Potencial pandémico: Estirpe do vírus da gripe aviária com capacidade de transmissão através do ar, indica estudo

Recentes investigações revelaram que uma estirpe do vírus da gripe H5N1 desenvolveu uma capacidade mínima de transmissão aérea. Em março deste ano, os Estados Unidos registaram a primeira deteção da gripe aviária H5N1 altamente patogénica em gado leiteiro, com surtos a alastrarem-se a nove estados até maio. A forma como o vírus se transmite entre o gado ainda não é clara. No entanto, um estudo publicado na revista Nature Communications revelou que uma estirpe semelhante do H5N1, subtipo clade 2.3.4.4b, que causou um surto em visons criados em cativeiro em 2022, foi capaz de se transmitir pelo ar para um outro pequeno grupo de furões.

Este é o primeiro registo de um vírus do grupo H5N1 clade 2.3.4.4b a demonstrar esta capacidade de transmissão aérea. Os investigadores da Penn State, que lideraram o estudo, indicaram que estas conclusões sugerem uma evolução dos vírus para infetar mamíferos, aumentando potencialmente o risco para os humanos.

“Embora não haja evidências de que a estirpe de H5N1 atualmente a afetar o gado leiteiro seja capaz de transmissão aérea, o nosso estudo sugere que outro membro desta família de vírus evoluiu para ter algum grau de transmissibilidade aérea,” afirmou Troy Sutton, professor associado de ciências veterinárias e biomédicas na Penn State e autor principal do estudo. “Esta descoberta sublinha a importância de uma vigilância contínua para monitorizar a evolução destes vírus e a sua transmissão para outros mamíferos, incluindo humanos”, destaca o responsável pelo estudo.

Para compreender melhor o potencial de transmissão aérea do vírus em mamíferos, os investigadores reconstruíram o vírus utilizando sequências genéticas disponíveis publicamente, uma vez que não conseguiram obter amostras do surto em visons. Avaliaram a capacidade do vírus de se transmitir em furões, cujos tratos respiratórios são mais semelhantes aos humanos na suscetibilidade à infeção viral do que outros organismos modelo, como ratos.

A equipa mediu tanto a transmissão direta do vírus, colocando furões infetados em gaiolas com furões não infetados, quanto a transmissão aérea indireta, colocando furões infetados e não infetados em gaiolas que permitiam a partilha de ar, mas impediam o contacto físico. Para avaliar a gravidade da doença, observaram a perda de peso dos furões e sinais de doença clínica.

Os resultados mostraram que o vírus foi transmitido por contacto direto a 75% dos furões expostos e por gotículas respiratórias a 37,5% dos furões expostos após cerca de nove dias. Foi também descoberto que o vírus tinha uma dose infeciosa baixa, o que significa que pequenas quantidades do vírus eram suficientes para causar infeção.

Sutton destacou que a estirpe do vírus dos visons continha uma mutação chamada PB2 T271A. Para testar a influência desta mutação na transmissão viral e na gravidade da doença, a equipa criou uma versão do vírus sem esta mutação e verificou que a mortalidade e a transmissão aérea nos furões infetados com esta versão foram reduzidas.

“Estas descobertas sugerem que a mutação PB2 T271A aumenta a replicação viral, contribuindo para a virulência e transmissão nos furões,” explicou Sutton. “Compreender o papel desta mutação permite-nos monitorizá-la ou identificar mutações semelhantes nas estirpes de H5N1 atualmente em circulação.”

Sutton acrescenta que os furões utilizados nos estudos não tinham imunidade pré-existente à gripe, ao contrário da maioria dos humanos, que já foram expostos aos vírus da gripe sazonal H1N1 e H3N2.

“Esta exposição provavelmente ofereceria algum grau de proteção cruzada contra o H5N1 se os humanos fossem expostos a outra variante do H5N1,” disse. Além disso, é referido que a taxa de transmissão observada no vírus dos visons é inferior à típica dos vírus da gripe pandémica.

“Os vírus da gripe pandémica geralmente transmitem-se pelo ar para 75% a 100% dos contactos dentro de três a cinco dias, enquanto o vírus dos visons que estudamos transmitiu-se para menos de 40% dos contactos após nove dias,” explicou Sutton. “A transmissão observada nos nossos estudos indica um potencial pandémico aumentado em comparação com estirpes de H5N1 previamente caracterizadas; no entanto, o vírus dos visons não exibe os mesmos atributos das estirpes pandémicas. A estirpe de H5N1 que afeta o gado também não causou doença grave em gado ou humanos, mas quanto mais tempo o vírus circular e quanto mais exposição os humanos tiverem a ele, maiores serão as hipóteses de ele evoluir para infetar humanos”, conclui.

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