Projeto 141: O plano secreto da China para instalar bases militares e “postos de espionagem” em todo o mundo

No meio no enorme novelo de informações militares dos EUA exfiltradas do Pentágono, por meio do soldado lusodescendente Jack Teixeira, acabou ‘perdido’ mas revelado de forma acidental o chamado ‘Projecto 141’, um plano da China para instalar bases militares e postos de espionagem em todo o Mundo.

O Washington Post já havia revelado que China e Cuba tinham chegado a acordo para fixar uma estação de espionagem na ilha, a troco de milhares de milhões de euros, com o porta-voz do Conselho de Segurança dos EUA, John Kirby, a afirmar que a informação era “inexata”, mas sem explicar como. Mais tarde a Casa Branca veio revelar que não se tratava propriamente de uma ‘novidade’: a base existia desde 2019, e não era apenas uma instalação, mas sim quatro, operadas conjuntamente por oficiais chineses e cubanos.

Depois, seguiram-se revelações de que Pequim e Havana estavam a tratar de estabelecer um centro de treino militar conjunto, em Cuba, que levantou preocupações em Washington de que “poderia dar à China uma potencial plataforma de alojamento permanente de tropas na ilha, e ampliar a sua recolha de informações secretas, incluindo através de escutas eletrónicas contra os EUA”.

A administração Biden terá encetado conversas para tentar travar o acordo, mas logo depois surgiram informações de que os serviços de inteligência norte-americanos estavam a acompanhar trabalhadores das gigantes tecnológicas chinesas Huawei e ZTE nas supostas instalações de espionagem digital.

Agora, segundo os documentos consultados pelo El Confidencial, sabe-se que este acordo China-Cuba é apenas a ponta do icebergue do Projeto 141, iniciativa do Exército chinês para expandir a presença global e redes de apoio logístico às forças de Pequim.

Este plano secreto, agora revelado, prevê o estabelecimento de pelo menos cinco bases militares no estrangeiro e 10 centros de apoio logístico, só até 2030.

Os pontos-chave desenhados pela China vão além de Cuba, estando previstas instalações militares e de espionagem também em vários pontos de África, Sudeste Asiático e Médio Oriente.

“Há uma série de lugares em que os chineses querem colocar postos de escuta e espionagem avançada. Querem lugares para bases de assistência militar terrestre, e para apoiar operações no espaço. Procuram ‘portos de abrigo’ para poderem chegar e reabastecer. E procuram o direito a ter bases militares tradicionais mais estabelecidas”, explica fonte da administração Biden sobre o caso.

Aliás, “já o estão a fazer” em dezenas de outros lugares espalhados pelo mundo.

Os documentos revelados por Jack Teixeira mostram um gráfico com as instalações já no ativo e as que estão em construção. O Pentágono regista trabalhos de construção já avançados de construção destas bases militares e de espionagem no Camboja e nos Emirados Árabes Unidos.

É neste último país que se concentram as maiores preocupações de Washington, que é, entre os apresentados na lista, com quem os EUA tradicionalmente mantiveram laços militares mais estreitos, com acordos para atracar navios em Yebel Ali e com mais de 5 mil efetivos militares norte-americanos colocados na base aérea de Al Dhafra.

Os trabalhos de construção nos Emirados Árabes Unidos foram detetados em 2021, e Washington pediu que fosse cessada a colaboração com a China. Foram dadas garantias, mas já este ano, os serviços de inteligência norte-americanos verificaram que, afinal, os trabalhos de construção da base chinesa voltaram a colocar-se em marcha.

“A República Popular da China considerou Mianmar, Tailândia, Singapura, Indonésia, Paquistão, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos, Quênia, Guiné Equatorial, Seychelles, Tanzânia, Angola e Tadjiquistão, entre outros, como locais para instalações de logística militar”, assinala o documento dos EUA sobre o Projecto 141 desenhado por Pequim.

Houve ‘convites’ para construção de base no Tadjiquistão, mas ainda sem registo de resposta positiva de Pequim.

Por outro lado, na Guiné-Equatorial, decorrem a todo o gás as negociações há mais de três anos e já haverá ‘luz verde’, não estando ainda decidido o local exato. Também um centro de treinos e um ponto logístico de apoio estão previstos no Gabão, para apoiar a estrutura chinesa a montar na Guiné-Equatorial, ou a ‘transformação’ do projeto do porto de Bagamoyo, na Tanzânia, ou estruturas na Mauritânia, aparecem referidos no plano secreto intercetado pelos EUA.

Os documentos relatam também pressões para fechar acordos com os governos das Ilhas Fiji e Vanuatu, e também na Argentina, com a construção de uma base naval em Ushuaia, no extremo sul daquele país, e que permitiria um objetivo estratégico de Pequim: Obter controlo, por parte da Marinha chinesa, da passagem de embarcações entre os continentes americano e antártico e entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

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