Preços dos seguros sobre riscos cibernéticos deverão continuar a aumentar
O relatório Global Insurance Market Index, publicado recentemente pela Marsh, dá conta de que os preços comerciais de seguro globais aumentam 15% no terceiro trimestre deste ano.
António Morna, Placement Leader da Marsh Portugal, explica essa subida em “resultado do endurecimento de mercado desde 2019, que se deve ao facto dos principais seguradores internacionais, bem como dos resseguradores – que disponibilizam capacidade e mecanismos de proteção aos próprios seguradores – necessitarem de equilibrar os seus resultados técnicos”.
Numa entrevista concedida à ‘Executive Digest’, o executivo indica que os referidos mercados têm tido resultados deficitários nos últimos anos, pelo que necessitaram de corrigir o seu pricing para equilibrar esses balanços, apontando vários fatores que explicam a deterioração dos resultados.
“Se por um lado, até 2018, atravessámos um ciclo de elevada competitividade e por parte dos mercados, levando a uma redução continuada dos preços (…) Se olharmos para os Danos Patrimoniais, fenómenos da natureza extremos como os incêndios florestais, tempestades e inundações têm sido cada vez mais frequentes, muito influenciados pelas alterações climáticas, e com impactos cada vez maiores (…)”, explica, passando a elencar, por outro lado, “um maior rigor técnico e da qualidade de cada risco leva a uma seleção mais apertada dos negócios e nas condições a que cada segurador quer subscrever e incluir no seu portfolio e isso traduz-se, naturalmente, no preço que é praticado”.
No que diz respeito às responsabilidades, explica António Morna, a litigância e a exposição crescente a uma economia cada vez mais global levam a uma maior exposição a reclamações, sendo que os valores indemnizados são crescentemente mais elevados, um cenário que leva a que o seguradores redefinam os limites de responsabilidade que pretendem assumir e a ajustar os prémios de acordo com a sua experiência e com o desempenho do seu portefolio.
Riscos cibernéticos
António Morna faz referência a rápida evolução tecnológica e uma economia cada vez mais digital, o que levou ao inevitável aumento dos ciberataques. Nesse sentido, verificou-se uma correção muito forte e muito rápida nos preços de forma a mitigar as perdas sofridas bem como num aumento da exigência no que respeita à ciberproteção das empresas para prevenir e retaliar ataques cada vez mais frequente.
Dado que são uma linha relativamente recente, “o pricing definido até há pouco tempo baseava-se na percepção da exposição ao risco por parte do mercado e não nos resultados passados”, explica.
Tendência de crescimento
De acordo com o relatório da Marsh, a taxa de crescimento continua a ser moderada em muitos ramos e em muitas geografias, o que poderá significar que a subida teve o seu pico no quarto trimestre do ano passado – com 22%.
Nas palavras do executivo, “passados três anos num ciclo de endurecimento de mercado, os seguradores começam a reequilibrar os seus portfolios e os aumentos praticados, de uma forma geral, já não serão tão elevados”.
António Morna acredita que a exigência técnica quanto à análise dos negócios dos seguradores e a implementação de uma cultura de gestão de risco por parte das empresas serão tendências que se manterão, enquanto “nos riscos cibernéticos, a tendência de aumento deverá manter-se tendo em conta a necessidade de repricing desta linha uma vez que, para os seguradores, o preço base era manifestamente insuficiente”.
Mercado português
“O mercado português não deixa de estar exposto a esta tendência. Não só pelos seguradores internacionais que cá operam diretamente e que seguem as diretrizes das suas casas-mãe, como também pelos resseguradores que dão proteção e capacidade aos seguradores nacionais e que repercutem nos seus preços estes aumento impactando o pricing final”, comenta o executivo, sublinhando que, porém, historicamente Portugal tem sido um país com bons resultados.
Quanto às responsabilidades, Portugal não é considerado um país com um nível de litigância como os Estados Unidos;
António Morna recorda a tragédia dos incêndios em 2017 e o furacão Leslie em 2018 e aponta duas realidades distintas em Portugal: “Nos riscos de menor dimensão e exposição, a pressão sobre os preços será menor. Os seguradores no nosso país conseguem fazer uma gestão menos dependente dos mercados internacionais. Nos riscos de maior complexidade, que exigem mais capacidade ou limites de indemnização superiores, a exposição a mercados internacionais é muito grande e consequentemente, são mais afetados pela tendência de aumentos que temos vivido de uma forma global”, considerou, apontando uma exceção quanto aos riscos cibernéticos.