Plano de Trump para a Ucrânia ganha forma: concessões territoriais a Putin e NATO fora de questão para Kiev estão em análise

Os conselheiros de Donald Trump têm vindo a apresentar, tanto pública como privadamente, propostas para colocar um ponto final à guerra na Ucrânia que contemplem cedências de grandes partes do território ucraniano a Moscovo num futuro próximo, avançou esta quarta-feira a agência ‘Reuters’, que analisou as declarações e entrevistas com várias pessoas próximas do presidente eleito dos Estados Unidos.

As propostas de conselheiros-chave – incluindo o novo enviado especial de Trump para a Rússia-Ucrânia, o tenente-general reformado Keith Kellogg – partilham alguns elementos, incluindo retirar da mesa a entrada de Kiev na NATO. Os conselheiros de Trump tentariam forçar Moscovo e Kiev a negociar com incentivos e castigos, incluindo a suspensão da ajuda militar a Kiev, se se recusar a dialogar, mas aumentando a assistência à Ucrânia caso o presidente russo, Vladimir Putin, se recuse.

No seu conjunto, as declarações dos seus conselheiros sugerem os potenciais contornos de um plano de paz de Trump. O recém-eleito presidente americano pode achar que Putin não está disposto a envolver-se, salientaram analistas e antigos funcionários americanos, uma vez que pode ter mais a ganhar ao avançar com novas apropriações de terras. “Putin não tem pressa”, salientou Eugene Rumer, analista no grupo de reflexão ‘Carnegie Endowment for International Peace’.

Ou seja, o líder russo, sublinhou o especialista, não mostra disponibilidade para abandonar as suas condições para uma trégua e negociações, incluindo o abandono da Ucrânia na sua missão na NATO e a rendição das quatro províncias que Putin reivindica como parte da Rússia. Segundo Rumer, Putin aguardará pela altura certa, tomará mais terreno e vai esperar para ver que concessões pode Trump oferecer para o atrair para a mesa das negociações.

De acordo com quatro conselheiros próximos de Trump, o republicano ainda não convocou um grupo de trabalho central para definir um plano de paz: em vez disso, vários conselheiros apresentaram ideias entre si em fóruns públicos e a Trump. Ainda assim, em última análise, um acordo de paz dependerá provavelmente do envolvimento pessoal direto entre Trump, Putin e Zelensky, disseram os conselheiros.

Um ex-oficial de segurança nacional de Trump envolvido na equipa de transição salientou que há três propostas principais: o esboço de Kellogg, uma do vice-presidente eleito JD Vance e outra apresentada por Richard Grenell, ex-chefe interino dos serviços de informação de Trump.

O plano de Kellogg, elaborado em coautoria com o antigo funcionário do Conselho de Segurança Nacional, Fred Fleitz, e apresentado a Trump no início deste ano, apela ao congelamento das atuais linhas de batalha. Trump só forneceria mais armas dos EUA a Zelensky se este concordasse com conversações de paz. Ao mesmo tempo, avisaria Moscovo que aumentaria a ajuda dos EUA à Ucrânia se a Rússia rejeitasse as negociações. A adesão da Ucrânia à NATO seria suspensa. A Ucrânia receberia também garantias de segurança dos EUA, que poderiam incluir o aumento do fornecimento de armas após a conclusão de um acordo.

JD Vance, que enquanto senador dos EUA se opôs à ajuda à Ucrânia, apresentou uma ideia separada em setembro último: um acordo em que provavelmente incluiria uma zona desmilitarizada nas linhas da frente existentes que seria “fortemente fortificada” para evitar novas incursões russas. A sua proposta negaria a adesão à NATO a Kiev.

Por último, Richard Grenell, antigo embaixador de Trump na Alemanha, defendeu a criação de “zonas autónomas” no leste da Ucrânia durante uma mesa redonda da ‘Bloomberg’, em julho último, sem contudo adiantar mais pormenores – sugeriu no entanto que a adesão da Ucrânia à NATO não era do interesse dos Estados Unidos.

Há vários elementos das propostas que provavelmente enfrentariam resistência por parte de Zelensky, que fez do convite à NATO parte do seu próprio “Plano de Vitória”, e de aliados europeus e de alguns políticos americanos, asseguraram analistas e antigos responsáveis ​​​​de segurança nacional.

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