Portugal está mais ‘concentrado’ no litoral: apenas 36% dos concelhos viram a população crescer em 10 anos

Entre 2013 e 2023, a população portuguesa aumentou em pouco mais de 123 mil pessoas, um crescimento de 1,87%, segundo dados divulgados pelo Instituo Nacional de Estatística: de acordo com o ‘Jornal de Negócios’, só em pouco mais de um terço dos concelhos (110, 36%) é que houve um aumento do residentes – dentro destes, uma dúzia registou um crescimento inferior a 1%.

A maioria dos territórios que registaram este aumento localiza-se no litoral, sendo que as autarquias que perderam mais população estão predominantemente no interior – Nisa, por exemplo, perdeu quase um quinto da população na última década.

“Estes dados, que são estimativas, confirmam o que o Censos de 2021 já demonstrava. São muito poucos os municípios de baixa densidade que ganham população. É bom lembrarmos que metade dos concelhos do país tiveram os máximos populacionais antes de 1960”, refere Jorge Malheiros, docente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.

Maria João Valente Rosa, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, frisa o “evidente padrão de litoralização do país, em especial em torno de Lisboa e do Algarve, e também algum reforço da concentração da população junto aos centros urbanos”.

Lisboa e Porto voltaram a ganhar habitantes, uma inversão da tendência recente em que a população migrou para os concelhos das respetivas áreas metropolitanas. “A área metropolitana de Lisboa está a expandir-se demograficamente para norte, por via da localização de população neste espaço, entrando pela região Oeste”, aponta Jorge Malheiros. “O que significa que temos quer uma cidade de Lisboa e provavelmente uma cidade do Porto mais elitistas e, portanto, com menos residentes das classes média baixa e baixa e muitas vezes média e média alta nacionais que têm dificuldade de aceder a este espaço.”

“É claro que o preço das habitações é um fator muito importante a considerar, muito associado à disponibilidade da oferta para habitação. O alojamento local, a ocupação de edifícios por empresas, por serviços de vários tipos (como, por exemplo, de oferta turística ou públicos e de apoio administrativo) etc… diminuiu a oferta de habitação disponível o que também impacta nos preços. Por isso, muitas pessoas acabam por só conseguir encontrar residência fora desses centros”, indica Maria João Valente Rosa.

É no litoral alentejano que se encontra o município que mais viu a população crescer, em termos relativos. Odemira passou de pouco menos de 26 mil habitantes para mais de 33 mil, o que corresponde a uma subida de 27,85%. “Nesta década, em Odemira o número de óbitos foi sempre superior ao de nascimentos, o que significa que pela via ‘natural’ a população não poderia aumentar. Contudo, em termos migratórios, entraram mais do que saíram em Odemira cerca de 9 mil pessoas, o que para um município que conta atualmente com cerca de 32,5 mil residentes, representa bastante. Odemira é atualmente, aliás, um dos municípios do país com maior percentagem de cidadãos de nacionalidade estrangeira na sua população residente”, refere Maria João Valente Rosa.

“A instalação de uma estratégia muito forte de agricultura assente em estufas com uma componente de mão de obra intensiva gerou uma atração muito elevada de população para os trabalhos agrícolas que não podiam ser satisfeitos internamente”, justifica Jorge Malheiros.

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