Porque Elon Musk e Warren Buffett trocam farpas há dois anos?

Elon Musk afirmou recentemente ao The New York Times que não era “o maior fã” de Buffett e que o líder da Berkshire tinha “um tipo de trabalho chato” e podia não ser a figura do “avô gentil”. Warren Buffett, por sua vez, decidiu dar conselhos ao fundador da Tesla. “Moat”, ou fosso cavado em volta de castelos na Idade Média para impedir invasões, foi a metáfora usada por Buffett para definir quais os negócios que têm sucesso: são aqueles que criam uma fortificação quase medieval contra os seus concorrentes. “Os produtos e serviços que têm vastos e sustentáveis fossos em volta deles são os que trazem recompensas aos seus investidores”.

Musk respondeu refutando a filosofia de Buffett no mundo dos negócios. “Eu acho que fossos são tão ultrapassados”, constatou. “Se sua única defesa contra exércitos invasores é um fosso, você não irá durar muito. O que importa é o ritmo da inovação – esse é o ponto fundamental contra a concorrência.

Como tudo começou

Farpas à parte, certo é que a fortuna de Musk bateu a de Buffett. Recentemente, Elon Musk viu o seu património aumentar mais de seis mil milhões de dólares (5,28 mil milhões de euros) para 70,5 mil milhões de dólares (62,04 mil milhões de euros), depois da empresa ter visto as ações atingir o valor mais elevado de sempre. Além de Buffet, Musk ultrapassou também Larry Ellison, cofundador e diretor executivo da empresa de tecnologia e informática Oracle e Sergey Brin, presidente da Alphabet e cofundador da Google, que tinha também já superado o “Oráculo de Omaha”, segundo o índice compilado pela Bloomberg.

Musk detém cerca de um quinto das ações da Tesla, que correspondem à maior fatia da sua riqueza atual, sendo o resto maioritariamente composto pela participação na SpaceX. Os títulos da fabricante de carros elétricos já subiram 269% este ano, tendência que se está a manter. Em 2019, Warren Buffett, numa entrevista ao Yahoo Finance, numa espécie de conselho a Elon Musk, presidente da Tesla, disse não entender a necessidade que Musk tem em comunicar no Twitter. O seu comportamento como presidente da Tesla, realçou o multimilionário, tem ainda “espaço para melhorar”. “É um tipo extraordinário. Mas não percebo a necessidade de comunicar”, declarou o presidente da Berkshire Hathaway sobre o comportamento de Elon Musk.

E até comparou a sua presença nas redes sociais com a de Musk, dizendo que ele só tem conta aberta porque uma amiga lhe pediu em tempos. Aos 89 anos, Buffett admitiu que o presidente da Tesla tem espaço para melhorar, mas acrescentou o Musk provavelmente diria o mesmo dele. Antes disso, em 2018, o dono das empresas SpaceX e Tesla declarou na sua conta pessoal do Twitter que ia abrir uma empresa de doces. O próprio Musk chegou a sugerir que o nome do novo negócio seria “Criptocandy”, perguntando ainda aos seus seguidores o que eles desejam em um doce. No entanto, não passou de uma resposta de Musk aos comentários de Warren Buffett (dono da See’s Candies), que tinha criticado o empresário sobre os resultados financeiros da Tesla.

A Berkshire Hathaway de Warren Buffett, que é dona de empresas como a Heinz and Geico, adquiriu a See’s Candies em 1972. A See’s, que tem mais de 200 lojas espalhadas pelos Estados Unidos, funciona como um forte fosso económico e torna difícil ou quase impossível a competição, principalmente na costa oeste do país. “Existem ótimos fossos económicos por aí. As pessoas devem certamente concentrar-se em melhorar o seu próprio fosso e defender o seu fosso durante o tempo todo. E o Elon pode virar as coisas ao contrário em algumas áreas. Mas eu acho que ele nunca quereria competir connosco nos doces, afirmou.

Self made man

Buffett é um self made man. Aos dez anos já distribuía jornais e vendia pastilhas elásticas. Aos 13, vendeu a bicicleta por 35 dólares e comprou os primeiros títulos nos mercados financeiros. Aos 15, em sociedade com um amigo, comprou uma máquina de flippers e instalou-a numa barbearia. Com o lucro obtido, comprou mais máquinas e montou-as noutros estabelecimentos comerciais. Quando chegou a altura de ir para a Universidade, aos 20, não teve dúvidas sobre o curso que ia escolher: inscreveu-se em Economia na Universidade de Columbia para ter como professor o famoso analista Benjamin Graham.

Depois de ter concluído a licenciatura expandiu os negócios, identificou boas oportunidades e fugiu das apostas arriscadas. Aos 32 anos comprou a Berkshire Hathaway, na altura dedicada apenas ao setor têxtil, e investiu uma grande fatia dos lucros em títulos de empresas. As da Coca-Cola acabaram por ser o melhor investimento da sua vida: valorizaram 800 por cento em duas décadas. Apesar do dinheiro conquistado sempre fez contas à vida. Em 1957 comprou um apartamento com cinco quartos, por 31,5 mil dólares, cerca de 27 mil euros, em Omaha, no estado americano do Nebrasca. Ainda hoje é a sua residência.

O empreendedor é um sul-africano naturalizado americano que conseguiu fazer milhões de dólares a investir no futuro. Começou com a maior empresa de pagamento ‘online’, o PayPal, e investiu na exploração do espaço com a SpaceX. Esta empresa está a desenvolver um plano com a NASA para colocar o homem em Marte até 2025. “O futuro da humanidade estará bifurcado em duas direções: ou vai ser multiplanetária ou estará confinada a um planeta e eventualmente à espera da extinção”, disse. Ao mesmo tempo, apostou nos primeiros carros eléctricos modernos com a Tesla.

Musk foi a inspiração para a adaptação do génio bilionário Tony Stark ao cinema, no filme “Homem de Ferro”. O empresário trabalha cem horas por semana e tem uma ambição invulgar desde muito novo. Aos 12 anos vendeu o seu primeiro videojogo. Cinco anos depois, abandonou a África do Sul – mas, entretanto, já tinha estudado no Canadá, país de naturalidade da mãe – para tentar chegar à fortuna nos EUA. Tinha o “sonho americano”. O sonho, viria a tornar-se realidade, também se pode transformar num pesadelo, avisam os críticos.

 

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