Polémica na Marinha: “Obediência não é cega” e “o tempo do chicote” já era, defendem sargentos e praças
Perante a recente polémica na Marinha, devido à recusa de um grupo de 13 militares do navio Mondego em cumprir missão de acompanhamento de um barco russo, ao largo do Funchal, na Madeira, alegando más condições do navio NRP Mondego, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), Lima Coelho, defende que devem ser debatidos os limites de obediência.
“A obediência não é cega e uma ordem mal dada que possa pôr em risco a vida do militar pode, e vai ser contestada e isto é a consciência que se tem que ter da condição militar”, esclareceu o presidente da ANS, em declarações no Fórum TSF, um dia depois de o chefe do Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, ter reiterado que a disciplina é a “cola essencial” das Forças Armadas.
“O tempo em que o chicote é que determinava e o ‘quero, posso e mando’ é que determinava, é um tempo diferente. Infelizmente, vivemos demasiado esse tempo e infelizmente esse tempo ainda prevalece em algumas mentalidades menos informadas”, salientou Lima Coelho ao notar que “os militares nunca abandonaram um navio, nunca abandonaram os seus camaradas, nunca abandonaram a guarnição”.
O presidente da ANS explicou ainda que alguns dos militares que se recusaram a cumprir a missão e, como consequência, vão ser alvo de processos disciplinares internos, conhecem o navio “desde o dia em que o foram receber, e em que se formaram, na Dinamarca”. “Portanto, se alguém conhece as condições e os mecanismos daquele navio, são alguns destes militares que ali estavam”, frisou.
Na terça-feira, a Marinha ordenou uma inspeção às condições de segurança do navio Mondego para verificar a veracidade das alegações dos militares que incorrem penas disciplinares graves, podendo ir até à privação da liberdade, segundo o Regulamento de Disciplina Militar.