“Portugal fortaleceu o nosso negócio à escala europeia”, sublinha CEO da Nickel

A Nickel tem crescido de forma consistente em Portugal, alcançando mais de 460 pontos de venda em estabelecimentos de comércio local. Em entrevista à Risco, João Guerra, CEO da Nickel, faz o balanço da actividade no País e revela os planos para 2024.

Qual o balanço que fazem de um ano de actividade em Portugal?
No primeiro ano de presença em Portugal, a Nickel cresceu de forma consistente, alcançando mais de 460 pontos de venda em estabelecimentos de comércio local. De momento, dispomos da terceira maior rede de pontos de acesso a serviços financeiros essenciais no país, o que reflecte uma aceitação muito positiva dos nossos serviços por parte dos portugueses. Neste período inicial de crescimento no mercado, procurámos não só ter uma expansão significativa a nível territorial, de modo a angariar pontos de venda em mais regiões e diversificar a nossa cobertura, mas também aprender sobre os hábitos financeiros da população portuguesa e conhecer as suas necessidades. Com este objectivo, realizámos um estudo em parceria com a agência independente DATA E, que nos revelou, por exemplo, que ainda existe um considerável desconhecimento dos portugueses relativamente aos novos modelos financeiros que estão a entrar na banca nacional, como é o caso da Nickel. No entanto, há também, transversalmente, um crescente interesse em trabalhar com instituições financeiras digitais no futuro, que foi declarado por 73% dos portugueses abrangidos pelo estudo, o que sugere que serviços como os nossos, que trazem inovação à banca, são valorizados pela nossa sociedade. 

Qual a importância do mercado português para a Nickel?
O que nos destaca de outras fintechs em crescimento é a nossa adaptação a todos os mercados nacionais em que entramos. A Nickel é originalmente francesa, mas as equipas criadas nos outros países onde estamos (Portugal, Espanha, Bélgica e Alemanha) são totalmente locais. A lógica é sempre alavancar a nossa proposta de valor com o que o país em si tem para oferecer, por isso conseguimos crescer, sobretudo, porque queremos ser uma instituição que está perto dos seus clientes em todos os níveis. Portugal tem sido um caso de sucesso que contribui para fortalecer o nosso negócio à escala europeia por esta razão. Num panorama comparativo de mercados, por exemplo, com a Bélgica, onde a Nickel foi lançada no mesmo período que em Portugal, e que tem à partida uma relação cultural mais estreita com as origens da instituição, o nosso crescimento é comparativamente mais significativo.
Por outro lado, sentimos que o nosso serviço, simples e universal, se enquadra nas necessidades da realidade financeira observada em Portugal. Ainda há um número significativo de portugueses que não estão bancarizados, e a relação dos mesmos com a banca tradicional regista crescentes pain points, desde o fenómeno de encerramento de balcões, que está a criar um afastamento físico dos serviços financeiros à população em algumas regiões, até ao descontentamento generalizado que é sentido com os custos destes serviços. Numa perspectiva geral, também conseguimos perceber que a falta de mais players digitais, que apresentam novos modelos financeiros aos clientes portugueses, faz com que estes tenham uma maior predisposição para aderir às novas soluções que vão permeando o sector bancário nacional. 

Qual o vosso público-alvo?
Um dos valores centrais do nosso serviço é a universalidade, sendo que qualquer pessoa pode abrir conta na Nickel e desfrutar da realização de operações financeiras com mais flexibilidade. Disponibilizamos uma solução de pagamento com um processo de adesão simples, com um preço justo, que oferece o mesmo produto independentemente dos rendimentos e origem do cliente, sem montante mínimo de abertura, sem burocracias, e de grande acessibilidade, considerando a capilaridade e natureza dos nossos pontos de venda físicos. Assim sendo, não consideramos que temos um público-alvo propriamente definido, mas sabemos que conseguimos adicionar valor a vários segmentos de clientes, já que oferecemos um produto que se caracteriza pela simplicidade e transparência. Para os jovens, destacamo-nos na vertente da solução digital que oferecemos, sendo que há uma procura crescente nesta faixa de clientes de obter informações sobre o que acontece com o seu dinheiro, de forma mais acessível e directa. Já os segmentos mais seniores conseguem obter mais liberdade na realização dos seus afazeres financeiros através do nosso modelo de negócio híbrido, ao poderem contar com lojas de comércio local presentes nas suas comunidades, que dispõem do nosso serviço, onde podem ir com mais frequência do que aos bancos, que têm reduzido os seus balcões de contacto com os clientes. 

