Por que razão as guerras fazem subir os preços? Perturbações nas cadeias de fornecimento e oferta reduzida
Os conflitos armados são, por definição, perturbações na ordem normal das coisas, e, como tal, tudo o que se suporta nessa ordem acaba por sofrer, em maior ou menor grau, com maior ou menor danos. E a economia não é exceção.
As guerras geram interrupções nas cadeias de fornecimento, o que por sua vez leva a quebras na produção e afunda o potencial económico de vários setores. Ainda, as incertezas inerentes a qualquer conflito armado entre países tendem a tornar os investidores mais cautelosos face a um futuro difuso, pelo que os volumes de investimento em diversas áreas acabam por contrair face aos períodos anteriores de paz, e os consumidores preferem poupar e evitar despesas que considerem como sendo não-essenciais.
Também as sanções económicas aplicadas aos países pesam na equação da subida dos preços. Tome-se como exemplo a guerra em curso na Ucrânia. As sanções lançadas pelos países ocidentais que procuram estrangular as fontes de financiamento do esforço de guerra da Rússia levaram muitas empresas a suspender ou encerrar definitivamente as operações no país. Adicionalmente, vários países já expressaram intenção de cessar as importações de gás natural e petróleo russos, o que reduz o leque de fornecedores e, por conseguinte, cria um desequilíbrio entre oferta e procura, com esta última a exceder a capacidade de resposta da primeira, fazendo subir os preços.
Numa economia profundamente integrada e globalizada, um conflito numa parte do mundo lança ondas de choque que atingem os quatro cantos da Terra. E os mercados e, por arrasto, as economias acabam por sentir os efeitos.
Em declarações à ‘Executive Digest’, Henrique Tomé, da corretora XTB, explica que “As guerras têm um forte impacto nas economias locais que estão expostas a estes conflitos, passando pelo facto de os governos gastarem mais com o setor da defesa e com apoios às famílias desalojadas”. O analista acrescenta que também “a destruição das infraestruturas prejudica, tanto a curto como a longo prazo, o desenvolvimento das próprias economias”.
No contexto da atual guerra no Leste da Europa, os preços de matérias-primas como os cereais ou o petróleo têm registado subidas significativas, pois quer a Ucrânia, quer a Rússia são importantes produtores e exportadores destes produtos primários, pelo que o conflito veio causar sérias disrupções às cadeias de fornecimento, reduzindo a oferta e fazendo disparar os preços.
O analista explica ainda que “De modo geral, o ouro tende a valorizar em períodos de maior incerteza /guerra, enquanto os ativos de risco desvalorizam”.