Quem é a Shein, a gigante chinesa que nasceu da guerra comercial entre Trump e Pequim?
No dia 17 de maio, a plataforma chinesa a baixo custo de venda de roupas Shein (pronuncia-se “she-in”) foi a aplicação com mais downloads nos EUA, num período de 152 dias. A empresa, focada em roupas, é neste momento encarada como um player de peso contra “grandes tubarões” do setor, como a Zara.
Depois da procura por vestuário ter duplicado em 2019,face ao ano anterior, 2020 foi o ano de ouro para a Shein que viu disparar as vendas para o triplo face ao período homólogo, levando a uma luta constantemente assumida pela empresa de ampliar a oferta. Só na última quinta-feira, a marca colocou mais 6.239 novos produtos à venda.
No último ano, a Shein foi avaliada em mais de 25 mil milhões de euros, segundo uma fonte anónima da empresa ligada à contabilidade, contactada pela Bloomberg. Tal é a sua dimensão, que a organização já se pode dar ao luxo de contratar a Goldman Sachs, Bank of America e o JPMorgan Chase & Co para consultores de uma alegada “oferta pública inicial que irá decorrer este ano”, segundo as mesmas fontes.
A empresa, quando confrontada com estes números e estes factos afirma apenas “que muitas vezes os dados são falsos” e não revela a sua avaliação. Quanto à OPI, a mesma afirma que “para já não está nada planeado”.
Porém, uma coisa certa, a Shein tornou-se um grande player do mercado do vestuário, contando com uma receita “com muitos números à direita”, que lhe deram margem para entrar na licitação para a aquisição da empresa têxtil britânica “Topshop”.
Embora a gigante chinesa tenha perdido o negócio para a Asos, que comprou a marca em licitação por 337,62 milhões de euros, o seu nome começou a ecoar ainda mais no mercado ocidental.
Para enfrentar “tubarões” como a Zara e hennes & mauritz AB da Inditex, no segmento de fast-fashion, a Shein está a aproveitar a mão de obra fácil e barata, e o conhecimento engenhoso das cadeias de fornecimento. Além disso, a empresa sabe “nadar” entre as lacunas fiscais existentes nas relações comerciais entre a China e os EUA, e aprendeu que o “segredo é a alma do negócio”.
Quando em 2018 se intensificou a guerra comercial entre Washington e Pequim, a China reforçou as tarifas sobre as importações norte-americanas e intensificou, em muito, os apoios fiscais concedidos às empresas, reduzindo drasticamente os custos de produção de grandes organizações como a Shein. Por outro lado, quando Donald Trump decidiu retaliar contra o Governo de Xi Jinping com mais tarifas, isentou “importações de consumo direto com baixo preço”.
Estes dois fatores criaram a moldura perfeita para o crescimento exponencial da gigante chinesa.
Por outro lado, como esclarece uma investigação realizada pela Bloomberg, a empresa “não apresenta números, não explica como faz os processos de recrutamento, nem sequer como e onde obtém os materiais que costura”. “É extremamente difícil conseguir informação sobre esta entidade”, acrescenta a agência de informação.
Com o aumento da procura, devido ao confinamento, as vendas da Shein aumentaram 250% em relação ao ano anterior, gerando uma receita de 9,5 mil milhões de euros em vendas.