No entanto, de forma mais concreta, durante este primeiro ano conseguimos descobrir alguns dados importantes sobre a maioria dos nossos clientes portugueses: 65% são homens, embora em tendência decrescente, e 59% encontram-se entre os 24 e 44 anos. Este retrato inicial vai ao encontro do segmento que tipicamente adere a serviços financeiros digitais como o nosso, mas temos confiança de que vamos também continuar a crescer significativamente noutros segmentos, diversificando os nossos clientes nacionais. Ainda assim, outro aspecto importante é que 35% dos clientes Nickel residem fora das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Este facto prova não só a importância e a adesão ao lado físico do nosso serviço através dos pontos de venda, mas também o nosso esforço de aproximação às populações e localidades onde a banca tradicional está a encerrar cada vez mais pontos de contacto. Conseguimos também saber que 70% dos nossos clientes já utilizam o nosso serviço como conta principal, sendo que 76% das operações realizadas pelos mesmos são pagamentos do quotidiano. 

Que produtos/serviços oferecem? Há novidades para 2024?
Neste momento, o nosso produto principal é uma conta de pagamento. As pessoas podem abrir as contas nos nossos canais digitais, ou nos pontos de venda perto das suas residências, apenas com um documento de identificação, um número de telemóvel e o pagamento de 20,80 euros de comissão anual de manutenção – valor que está inalterado desde a origem da Nickel em França, há 9 anos. A partir do momento em que abrem e activam a sua conta (IBAN português), os clientes têm logo disponível também um cartão de débito, pronto para a realização de movimentos financeiros.
A esta oferta simples e universal, que está presente tanto online, como nos nossos pontos físicos, temos acrescentado outras funcionalidades, que não só seguem a lógica de corresponder às necessidades dos portugueses, como também algumas novidades mais disruptivas que contribuem para uma maior inclusão financeira e social da população. Neste sentido, e para além de alguns detalhes que facilitam a utilização dos nossos serviços por pessoas com deficiências visuais ou auditivas, fomos, por exemplo, a primeira instituição a lançar a opção “True Name” no país, em parceria com a Mastercard. Esta é uma funcionalidade que permite às pessoas trans e não binárias a opção de colocarem o nome, com que verdadeiramente se identificam, nos cartões de débito personalizados My Nickel, sem terem de mudar de nome legalmente. 

No contexto da celebração de um ano de presença em Portugal, e até ao final do ano, continuaremos a lançar um conjunto de novos produtos e serviços, nomeadamente, as transferências digitais imediatas, a possibilidade de carregamento automático da conta Nickel recorrendo a outro cartão, também conhecido como top-up by card, os pagamentos móveis Apple Pay, via iPhone ou Apple Watch, através da integração com a Apple Wallet, e a selecção de novas cores que podem ser escolhidas pelos clientes para os seus cartões personalizados My Nickel.
Para 2024, ambicionamos trazer mais inovações, mantendo o ritmo que criamos durante este ano. Temos planos para reforçar os pagamentos móveis e lançar alguns novos produtos, assegurando sempre que tenham uma lógica de simplicidade, utilidade e acessibilidade a todos. Já há várias novidades em carteira, mas ainda não as podemos desvendar. 

E a vossa ambição para o mercado português? Ter uma rede de 2500 pontos de venda?
Os 2500 pontos de venda são, de facto, o nosso objectivo nos próximos 5 anos, porque consideramos que os nossos agentes físicos são a aposta que devemos fazer para estarmos mais próximos e chegar a mais portugueses. De momento, já estamos presentes em 16 dos 18 distritos de Portugal continental, e continuamos a investir nesta expansão em território nacional. Muitos dos nossos pontos estão em zonas litorais, onde existe uma maior concentração populacional, no entanto, estamos também já presentes nas regiões do interior do país, e vamos continuar a reforçar essa presença, conscientes de que estas são as mais afectadas pela tendência de fecho de balcões na banca tradicional, podendo beneficiar da nossa capacidade de dispersão geográfica. 

