Portugueses estão satisfeitos com a democracia? E que opinião têm dos políticos? Eis o retrato que os cidadãos fazem da política

Portugal caminha a passos largos para novas eleições legislativas para definir a composição da Assembleia da República: a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulgou um estudo sobre a evolução das eleições em Portugal, assim como qual a perceção da população residente em Portugal sobre a política nacional.

Entre as principais conclusões do estudo estão:

– em conjunto, PS e PSD representam, desde 1987, mais de dois terços do total dos votos válidos;

– desde o 25 de Abril, o PS formou governo nove vezes, e cinco destes Governos dirigiram o país nas últimas duas décadas;

– em cinco décadas, apenas seis Governos concluíram o seu mandato;
– desde 2015, pelo menos um terço dos deputados na Assembleia da República são mulheres.

No entanto, a atenção concentrou-se na perceção da população residente em Portugal sobre a política nacional, que traçou um quadro negro da população para com a classe política.

E o que dizem os números? De acordo com dados do Eurobarómetro, em 2023:

– 8 em cada 10 inquiridos em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos. Esta é, aliás, uma tendência em 19 dos 27 países da UE, em que mais de 70% das pessoas tendem a não confiar nos partidos políticos (a média da UE é 77%). E em todos os países, com exceção da Dinamarca, que registou um empate, é maior a proporção de pessoas que não confiam do que as que confiam;

– 62% dos cidadãos em Portugal tendem a não confiar na Assembleia da República, valor acima da média europeia (56%). Em 19 países, mais de metade dos inquiridos tendem a não confiar no Parlamento nacional. Só nos países nórdicos e no Luxemburgo é que mais de 60% dos inquiridos mostraram confiança;
– Portugal está entre os nove países da UE em que mais de metade (53%) dos inquiridos tendem a não confiar no sistema de justiça, valor 9 pontos percentuais (p.p.) acima da média europeia (44%);
– Por último, mais de metade dos inquiridos (54%) em Portugal tendem a confiar na União Europeia (face a 47% da média europeia).

Vamos por partes:

Mais de metade dos inquiridos em Portugal afirmaram-se satisfeitos com a democracia nacional (56% vs. 55% da média europeia), embora 43% não tenham escondido a sua insatisfação.

Em 11 países da União Europeia, a maioria dos cidadãos manifestaram insatisfação com a democracia dos seus países, sendo os gregos e os búlgaros os mais insatisfeitos (acima de 60%). Em contrapartida, nos países nórdicos, Luxemburgo e Irlanda, mais de 80% dos inquiridos dizem-se satisfeitos com a forma como a democracia funciona nos seus países.

Segundo os dados do ‘European Social Survey’, Portugal está entre os quatro países cujos cidadãos menos confiam na sua capacidade de participar na política (83%), depois da Eslováquia (84%) e ao lado da Letónia e Rep. Checa (83%). Só na Suíça, Islândia, Áustria e Noruega é que mais de metade dos cidadãos confiam na sua capacidade de participação.

Já 73% dos cidadãos em Portugal consideram que o sistema político nacional não permite, ou permite pouco, a influência das pessoas na política, uma perceção partilhada por mais de metade dos países analisados, com exceção da Noruega, Suíça, Finlândia, Islândia e dos Países Baixos, onde se considera que os sistemas políticos permitem às pessoas algum grau de influência na política.

Atendendo às diferentes formas de participação política em Portugal, destaca-se que, nos últimos 12 meses:

· 15% das pessoas referem ter contactado um político. Este valor foi 27% na Islândia e 24% no Chipre;
· 12% publicou ou partilhou na internet algum conteúdo sobre política. Portugal é o 4º país que menos recorre a esta forma de participação;
· 12% assinou uma petição;
· 5% boicotou algum produto por razões políticas. Apenas os húngaros e os búlgaros usaram menos o boicote;
· 4% participou (incluindo através de doações) nas atividades de um partido político ou grupo de interesse, onde se incluem sindicatos e confederações patronais, associações profissionais, associações ambientalistas, entre outros. Apenas em seis países mais de 10% dos inquiridos referem esta forma de participação política, com destaque para 17% entre os noruegueses.

Em contrapartida, os portugueses e os italianos são os europeus que mais tempo passam a ver, ouvir ou ler notícias sobre política ou a atualidade: mais de 2 horas por dia.

E no que diz respeito ao posicionamento político, qual é a ‘fotografia’ portuguesa?

De acordo com a Pordata, quase 4 em cada 10 pessoas em Portugal (38%) manifesta muito ou algum interesse pela política. Em apenas nove dos 31 países inquiridos no âmbito do ‘European Social Survey’, mais de metade das pessoas afirmam o seu interesse pela política, destacando-se os holandeses (69%), os austríacos (66%) e os cidadãos do Reino Unido (63%).

De acordo com os dados do Eurobarómetro, 32% das pessoas em Portugal nunca falam sobre política com amigos ou familiares, e apenas 10% referem discutir política frequentemente (a média europeia é de 25%).

No espetro esquerda-direita, 31% dos portugueses afirmam posicionar-se ao centro, 28% mais à esquerda e 19% mais à direita.

Em média, na UE, 38% das pessoas dizem posicionar-se ao centro, 28% mais à esquerda e 23% mais à direita. Destacam-se, contudo, os 16% de inquiridos portugueses que não sabem responder a esta questão e os 6% que recusaram fazê-lo.

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