Quem trabalha hoje “não tem noção de quanto vai perder quando chegar à reforma”, alerta responsável

“As pessoas não têm noção de quanto vão perder quando chegarem à reforma”, alerta, esta quinta-feira, João Pratas, presidente da APFIPP (Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios), em entrevista ao jornal ‘Observador’, que indica que os reformados “não souberam fazer as contas” e agora não podem “colocar-se de fora de uma solução para a Segurança Social” – no entanto, realça, uma solução “nunca passaria por cortar pensões baixas”.

“Os reformados também são responsáveis por isto, porque os reformados votam, somos todos responsáveis. Nós votamos todos, de quatro em quatro anos, estamos sempre a votar, a responsabilidade é nossa. As pessoas mais velhas não podem pôr-se de lado e dizer que não têm nada a ver com o problema, porque têm”, defende o responsável, que salienta que os líderes políticos têm a “obrigação” de sensibilizar as pessoas para aquilo que irão perder quando se aposentarem.

Um estudo da Comissão Europeia indica que quem se reformou em 2022, por exemplo, foi para casa com uma pensão que equivale a 69% do último ordenado em média: porém, quem se reformar em 2050 vai ter até 38,5% do último salário. Em Portugal, indica João Pratas, a situação já é pior.

“Estamos em Portugal num valor que atualmente já está em 64%, ou seja, a pessoa ganha mil no último ordenado e depois ganha 640 euros na primeira pensão. Em 2070 está previsto que esteja bastante abaixo de 40%, já se fala em 37%. Eu penso que as pessoas não têm a noção desta perda, o que leva a uma obrigação em termos de literacia financeira que as autoridades públicas devem ter”, refere.

“Julgo que as pessoas não têm noção. Acho que se fala cada vez mais deste problema, que é um problema que não tem a ver só com o modo de cálculo, tem a ver também com outros efeitos penalizadores que existem na Segurança Social, como, por exemplo, quando as pessoas se reformam antecipadamente ou têm penalizações pesadas que fazem baixar a reforma. Portanto, não é só o cálculo médio, mas de facto o regime legal que nós temos neste momento vai ditar que as pessoas vão ter uma taxa de substituição bastante mais baixa”, alerta o responsável.

“Se não haver meios complementares para auxiliar as pessoas a terem um valor mais alto na reforma, ao passar para 37% do valor do último salário acho que é um corte extremamente elevado. E, por um lado, temos a questão da adequação da reforma das pessoas, por outro lado também sabemos que o sistema tem de ser sustentável, não pode levar o Estado à falência”, conclui.

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