Preço da carne de frango poderá aumentar 45% com revisão de norma da UE. Associação alerta para “fim da produção europeia”

A Comissão Europeia comprometeu-se este ano a rever toda a legislação de bem-estar animal, e tem estado a desenvolver trabalhos para fazer uma proposta. Pelo caminho pediu e recebeu pareceres e tem estado, nos últimos meses a ouvir as várias associações e representantes envolvidos, especialmente no que respeita à produção de carne.

A discussão da ‘Normativa Europeia Reguladora do Modelo de Produção de Carne’ tem estado envolta em polémica.

Uma das propostas apresentadas prevê o fim das jaulas na produção da carne de frango, coelho e porco. Em Portugal, tal medida não teria especial impacto no que respeita à carne de frango, já que, segundo indica à Executive Digest Pedro Ribeiro, secretário-geral da Associação Nacional dos Centros de Abate e Industrias Transformadoras de Carne de Aves (Ancave), “no que chamamos a produção industrial, dita comercial, já não são utilizadas jaulas há muitos anos” em território nacional.

“A apresentação da proposta foi objeto de vários estudos e pareceres, até a produção se pronunciou sobre isso, e havia de tudo nas propostas: proibição de tudo, quem defendesse que não devia não mudar nada, os dois extremos. Esses estudos teriam de dar origem a uma proposta de diretiva, que devia ter saído no terceiro trimestre deste ano, e não saiu”, explica o responsável.

Um dos estudos, pedido pela Comissão à Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), estabelece uma série de limites, como o de limitar a 11/kg por metro quadrado a quantidade de animais nas explorações de aves.

“É uma proposta absurda, só esse número. Basta considerar esse número: é 4 vezes menor do que o normal verificado na Europa e já estamos a ver o que acontece. Isso acabaria completamente com a produção europeia de carne de frango”, considera.

Segundo as contas da associação de produtores europeus do setor, entregues ao comissário responsável no mês passado, com a aplicação de tal medida, a autossuficiência comunitária de carnes, que é de 110%, sendo que “somos exportadores líquidos para o resto do mundo”, passaria a ser de 34%. “Isso iria aumentar o preço em cerca de 45%, e era impossível, a Europa deixaria de ter condições de concorrência com o resto do mundo”, indica à Executive Digest o secretário-geral da Ancave.

“E como não consegue impor condições às importações, o ridículo e a hipocrisia dessas medidas de proteção de bem-estar animal está no facto de que a única coisa que iriam fazer era acabar com a produção na Europa, porque iríamos comer animais, criados nas condições atuais, vindos de outras partes do mundo sem cumprirem as regras a que nós estaríamos sujeitos”, continua o responsável.

Pedro Ribeiro explica que o consumo de carne de aves tem estado a aumentar. “Todas as perspetivas dizem que vai continuar a crescer, e é a única carne em que isso se verifica, nas outras há uma tendência de estagnação ou descida. Não acredito que o bom-senso seja tão pouco que a Comissão Europeia avançasse com uma medida dessas”, sustenta

“No encontro que tivemos com o comissário europeu, ele disse-nos claramente que era contra proibições, que a doutrina e filosofia que tem é levar à melhoria das condições de produção através de incentivos positivos, e não de proibições. Contra isso, não temos nada. Defendemos que deve haver escolha do consumidor, e sistemas de produção de diversas características, com os produtos devidamente rotulados, cada um com os seus preços e produzidos em determinadas condições. E o consumidor escolherá. Se as pessoas deixarem de comprar carne produzida de determinada maneira, seja ela qual for, mais tarde ou mais cedo essa forma de produção deixará de existir, porque não tem mercado. Somos a favor da escolha”, termina o secretário-geral da Ancave.

O desacordo em várias das propostas e pareceres, será, segundo o responsável um dos motivos que pode explicar o ‘atraso’ da Comissão Europeia em apresentar a proposta efetiva, que ainda teria de ser discutida e devidamente aprovada.

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