Prepare-se: prestação da casa sobe até 260 euros em julho. “Pico das taxas orientadoras não vai chegar num futuro próximo”, alerta especialista

A Euribor tem subido de forma acentuada nos últimos meses e este mês de julho, apesar de uma subida menos expressiva, não vai fugir à regra. Para quem contraiu um crédito à habitação, há mais razões para se preocupar este mês se tiver o seu contrato revisto. Recorde-se que na passada segunda-feira a taxa reguladora caiu depois de ter atingido novos máximos desde novembro de 2008 na passada 6ª feira.

Merece especial atenção a taxa Euribor a 12 meses, que atualmente é a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável – representa 41% do ‘stock’ de empréstimos – e que desceu para 4,092%, menos 0,055 pontos, depois de ter registado seis máximos consecutivos. Portanto, se o seu contrato for revisto este mês, pode esperar, naturalmente, más notícias, uma vez que a prestação da casa vai subir cerca de 260 euros, se tiver um contrato a 12 meses, segundo revelou à ‘Executive Digest’ a DECO Proteste.

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:

– se o empréstimo tem como indexante a Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar no próximo ano irá subir para 803 euros, mais 260 euros (47,9%) em relação à prestação que pagou nos últimos doze meses (543 euros). A taxa média registada este mês – dados até ao dia 26 de junho – foi de 3,978%.

– Já se o indexante for de 6 meses, prepare-se para entregar ao banco 787 euros, uma subida de 15,9% (cerca de 108 euros) face a janeiro de 2023, quando a prestação situava-se nos 679 euros. Já a taxa média situou-se no 3,801%.

– por último, se tiver um contrato a 3 meses: a taxa Euribor média é de 3,523%, o que significa um aumento da sua prestação de 7,6%: sobe de 708 para 762, mais 54 euros.

Convém sublinhar que a taxa média da Euribor diz respeito a dados até esta segunda-feira, sendo expectável que até dia 30 possa subir mais um pouco: 5, 2 e 1 euros, respetivamente, de acréscimo na prestação.

“Num futuro próximo as taxas não vão estabilizar”

A subida das taxas Euribor – assim como das prestações mensais aos bancos dos créditos à habitação – tem colocado muitas famílias portuguesas em risco de incumprimento. De acordo com Nuno Rico, da DECO Proteste, não se esperam boas novas tão cedo.

“Não me parece que num futuro próximo as taxas não vão estabilizar. Basta ver o discurso de Christine Lagarde (presidente do BCE) que deu a entender que o BCE não vai alterar esta tendência de subida enquanto não houver uma descida significativa da taxa de inflação. Há que manter essa trajetória e certamente em julho será muito surpreendente que não haja novo aumento”, explicou, em declarações à ‘Executive Digest’.

“A expectativa é que pelo menos até setembro/outubro vai continuar este movimento ascendente. Um pico entre os 4 e 4,5% na taxa Euribor, e a partir daí, considerando o presente contexto económico, espera-se um ligeiro abrandamento. A expectativa que a partir do 2º semestre de 2024 se situe em 3%, baixando ainda assim para um valor elevado”, reforçou.

E, com uma taxa Euribor a 12 meses a 4,5%, que poderá ser o pico, o que significaria de aumento de prestação? “Nesta altura, ficaria a pagar 852 euros, mais 310 euros do que a anterior mensalidade.”

A DECO Proteste fez diversas recomendações ao Governo para tomar medidas para aliviar os bolsos dos portugueses. “Continua como há um mês, sem resposta. O que nos surpreende pela negativa. Considerando a evolução das taxas de juro, considerando a perspetiva do BCE, estamos surpreendidos por não haver qualquer tipo de resposta, ou sequer abertura, do Governo, para discutir as propostas que apresentámos, que são a cada dia que passa mais pertinentes”, frisou.

“Este segundo semestre de 2023 vai ser muito complicado para as famílias portuguesas. Vamos continuar a ter esta subida dos juros, há muitas famílias que vão agora ter o contrato revisto de 12 meses, que foram maioritários nos meses mais recentes e são esses que têm maior montante em dívida, são esses que vão sofrer ainda mais o impacto da subida. Há um ano, a Euribor a 12 meses, em julho de 2022, tinha uma taxa média de 0,852%”, reforçou Nuno Rico.

“As famílias vão lidar com um aumento de mais de três pontos percentuais quando comparado com há um ano; há dois anos, representa um aumento de 4,5 pontos percentuais. Diria que é um acumular de revisões em alta que vai penalizar as famílias portuguesas, que já gastaram o balão de oxigénio ganho durante a pandemia”, apontou, acrescentado que há outro fator a levar em conta: a inflação.

“Apesar de mais baixa, não podemos esquecer que veio acumular aos aumentos anteriores. Estamos agora com 4% que se acumulam aos 7 e 8% do ano passado”, precisou. “Os preços não estão a descer, estão é a subir mais lentamente”, referiu, sublinhando tratar-se de “uma tempestade perfeita” que vai penalizar os portugueses.

“Temos a sentir o aumento dos pedidos de ajuda, muito na linha de famílias que estão a tentar renegociar os contratos com o banco e não estão a conseguir encontrar soluções”, denunciou Nuno Rico. “Um em cada três casos é apresentado pelo banco um período de carência e é suspensa a amortização do contrato. É uma solução provisória, longe de ideal.”

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