Portugueses endividam-se quatro vezes mais face a 2015: despesas com saúde e educação obrigam ao crédito

Para fazer face às despesas de saúde, educação e energias renováveis, os portugueses utilizam cada vez o crédito bancário: em 2023, garantiu o ‘Diário de Notícias’, foram concedidos 140,9 milhões de euros, de acordo com dados do Banco de Portugal, quatro vezes mais (332%) do que o período homólogo de 2015, o último ano da governação social-democrata.

Para a Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), os seus 28 associados foram responsáveis por conceder 125 milhões de euros nestas categorias, o correspondente a 89% daquele montante: segundo o secretário-geral Duarte Pereira Gomes, na variação observada, pesaram preferencialmente os segmentos da saúde e das energias renováveis, sendo que os empréstimos para a educação se mantiveram estáveis.

De acordo com a Pordata, entre 2015 e 2021, a despesa total dos portugueses com bens e serviços de saúde aumentaram perto de 37%, para 8,4 mil milhões de euros. Pedro Pita Barros, especialista em Economia da Saúde, explicou que a procura por empréstimos desta natureza será provavelmente decorrente do elevado valor de pagamentos diretos – “uma realidade com estabilidade na última década”. Parte significativa dessas transações destinam-se a prestadores privados, sem haver cobertura de seguro, e têm como principal destino cuidados em ambulatório, onde se inserem consultas e exames (38%), comparticipação em medicamentos prescritos (24%) e recurso a hospitais (15%).

Para Nuno Rico, especialista em assuntos financeiros da Deco PROTeste, o aumento do custo de vida terá contribuído igualmente para esta evolução, com os consumidores ‘obrigados’ a recorrer ao financiamento face a custos inesperados. O “maior recurso a tratamentos fora do SNS, através de entidades privadas, fruto dos problemas que têm vindo a ocorrer neste serviço público”, foi apontada como principal justificação.

Sobre o endividamento dos portugueses, o secretário-geral da ASFAC indicou que o número pode ser maior, uma vez que também os empréstimos pessoais clássicos (que não beneficiam de taxas de juro especiais) e os cartões de crédito têm disparado – segundo o BdP, os acréscimos, entre 2015 e 2023, foram de 50%, para 3,32 mil milhões, e de 29%, para 1,31 mil milhões de euros, respetivamente.