Como é feita a selecção dos pontos de venda?
Existem duas formas de iniciar este processo. Uma delas passa pela prospeção das nossas equipas de terreno e a outra passa por uma demonstração de intenções, que é essencialmente o preenchimento de um formulário no nosso website (https://nickel.eu/pt-pt/torne-se-agente-nickel).
Em termos do processo de aprovação do agente, uma vez concluído o processo de due dilligence e de preparação da documentação necessária do potencial agente, a respectiva aprovação e validação fica a cargo da Autorité de Contrôle Prudentiel et de Supervisión (a autoridade supervisora francesa do Banque de France, “ACPR”) e do Banco de Portugal. 

Quais os principais factores de diferenciação da Nickel? A proximidade e confiança?
A ideia por detrás de ter um modelo de negócio híbrido com presença em estabelecimentos de comércio local serve, exactamente, o propósito de estarmos mais perto das pessoas que utilizam os nossos serviços. Ao estarmos em espaços que são parte do dia-a-dia das comunidades, nos quais as pessoas podem também passar a realizar os seus afazeres financeiros via agentes com quem já têm, muitas vezes, uma relação de confiança, estamos a aproximar os serviços financeiros da população, o que acaba por ser um factor crucial no fomentar da prosperidade económica do nosso país. Queremos também ter este papel desmistificador do sector financeiro, ao fornecer aos nossos clientes informação detalhada e directa sobre o que fazem com o seu dinheiro, por exemplo, através da disponibilização de um preçário mais simples. Além disso, o nosso modelo híbrido de funcionamento acaba, igualmente, por trazer mais dinamismo ao comércio local, revitalizando o negócio de espaços que passam a dispor de uma oferta mais diversificada para os seus clientes.
Numa perspectiva mais geral, o que nos distingue é que somos uma conta para todos, uma instituição financeira de pagamentos com serviços que primam pela sua acessibilidade, utilidade, simplicidade, transparência, oferecendo o melhor de dois mundos: a facilidade do digital e a flexibilidade de atendimento físico e, por fim, com um propósito muito claro de criar um impacto positivo na sociedade, nomeadamente em termos de inclusão financeira e social das populações. 

Qual a importância da inovação para o vosso negócio?
A inovação é um dos marcos principais do nosso ADN. A Nickel foi criada para transformar a forma como as pessoas se relacionam com os serviços financeiros tradicionais. Deste modo, consideramos que a inovação só vale a pena se for útil para todos, pelo que os produtos e serviços que criamos para os nossos clientes seguem este valor. Foi, efectivamente, graças a esta filosofia que fomos reconhecidos nos World Digital Bank Awards 2023, organizados pelo The Digital Banker, com as distinções de “Most Innovative Digital Banking Business Model” e “Most Improved Digital Bank in Europe”. 

Onde estão presentes a nível mundial?
A Nickel cada vez mais se assume como um modelo financeiro europeu. Já estamos presentes em 5 países distintos do continente europeu: França, Espanha, Bélgica, Portugal e, mais recentemente, Alemanha. 

Como é a relação entre BNP e a Nickel?
A Nickel e o BNP Paribas complementam-se perfeitamente. Cada instituição tem os seus objectivos e características próprias, mas tendo o grupo uma forte estratégia, quer em termos de serviço ao cliente como de políticas “ESG”, a Nickel desempenha, neste contexto, um papel estratégico ao oferecer a todos os consumidores a possibilidade de terem uma conta de pagamento sem requisitos mínimos, com uma rede de lojas de comércio local treinadas para fornecer esse serviço com total segurança, sempre com um total foco na experiência do cliente e com a inclusão financeira e social no seu ADN. Dentro do grupo, a Nickel é a solução mais simples de todas e convive com o melhor de dois mundos: mantém a sua agilidade pela sua independência orçamental e estratégica, ao mesmo tempo que beneficia das funções exemplares do BNP Paribas em termos de segurança (TI em particular), compliance e gestão do risco. 

Qual a importância das fintech para o mercado financeiro?
Há, por vezes, a ideia incorrecta de que a banca tradicional não consegue coexistir com novas soluções financeiras, e que uns serviços acabam por anular outros. Consideramos que esta não é a realidade, e que as fintechs existem de forma complementar às entidades financeiras tradicionais já estabelecidas, diversificando a oferta do sector financeiro em si. Pela natureza dos negócios mais concentrados que as
fintech desenvolvem, estas têm também mais abertura para apostar na inovação das soluções, que depois podem ser incorporadas e aproveitadas por players mais tradicionais. O cenário ideal seria fomentar a entrada destes novos players e uma maior concorrência e interacção entre os vários agentes do sector, que permitisse conjugar visões de negócio, sempre em prol do benefício do consumidor final. 

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