Qatargate: Como Eva Kaili e a irmã fizeram carreiras semelhantes na política através do lobbying

A política e o lobbying parece correr no sangue da família Kaili, parte envolvida no escândalo de corrupção conhecido como ‘Qatargate’, que investiga suspeitas de corrupção e subornos no Parlamento Europeu, pagos pelo Qatar e Marrocos a figuras políticas e de ONGs, para influenciar as decisões dos organismos da UE face a estes países. Também a irmã de Eva Kaili, figura central no escândalo, fez carreira na mesma área que a irmã.

Mantalena Kaili foi das primeiras em sair em defesa da irmã, após a sua detenção a 9 de dezembro, o que demonstra a proximidade e lealdade entre as irmãs.

Enquanto Eva Kaili construía carreia política e subia até ao cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu, a irmã estabelecia uma organização, o grupo Made, cujo foco se sobrepunha à área de ação da irmã. Eva subia de cargo, a o grupo ganhava mais destaque.

Um exemplo de cruzamento de interesses verifica-se nos setores da ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo que Eva Kaili virava a sua atenção no Parlamento Europeu para temas como a inteligência artificial ou os mercados de criptomoedas, o grupo de Mantalena, em 2018, fundava uma “iniciativa sem fins lucrativos” de nome ELONtech, que agira precisamente nestas áreas.

Os esforços de Eva traduziram-se em resoluções e regulamentos para os criptoativos. No que diz respeito à inteligência artificial, o Parlamento Europeu, através do seu painel para o futuro da ciência e tecnologia (STOA), liderado por Eva Kaili, lançou o Centro pela Inteligência Artificial em 2019.

Em ambas as situações, a ELONtech foi aliada das ações, com envolvimento das duas irmãs e da equipa parlamentar de Eva Kaili, também consultora na iniciativa criada pela irmã.

Um dos responsáveis pela plataforma ELONtech, Dimitris Tzanidakis, bem como Alexandros Spyridonos, consultor legal da iniciativa, surgem também na lista de assessores de Eva Kaili, com Taznidakis a ser um dos alvos na investigação das autoridades belgas ao Qatargate.

Em 2020, Eva Kaili criou um conselho internacional para a STOA, que é o organismo do PE  de consulta sobre prioridades na inovação, que incluía um representante da ELONtech, e um da Qatar Foundation, organização do emirado que financia projetos nas áreas de educação, ciência e cultura.

A iniciativa da irmã de Eva Kaili apresenta-se como um “observatório” ou “plataforma” de questões legais relacionadas com a tecnologia e a empresa-mãe, o grupo Made, aparece nos registos como recetor de milhares de euros em financiamento europeu aos seus projetos, alguns com o apoio direto de Eva Kaili.

Por exemplo, o mais recente evento organizado pela ELONtech, no início de dezembro, em Atenas, contou com o apoio e participação de Eva Kaili, como representante do Parlamento Europeu.

Após o escândalo rebentar, assinala o Politico, nomes da lista de consultores da ELONtech, onde se incluía Eva Kaili, foram eliminados do site. Questionada pelo facto, Mantalena respondeu que “foi para preservar a discrição dos consultores e voluntários da organização”. Questionada sobre o porquê de ter apagado o próprio nome da lista de membros da plataforma, a irmã de Eva Kaili terminou: “Não é segredo que lidero a ELONtech”.

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