Putin manipulou “o ego e as inseguranças de Trump” para influenciar política dos EUA, revela ex-conselheiro de segurança nacional

Um novo livro do antigo conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, HR McMaster, revela que o presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou-se do “ego e inseguranças” de Donald Trump para exercer uma influência significativa sobre o ex-presidente norte-americano. Segundo McMaster, Trump recusava-se a aceitar qualquer avaliação negativa de Putin feita pela sua própria equipa, o que eventualmente levou à sua demissão.

No livro intitulado At War With Ourselves: My Tour of Duty in the Trump White House, que será publicado pela HarperCollins a 27 de agosto, McMaster detalha os 457 dias em que serviu como conselheiro de segurança nacional, desde fevereiro de 2017 até ser demitido em abril de 2018. O jornal The Guardian obteve uma cópia antecipada da obra e revela alguns dos expertos mais polémicos.

Uma das passagens mais marcantes do livro refere-se à forma como Putin teria explorado as fraquezas de Trump. “Depois de mais de um ano neste cargo, não consigo entender o domínio de Putin sobre Trump”, escreveu McMaster, descrevendo uma conversa que teve com a sua esposa, Katie, após o envenenamento de Sergei Skripal, um antigo oficial de inteligência russo, e da sua filha, no Reino Unido, em março de 2018. Enquanto outros líderes ocidentais começaram a formular uma resposta firme ao ataque, Trump, segundo o livro, estava mais interessado em um artigo do New York Post com o título: “Putin elogia Trump, critica política dos EUA”. Trump chegou a anotar um agradecimento no artigo e pediu a McMaster que o enviasse a Putin.

McMaster revela que, à medida que se acumulavam provas de que o Kremlin, e provavelmente o próprio Putin, tinham ordenado o ataque com agente nervoso a Skripal, ele decidiu não enviar a mensagem anotada por Trump.

De acordo com o livro, Putin, um antigo agente implacável do KGB, usava lisonjas para manipular Trump e afastá-lo dos conselheiros em Washington que defendiam uma posição mais dura contra a Rússia. “Putin descreveu Trump como ‘uma pessoa muito destacada, talentosa, sem qualquer dúvida’, e Trump mostrou-se vulnerável a este tipo de abordagem, revelando a sua afinidade por líderes autoritários e a crença de que ele, sozinho, poderia estabelecer uma boa relação com Putin”, escreve McMaster.

McMaster descreve também como Trump se tornou obcecado com o relatório de Mueller sobre a interferência russa nas eleições de 2016, a ponto de ser difícil discutir qualquer assunto relacionado com a Rússia. Esta obsessão agravou a relação entre Trump e McMaster, culminando na sua demissão em abril de 2018, num momento em que Trump parecia inclinar-se mais para uma abordagem conciliatória com Putin.

O livro também recorda um episódio em julho de 2017, durante uma cimeira em Hamburgo, na Alemanha, onde McMaster tentou alertar Trump para não ser “ingénuo” nas negociações com Putin. Ele avisou que Putin poderia manipular Trump com promessas ambíguas de uma “melhor relação”, oferecendo cooperação em áreas como o combate ao terrorismo, cibersegurança e controlo de armas. No entanto, Trump demonstrou impaciência com a posição crítica de McMaster.

Apesar das críticas ao ex-presidente, McMaster insiste que se manteve apolítico durante o seu serviço, focando-se exclusivamente nos interesses dos Estados Unidos. Escreveu o livro, segundo ele, para “ultrapassar a hiperpartidarização e explicar o que realmente aconteceu”.

O livro também descreve o último dia de McMaster na Casa Branca, em abril de 2018, quando o então vice-presidente Mike Pence o levou ao Gabinete Oval. Trump, segundo McMaster, foi cordial, dizendo aos sobrinhos do general: “O vosso tio é um grande tipo, muito duro, e fez um trabalho fantástico para mim. Certifiquem-se de que ele só escreve coisas boas sobre mim.”

Este relato oferece uma visão única sobre as dinâmicas internas da Casa Branca de Trump e a complexa relação entre o presidente dos Estados Unidos e o líder russo, sugerindo que as lisonjas e manipulações de Putin tiveram um impacto profundo na política externa norte-americana durante esse período.

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