Putin está a bombardear a Ucrânia até à escuridão… e a deixar a Europa ‘à rasca’ com reservas de energia

No exterior de Kiev, agora uma vasta cratera fumegante substitui o local onde se erguia uma das maiores centrais elétricas da Ucrânia, a Central Térmica de Trypilska. Esta central, que fornecia eletricidade a milhões de pessoas, tornou-se um símbolo sombrio da devastação crescente na Ucrânia.

Recentemente, a Rússia intensificou os seus ataques, mirando não apenas as estações geradoras de energia, mas também os armazéns subterrâneos de gás. Estes armazéns foram vitais no último inverno, quando a União Europeia recorreu às suas reservas para evitar carências energéticas. A estratégia russa atual ameaça não só a estabilidade energética da Ucrânia, mas também a da Europa.

Maxim Timchenko, CEO da DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia, revelou ao POLITICO a gravidade da situação: “As nossas centrais térmicas foram atacadas 48 vezes nos últimos seis meses. Os ataques recentes da Rússia têm sido os mais devastadores desde a invasão em 2022”. Devido a estes ataques, a DTEK perdeu cerca de 80% da sua capacidade de produção elétrica.

Os impactos destes ataques vão além das fronteiras ucranianas. A preocupação com o fornecimento de eletricidade e aquecimento durante o inverno é crescente. As defesas aéreas ucranianas estão enfraquecendo, tornando cada vez mais difícil proteger a infraestrutura energética contra os mísseis inimigos.

No inverno passado, a Ucrânia ofereceu à Europa o uso da sua rede de armazenamento de gás, permitindo aos países europeus armazenar bilhões de metros cúbicos de combustível. Agora, esta rede está sob ataque, levantando dúvidas sobre as alternativas energéticas da UE.

Oleg Ustenko, economista ucraniano e ex-conselheiro do Presidente Volodymyr Zelenskyy, sublinhou a gravidade da situação: “Os russos estão a usar a energia como arma contra a Ucrânia e contra o mundo. Este é um desafio não apenas para a Ucrânia, mas também para a Europa”.

Até recentemente, a Ucrânia era vista como uma potência energética na Europa, exportando diariamente cerca de um milhão de euros em eletricidade. Agora, com a destruição das suas infraestruturas, o país enfrenta o desafio de importar energia, esgotando o seu orçamento no âmbito da crise.

Volodymyr Kudrytskyi, CEO da Ukrenergo, a empresa estatal de distribuição de energia, afirmou que, apesar dos ataques, estão empenhados em restabelecer a rede. Contudo, a geração de energia tornou-se o principal obstáculo.

Timchenko salientou que só com o apoio dos aliados é possível salvar a rede de mais destruição. Ele enfatizou a necessidade de defesas aéreas mais robustas para proteger o sistema energético da Ucrânia.

Apesar dos compromissos recentes, como o envio de uma bateria adicional de defesa aérea Patriot pela Alemanha, muitos consideram que estas medidas são insuficientes para garantir a independência energética da Ucrânia.

Aura Sabadus, especialista em gás da ICIS, destacou o papel crucial que a Ucrânia desempenhou ao armazenar gás para a Europa, lamentando que muitos destes recursos provenham de países que se recusam a ajudar a Ucrânia.

Com o acordo de trânsito de gás entre a Rússia e a Ucrânia prestes a expirar, a incerteza quanto ao fornecimento de gás para a Europa aumenta. Ustenko alertou que a demora na entrega de sistemas de defesa aérea à Ucrânia poderá agravar ainda mais a situação.

A necessidade urgente de proteger a Ucrânia e a Europa torna-se cada vez mais evidente, pois os ataques contínuos ameaçam não só o fornecimento de energia, mas também os investimentos necessários para modernizar as infraestruturas energéticas e promover projetos de energia renovável.

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