Portugal pode ser afetado pelas ações da Rússia “daqui a dois, três anos de forma gravíssima”, avisa almirante Gouveia e Melo

O chefe de Estado-Maior da Armada considera que Portugal pode ser afetado pelas ações da Rússia “daqui a dois, três anos, de forma gravíssima”: em entrevista à ‘SIC Notícias’, o almirante Gouveia e Melo lembra que Portugal tem uma localização geográfica, com uma grande orla costeira voltada para o Atlântico, que é um fator de risco.

“Só no ano passado fizemos mais de 40 ações de seguimento de navios russos nas nossas águas”, refere. “Se houver um conflito na Europa, estamos tão envolvidos como a Europa de Leste ou como a Europa central nesse conflito.”

Por isso, a prevenção é essencial. “Prefiro estar prevenido, prefiro discutir os temas, preparar-me. Mesmo que depois, se calhar, a decisão seja ‘não temos capacidade para fazer isto, não vamos fazer’, mas pelo menos discutimos, não nos escondemos, não evitamos a discussão”, indica.

De acordo com o almirante, os jovens devem ser incentivados a integrar as Forças Armadas, sem contudo defender o regresso do serviço militar obrigatório. “É uma pescadinha de rabo na boca: se a sociedade acha que a Defesa não é uma preocupação, isso reflete-se no poder político. Se o poder político, por outro lado, não considerar que a Defesa é uma preocupação e que deve explicar isso à sociedade, também alimenta um certo autismo dessa sociedade.”

Mas não são só os recursos humanos o problema: o financiamento também é. “Os países ocidentais, na maioria, estão a chegar à conclusão, perante este conflito na Ucrânia, que têm de gastar entre 2 a 3% do orçamento”, aponta, lamentando que em Portugal haja uma reação negativa sempre que se discute um eventual aumento do orçamento da Defesa.

“Não há militarismo nenhum, são os outros que nos estão a impor que nós nos defendamos, são os outros que são os agressores, nós estamos só a tentar reagir”, avança. “É preciso que o outro lado perceba que não vai ganhar nada confrontando-nos. Há uma fórmula, muito usada nos meios militares, que é ‘o poder relativo das capacidades’. Muitas vezes não é só ter capacidade, tem que haver capacidade e vontade, e a vontade está nas populações, no sistema político.”

Por último, segundo o almirante Gouveia e Melo, se o conflito alastrar à Europa, “em termos de capacidade, a Europa Ocidental, sem os Estados Unidos, é muito superior à Federação Russa, mas a Rússia tem tido mais vontade do que a Europa”. “O agressor, normalmente, tem muito mais vontade do que quem se defende”, finaliza.

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