Qual a importância da água e sustentabilidade para a economia e para as empresas? Esta é a visão dos especialistas e líderes

Alexandra Serra, Administradora da Águas de Portugal – Grupo AdP, Ana Trigo Morais, CEO e Administradora Delegada da Sociedade Ponto Verde e Jorge Cardoso Gonçalves, Presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, reuniram-se numa mesa-debate para discutir o tema “A natureza (água e sustentabilidade) – o impacto na economia, empresas, sociedade”.

Alexandra Serra começou com boas notícias, esclarecendo que Portugal tem excelentes indicadores no que respeita a serviços de abastecimento de água e saneamento, tendo assistido a uma grande evolução nos últimos 30 anos

“Portugal é hoje, a nível internacional, inspirador, e somos reconhecidos por instituições internacionais”, sublinhou, acrescentando que o Grupo ADP continua a ter um papel importante neste caminho de sucesso.

A executiva sublinhou ainda o dado que, em 2000, apenas 40% da população portuguesa estava ligada a sistemas de tratamento de águas residuais, hoje são 87%. “A relação entre desenvolvimento económico e a água é notória”.

Questionado se temos falta de água, ou está mal distribuída, Jorge Cardoso Gonçalves esclarece que Portugal tem uma disponibilidade hídrica elevada, no entanto, tem é um distribuição assimétrica no território.

Deu como exemplo a situação preocupante que se assiste no Algarve, falando da precipitação abaixo da média, e da necessidade de corrigir com políticas públicas corretas.

“Temos de nos habituar a viver com menos água, gerir melhor os sistemas de consumo de água e alterar os hábitos de consumo”, sublinhou.

Ana Trigo Morais alertou que “não temos uma perceção de escassez dos bens que esteja a mudar os comportamentos” e, como tal, temos de trazer para os hábitos de consumo não apenas a questão economia, mas também da escassez.

“Mais tarde os portugueses vão pagar por estas ações, com prejuízo económico para o país”, disse.

Alexandra Serra destacou ainda um “número mágico”. Portugal, em média, por ano, tem disponibilidades de água na ordem dos 60 mil hectómetros cúbicos. As necessidades de água em Portugal são de 6.000. Portugal é um dos países da Europa com mais água per capita.

Identifica assim os desafios. O primeiro desafio é que a assimetria é muito grande, a água está muito mal distribuída no território. O segundo desafio é que estivemos a última década a falar no tema das alterações climáticas, mas a verdade é que apenas há dois ou três anos é que se sente efetivamente nos territórios, salientou.

A executiva destacou ainda as principais regiões do país em dificuldade no que respeita à escassez de água: Algarve, Mira, Alentejo com o foco na região de Odemira, bacia do Tejo e Oeste, bem como o nordeste transmontano.

“Os transvases, a dessalinização e outros sistemas devem ser estudados, medidos, e devem colocar-se números simples para informar a sociedade no que respeita a investimentos, retorno e o custo”, afirma Jorge Cardoso Gonçalves, acrescentando que “o caminho será sempre uma combinação de soluções”.

O Presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos sublinhou ainda que a utilização de água residual ainda é muito reduzida em Portugal, isso com a gestão das origens e também da procura.

Por sua vez, a CEO e Administradora Delegada da Sociedade Ponto Verde explica que a economia circular são novos modelos de negócio que caminham para uma otimização e eficiência dos recursos, ou seja, visa utilizarmos melhor os nossos recursos.

“Falta em Portugal sermos capazes de andar mais depressa e acompanhar melhor os modelos para gerar mais valor, ou seja, recuperar mais materiais, usar menos plástico, recolher e reciclar mais plástico. Falta introduzir inovação e eficiência”, sublinhou,

“Não vale a pena fazer planos a 10 e 20 anos, temos de tomar medidas agora para termos os resultados a longo prazo”, acrescentou.

 

O FUTURO

No que respeita ao Grupo ADP, Alexandra Serra destaca que têm três prioridades a curto prazo, sendo que vão investir 2.000 milhões de euros até 2030: são eles a resiliência, circularidade e digitalização.

“É preciso mudar o comportamento das instituições porque o mundo mudou e os desafios são outros”, destacou.

Jorge Cardoso Gonçalves destacou que o que falta é Governança, mais do que soluções técnicas que já existem. Faltam políticas públicas e governança do recurso e dos setores que utilizam este recurso. “Temos de fazer um uso inteligente da água”.

Por fim, Ana Trigo Morais assinala que o país tem de ter capacidade para empreender e para ganhar agilidade. “A oportunidade da reindustrialização verde é enorme, porque vai trazer uma enorme eficiência e uma grande mudança dos sistemas de negócio”, termina.

O palco da Culturgest recebeu a XXVI Conferência Executive Digest, o evento de referência que juntou em palco Presidentes, CEOs e gestores de topo do tecido empresarial nacional para debater o tema “As profundas alterações – e os seus impactos na Economia, Empresa, Sociedade”.

A XXVI Conferência Executive Digest conta com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, Delta Q, Fidelidade, Jaba Recordati, MC, MEO Empresas, Randstad, Tabaqueira, e ainda com a parceria da Capital MC, Neurónio Criativo e Sapo.

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