Próxima semana à lupa: Volatilidade vai continuar a dissipar-se mas ‘fator Trump’ pode virar jogo
Na próxima semana a volatilidade deverá manter a sua trajetória descendente. Historicamente a volatilidade aumenta 30 dias antes da eleição, conforme medido pelo índice de volatilidade VIX, que na semana passada atingiu o seu máximo de 4 meses, e tende a diminuir gradualmente 30 dias após a eleição e voltar às condições normais/pré-eleitorais 60 dias depois das eleições, sendo este padrão observável quer em anos de recessão quer em anos de crescimento económico.
Há no entanto um fator diferente a considerar nestas eleições: Donald Trump. Estas eleições estão longe de terminar. E pode adiar a decisão se mantiver a liderança na Pensilvânia, vencer na Geórgia e inverter a contagem no Nevada e Arizona.
Para já, no entanto, os investidores descartam esta possibilidade e já colocam Biden na Casa branca mas com um Senado republicano, o que garante a impossibilidade de tomar medidas como o aumento de impostos e regulamentação mais apertada. No entanto, o presidente Trump deixou claro que contestará as contagens em todos os estados com ganhos recentes de Biden, o que significa que pode levar semanas até que tudo isso acabe.
No calendário económico da semana que vem teremos a reunião de política monetária da Nova Zelândia na quarta-feira, a inflação no mês de Outubro nos Estados Unidos na quinta-feira e a divulgação do PIB do terceiro trimestre da zona euro na sexta-feira.
Chega ao fim semana ‘focada’ nos EUA
Esta semana o mercado acionista disparou e o dólar americano mergulhou, num ambiente de risk on, à medida que os investidores se convenceram de que Joe Biden tem o caminho aberto para ganhar a Presidência, o que evitaria meses de litígios e incerteza.
O vice-presidente Biden tem, à data de redação deste artigo, 264 dos 270 votos eleitorais necessários para vencer as eleições nos Estados Unidos e está a ter bons resultados na Geórgia (onde já tem a liderança) e na Pensilvânia. Caso consiga ganhar na Pensilvânia, onde estão ainda a ser contados mais de 500.000 boletins de voto de regiões tradicionalmente azuis (leia-se democratas) de Filadélfia e de Pittsburgh, Biden garantirá a vitória com uma vantagem insuperável. Embora a campanha de Trump tenha entrado com processos judiciais em todos os estados do midwest, poucos analistas jurídicos acreditam que estes processos tenham algum sucesso sobre a liderança de Biden em Wisconsin e Michigan, a qual é suficientemente grande para sobreviver a qualquer tentativa de recontagem.
Esta semana tivemos também reunião de dois bancos centrais: a Fed e o Banco de Inglaterra (BoE). A reunião da FOMC teve um impacto muito limitado sobre as ações e moedas. A decisão da Fed de deixar as taxas de juros e o montante do programa de Quantitative Easing inalterados foi amplamente antecipada. Não houve surpresas na declaração de política monetária – o banco central disse que a atividade económica continua a recuperar. A maior parte do statement da Fed de Setembro ficou inalterada. O presidente do Fed, Powell, confirmou que o ritmo de melhoria da economia foi moderado e que é necessário mais apoio do ponto de vista monetário e fiscal.
Enquanto isso, a libra esterlina disparou após o anúncio da política monetária do Banco da Inglaterra. O banco central manteve a taxa de juro inalterada e aumentou o seu programa de compra de obrigações em 150 mil milhões de libras, valor acima do esperado. No entanto, a libra valorizou sobretudo porque o banco central não sinalizou taxas de juros negativas e porque o Tesouro alargou o seu programa de apoio aos desempregados por 5 meses, pagando 80% do salário normal às pessoas que foram dispensadas.
*Nuno Mello, Analista XTB