Quanta dívida é dívida a mais?
São raras as pessoas que conseguem pagar uma casa e um carro a pronto. E se desejarem fazer obras em casa ou a viagem dos seus sonhos à Patagónia, o mesmo sucede. Portanto, para encargos financeiros grandes, a solução é recorrer ao crédito e este gera dívida. Porém, as palavras “dívida” e “endividamento” quase que se tornaram num tabu, especialmente após a eclosão da crise económico-financeira. Mas quanta dívida é dívida a mais? Vamos desmistificar a ideia de que ter aquilo cujo nome não devemos pronunciar é sempre mau.
Ponto nº 1: tratar por igual aquilo que é igual
Nem toda a dívida é igual. E não estamos a falar do montante dos empréstimos (que será sempre diferente conforme o destino que damos ao dinheiro – se é para comprar uma casa, um carro ou até um barco à vela), mas sim das prioridades que assumimos na nossa vida.
Adquirir uma habitação não é a mesma coisa que comprar roupa da nova estação ou o relógio de último modelo de uma marca conceituada e até o mais recente smartwatch do mercado – não se trata do mesmo tipo de encargo financeiro.
Faz mais sentido endividar-se com um imóvel, que é o sítio onde vai morar, sendo uma garantia ao longo de toda a sua vida e até podendo deixar como herança, do que com pequenas coisas que geram uma dívida menor, mas que também pesam no seu orçamento. É claro que tudo depende da situação económica de cada um e cada caso é um caso, por isso também se trata por diferente aquilo que é diferente.
Ponto nº 2: calcular a taxa de esforço para ver se está endividado
Às vezes, vamos comprando coisas e mais coisas a crédito, até que chegamos a um ponto em que já nem temos noção de qual é o peso que colocamos sobre o nosso orçamento mensal só para liquidar o que devemos. O conceito de taxa de esforço permitir-lhe-á saber a percentagem exata dessa carga através da seguinte fórmula:
Fórmula
Taxa de esforço = (Encargos financeiros / Rendimento Líquido Total do Agregado) x 100
Note que na área “Encargos financeiros” deverá colocar somente as despesas que são consideradas como compromissos com prestações mensais de crédito (portanto, nada de gastos referentes a água, luz, eletricidade e afins neste cálculo).
Considera-se que está endividado (no mau sentido da palavra) quando esta percentagem é superior a 50%. O ideal seria que o pagamento dos seus créditos nunca excedesse um terço (33%) do seu rendimento, mas utopias só existem no País das Maravilhas.
Ponto nº 3: o poder de compra muda tudo
A vida pode estar a correr bem – conseguiu comprar uma moradia, um carro e marcar uma viagem para a Tailândia nas férias de verão -, mas os imprevistos acontecem. Não, não somos fatalistas, somos realistas. Tinha um emprego estável que lhe permitiu melhorar substancialmente o seu nível de vida, mas, de um momento para o outro, por algum infortúnio, perdeu o mesmo?
Se costuma arranjar trabalho facilmente (devido à sua experiência e às suas qualificações) ou se até possui fontes de rendimento adicionais (por exemplo, do apartamento que tem arrendado no Algarve), se calhar não cai o carmo e a trindade. Por conseguinte, o endividamento deve ser sempre proporcional ao seu poder de compra e tem de prever emergências financeiras.
Ponto nº 4: é a melhor altura? Tem alternativas?
Quando é para tomar a decisão de ter filhos, diz-se frequentemente que nunca é a melhor altura. Pois, o mesmo devia acontecer no que diz respeito aos créditos. Será que é o momento certo para pedir um empréstimo? Avalie primeiro se já não tem despesas a mais e se dispõe de alternativas, tais como rendimentos extra que lhe permitam auferir aquele dinheiro adicional para financiar outros custos. Para gastos mais pequenos (comprar um equipamento inteiro de golfe ou de surf), mais vale ter um cartão de crédito do que pedir crédito pessoal. Se calhar, no médio prazo, até lhe compensa domiciliar o seu ordenado. E se já estiver com demasiados empréstimos, mais vale consolidá-los.
Resumindo e concluindo: a dívida é a mais quando a mesma gera défice nas suas contas pessoais. Havendo excedente ou equilíbrio, até pode ter uma dívida de 100 mil euros. Trocado por miúdos: a partir do momento em que tem uma grande dívida, mas que os seus rendimentos (ou até a sua organização quase elástica que estica até ao limite todos os meses) lhe permitem fazer face à mesma, não há que dramatizar. O endividamento é negativo a partir (e somente) do momento em que prejudica as suas necessidades primárias e o faz viver numa roleta russa de preocupação.
Executive Digest com ComparaJá.pt