Qatar reavalia papel de mediador perante ataques de Israel em Gaza

O Governo do Qatar afirmou hoje continuar comprometido com as conversações para alcançar uma trégua em Gaza, mas está a reavaliar o seu papel de mediador face a “ataques” e “falta de seriedade” que atribui a Israel.

“Estamos empenhados na mediação, mas estamos a reavaliar tudo agora”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), Majed al Ansari, numa conferência de imprensa, referindo que a mudança se deve, entre outras razões, às “campanhas” contra o Qatar por parte de funcionários do Governo israelita que demonstram uma “falta de seriedade” na procura de uma solução.

“O Qatar está a reconsiderar o seu papel de mediador e isso tem a ver com muitos elementos, incluindo as campanhas contra o meu país em vários meios de comunicação social e por vários funcionários que atacam o meu país e o seu papel de mediador, e usam todas essas informações falsas para justificar esses ataques”, disse o diplomata.

O porta-voz afirmou que “não é segredo” que existem declarações feitas por “funcionários israelitas, incluindo ministros do governo de [Benjamin] Netanyahu, que falaram negativamente sobre a mediação do Qatar”.

Al Ansari afirmou que aqueles que fazem estas afirmações “quer estejam dentro ou fora do governo israelita, não estão a ter em conta a informação que conhecem, e que está relacionada com o papel [do Qatar] e a forma como conduz a mediação”.

E esta é “uma das razões” pelas quais Doha está a avaliar a sua posição de principal mediador, que partilha com o Egito e os Estados Unidos, para chegar a um acordo de trégua na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas que conduza a um cessar-fogo e a uma troca entre reféns israelitas detidos pelo grupo islamita e prisioneiros palestinianos nas prisões israelitas.

“Precisamos do empenhamento sério de todas as partes para chegar a um acordo e, em segundo lugar, atacar o mediador não mostra empenhamento, não mostra seriedade, mostra falta de entusiasmo em relação ao processo de mediação”, disse Al Ansari, que se disse “profundamente frustrado” com tais comentários.

O diplomata do Qatar não mencionou especificamente os comentários feitos pelo governo de Netanyahu contra o Qatar, embora os meios de comunicação israelitas tenham publicado algumas das críticas do governo ao papel de mediador do Estado do Golfo durante os seis meses de guerra, descrevendo-o como “problemático”.

Este problema resulta principalmente do facto de o Qatar acolher o gabinete político do Hamas, que foi criado em coordenação com os Estados Unidos.

Em resposta, Al Ansari disse na conferência de imprensa que “não há justificação” nem qualquer tipo de pressão do Qatar para que os dirigentes políticos do grupo islamita Hamas abandonem Doha, onde o movimento palestiniano está representado há uma década.

“O escritório do Hamas em Doha foi criado em coordenação com os Estados Unidos e outros países, a fim de alcançar algum tipo de sucesso nesta questão como um todo”, salientou.

“Os líderes do Hamas estão aqui em Doha, podem ir para onde quiserem, podem voltar quando quiserem. Não há restrições. E não há necessidade de lhes pedir que saiam ou que alguém lhes peça que saiam”, insistiu o diplomata, referindo-se a notícias de meios de comunicação social, como o norte-americano Wall Street Journal, que indicaram que os líderes políticos do grupo islamita estão a considerar mudar a sua base para fora do Qatar.

Ler Mais