Presidente da Câmara de Lisboa recusa audição de comandante da Polícia Municipal

O presidente da Câmara de Lisboa recusou hoje que o comandante da Polícia Municipal tenha de prestar informações ao executivo relacionadas com o alegado envolvimento de dois agentes numa rede suspeita de tráfico de seres humanos e prostituição.

“Eu não penso que o senhor comandante tenha que ir à reunião de câmara. O senhor comandante tem que fazer aquilo que fez, e bem, que é um comandante que está sempre presente, perto dos seus homens e das suas mulheres, que colaborou imediatamente com a Justiça”, afirmou Carlos Moedas (PSD).

O autarca, que falava à margem da inauguração de uma estação de bicicletas da rede Gira, junto ao Jardim de São Bento, também conhecido como Jardim das Francesinhas, comentava o pedido do Bloco de Esquerda (BE), de esclarecimentos sobre a detenção de dois polícias municipais e da presença do comandante da Polícia Municipal na próxima reunião do executivo.

“Portanto, aqui não é uma questão do comandante. Temos um grande comandante da Polícia Municipal, que faz o seu trabalho e eu estou na reunião de câmara, se a senhora vereadora [do BE] me quiser fazer perguntas, eu estarei preparado para as responder, mas não posso estar a falar em casos que estão em segredo de justiça”, acrescentou.

Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP avançou hoje que “foram identificados dois polícias, atualmente em funções na Polícia Municipal de Lisboa, que se crê estarem ligados ao negócio da exploração das mulheres para a prostituição”.

A investigação decorre “há cerca de um ano e meio” e permitiu identificar uma estrutura que “explorava mulheres para a prostituição, submetendo-as a condições degradantes e desumanas, obrigando-as a trabalhar de forma quase permanente, limitando a sua liberdade e autodeterminação”.

Segundo a PSP, foram realizadas buscas domiciliárias e buscas na Polícia Municipal de Lisboa, local de trabalho dos dois polícias investigados.

Embora sem querer fazer muitos comentários sobre “um caso concreto que está sob segredo de justiça”, o autarca admitiu que “é um momento difícil”, em que se tem que pensar “nestes casos que acontecem em muitas instituições” e “lutar contra eles”, pois trata-se de uma “luta contínua”.

“Nós precisamos que a Justiça funcione e, portanto, aquilo que eu lamento é que tenha acontecido essa situação. Ela aconteceu na Polícia Municipal, poderia ter acontecido na Polícia de Segurança Pública ou noutra instituição. Aquilo que há [a fazer] é atuar e eu penso que a Justiça está a atuar”, referiu.

“São situações obviamente lamentáveis em qualquer instituição e, obviamente, tenho pena. Mas há uma coisa que temos de ter claro, não são duas pessoas ou dois crimes cometidos que definem uma instituição”, advogou Carlos Moedas, para quem Lisboa tem “da melhor Polícia Municipal também a nível europeu” e não é “um caso concreto que deixa uma mancha sobre uma instituição tão importante para a cidade”.

Para o autarca, “a Justiça fez as buscas, deteve e, portanto, é isso que tem que fazer e agora está em segredo de justiça”.

Mas, reiterou: “Temos uma polícia municipal que todos os dias luta pela segurança dos lisboetas, com polícias municipais absolutamente extraordinários, que dão a sua vida por nós, se for necessário” e “como em qualquer instituição pode acontecer este tipo de casos”.

“Nós não podemos estar num país que não valoriza as suas forças de segurança, que não valoriza aqueles que trabalham e que dão a vida por nós e é isso o mais importante”, defendeu Moedas.

Em relação à sua ordem para que a Polícia Municipal passe a deter pessoas apanhadas a cometer crimes, matéria reservada dos órgãos de polícia criminal, Moedas disse que a ministra da Administração Interna pediu um parecer à Procuradoria-Geral da República, com que concorda, e defendeu ser preciso uma Polícia Municipal que, juntamente com a PSP, possa “tratar da segurança dos lisboetas”.

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