemães, escandinavos e britânicos estão a comprar neste destino, pois veem a Grécia como a nova Riviera Francesa.

Segundo Ray Tam, co-fundador e sócio gerente, Raffles Family Office, a atenção está agora concentrada em dívida. Antes da Covid-19, os mercados esperavam que a flexibilização quantitativa e os gastos com estímulos diminuíssem gradualmente – mas, é claro, devido à pandemia, o estímulo continua importante. Dívida com grau de investimento da Ásia, renda fixa e títulos imobiliários da China são as áreas que mais atraem este especialista.

Em matéria de dívida, a China é prioritária se procurar estabilidade e de cenários em que os governos tenham força e apoio para manter os mercados, caso outro choque semelhante à Covid-19 ocorra. A emissão de dívida chinesa continua comum – respondendo por 70% a 80% do total da emissão de dívida asiática, sendo que há perspetivas de expansão e também há apoio do governo.

Na sua versão ‘mais descontraída’, o investimento de Tam seria em arte contemporânea chinesa. O que é realmente interessante sobre os artistas modernos é que ainda estão vivos, o que significa que é mais fácil verificar verdadeiras obras de arte e eliminar possíveis falsificações.

Um milhão nas mãos de Akshay Shah, CIO e fundador da Kyma Capital, vai direto para as e-bike e para a possibilidade reescrever a mobilidade nas cidades. São funcionais, limpas e uma grande ajuda ao cumprimento das normas de distanciamento social, mesmo quando o mundo regressar a uma nova normalidade. Se por um lado permite total mobilidade sem transportes públicos, ou privados, é mais compatível com o ESG do que um ‘simpático’ fundo mútuo de bairro.

O especialista reforça ainda que a pandemia acelerou a reforma nas cidades, e só no Reino Unido foram gastos biliões de libras para desenvolver milhares de milhas de “ciclovias”. Assim, uma boa aposta é a a MATE, uma e-bike dinamarquesa com pneus grossos e a marca Moncler. Uma bicicleta elétrica típica é vendida por 2 ou 3 mil dólares com margens brutas superiores a 50%.

A sua aposta ‘divertida’ vai para as recordações que as grandes empresas que vão à falência deixam para trás. Há vendedores do eBay que conseguem obter itens de marca e vendê-los por um valor bastante elevado – como aconteceu com os ‘post its’ a 500 dólares do famoso Lehman. Um conjunto diversificado de ‘memorabilia’ vindas de falências corporativas diferentes pode ser atraente, embora não seja possível ter retorno a curto período.

No caso de Dany Roizman, sócio fundador da Brainvest Wealth Management, o milhão seria investido em imóveis e, especificamente, em apartamentos multifamiliares. E esta aposta passa por Portugal. A pandemia veio mostrar que as pessoas querem mudar-se para cidades menos populosas, aumentando assim a procura nestes destinos. Assim, dividiria metade do dinheiro nos Estados Unidos, onde este mercado é mais desenvolvido, e metade em mercados onde está a começar a crescer, como Irlanda, Espanha, Portugal e Itália. A geração Milennial geralmente procura arrendar, não comprar imóveis, o que ajuda os negócios multifamiliares. Nos Estados Unidos, o retorno a 10 anos pode ser de cerca de 10% a 12% ao ano.

O investimento iria ainda para venda e relocação de aviões. Ficar com aviões menores de um corredor, porque ao contrário do que está a acontecer com os voos intercontinentais, os locais estão a recuperar. E graças à retração dos credores, há mais hipóteses de fechar negócios com grandes transportadoras aéreas, como EasyJet e Lufthansa, cobrando cerca de 15% a 20%, ao ano.

O foco de David J. La Placa, CEO e fundador da Intellectus Partners, para o seu investimento de 1 milhão, aponta para o ‘boom’ no setor de saúde após a crise da Covid-19, semelhante ao que aconteceu com as fintech após a crise bancária. Na biotecnologia assistimos hoje a alguns dos maiores benefícios da tecnologia de computação e da IA, que ​​convergem para encontrar e desenvolver novos medicamentos e terapias com maior rapidez. Custou cerca de 3,5 mil milhões a 4 mil milhões de dólares para desenvolver um medicamento tradicional e colocá-lo no mercado, mas o uso de IA pode cortar custos e acelerar o processo significativamente.

A sua aposta menos conservadora está para lá do céu. Em seu entender, há uma enorme oportunidade de investimento no espaço na próxima década ou mais – provavelmente 1,5 biliões de dólares até 2030 – em termos de receita potencial. Há mais oportunidades de lançamento, motivo pelo qual a SpaceX é agora tão famosa. À medida que os satélites ficam mais pequenos e mais poderosos, o número de lançamentos continuará a aumentar.

Ler Mais





Comentários
Loading...