Quem são os CRINK e por que estão a obrigar a NATO a refazer as suas prioridades?

Há uma nova sigla ameaçadora a desafiar a ordem global: os ‘CRINK’, que representam China, Rússia, Irão e Coreia do Norte – quatro ditaduras que conspiram na sangrenta campanha russa para subjugar a Ucrânia.

A cooperação destes países está a forçar a NATO a construir laços mais próximo com países alinhados no Indo-Pacífico: pela primeira vez, altos funcionários da Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Japão participaram numa reunião de ministros da Defesa da NATO em Bruxelas, na passada quinta-feira – o que sucede após três cimeiras anuais consecutivas que contaram com a presença dos líderes do Indo-Pacífico como convidados.

“É extremamente positivo que esses quatro países estejam a participar cada vez mais com aliados da NATO”, salientou o secretário-geral da aliança militar, Mark Rutte, “pelo simples facto de que as ameaças à segurança na região, é claro, tem uma ligação ao que acontece aqui. E não se pode simplesmente dividir o mundo.”

A Rússia recorreu aos seus aliados à procura de ajuda na Ucrânia. O Irão forneceu os drones Shahed que têm atacado regularmente as cidades ucranianas, assim como conselheiros militares. Os Estados Unidos e Ucrânia garantiram que também enviou mísseis balísticos, algo que Teerão negou. Já a Coreia do Norte tem enviado grandes quantidades de munições de artilharia, bem como mísseis – Kiev já acusou Pyongyang de ter enviado milhares de soldados para lutar na linha da frente.

Por último, a China, que insistiu que não está a armar a Rússia, embora Washington tenha dito inequivocamente que Pequim está a ajudar o exército de Putin: a China também está a comprar energia russa, e as suas exportações de chips e outros abastecimentos têm-se revelado cruciais para manter a máquina de guerra de Moscovo a funcionar.

Esta semana, as autoridades russas e chinesas encontraram-se em Pequim e prometeram trabalhar em conjunto, sendo que os dois países realizaram exercícios militares conjuntos nos últimos meses. “Vemos que temos visões comuns, uma avaliação comum da situação e um entendimento comum do que precisamos de fazer juntos”, apontou o ministro da Defesa russo, Andrey Belousov.

Os aliados da Ucrânia estão a fornecer ajuda militar crucial a Kiev, mas têm protegido essas doações com restrições ao seu uso para atingir alvos na Rússia — algo que os parceiros de Moscovo não estão a fazer, o que tem forçado a NATO a estreitar as suas relações com democracias do outro lado do mundo.

Também há preocupação com o comportamento ameaçador da China em relação a outros países asiáticos, como as Filipinas, e seu aumento militar perto de Taiwan. “É claro que partilhamos preocupações sobre o forte aumento militar da China”, sublinhou Rutte.

Os EUA, os Países Baixo e a Grã-Bretanha estão entre os países da NATO que pretendem que a aliança militar alcance alguns dos principais céticos da China na região. Os holandeses liderarão uma viagem dos principais diplomatas aliados da NATO para a Austrália e Nova Zelândia no final deste mês, após um evento semelhante organizado pelos EUA para visitar o Japão e a Coreia do Sul.

Entretanto, a NATO não está unida na expansão dos laços com países asiáticos: França foi a força motriz no bloqueio do plano de estabelecer um novo escritório em Tóquio, insistindo que a Organização do Tratado do Atlântico Norte se concentrasse na sua região de origem, o Atlântico Norte. Alguns países da NATO da Europa Central, que fazem fronteira com a Rússia, também querem que a NATO se concentre em preparar a sua região para uma possível guerra com Moscovo — e deixar o Indo-Pacífico para os EUA.

A China, por outro lado, vem há anos a alertar a NATO para não se aproximar muito das quatro democracias do Indo-Pacífico.

Embora os quatro convidados estejam fora das estruturas da NATO, as suas indústrias de defesa estão intimamente integradas à aliança atlântica. A Coreia do Sul emergiu como um parceiro essencial para alguns países europeus, como Polónia e Roménia, que precisam de entregas rápidas de armas para substituir as enviadas à Ucrânia. “A Coreia do Sul e a NATO nunca estiveram tão próximas como em 2024”, salientou Ramon Pacheco Pardo, especialista em Coreia do Centro de Segurança, Diplomacia e Estratégia da Vrije Universiteit Brussels, citado pelo jornal ‘POLITICO’. “A Coreia do Sul pode aumentar rapidamente a produção de uma forma que os países europeus não conseguem devido a décadas de gastos insuficientes em defesa.”

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