Plano de Trump para a NATO começa a ser revelado: saiba os pontos principais

Donald Trump já deixou a ameaça de abandonar a NATO tantas vezes que a questão, para muitos dos seus críticos, é quando, e não se, vai abandonar a aliança se for reeleito presidente dos Estados Unidos em novembro.

No entanto, de acordo com declarações com ex-oficiais de segurança nacional de Trump, será improvável que abandone a NATO de uma vez: porém, mesmo que não abandone formalmente a organização, isso não significa que a NATO sobreviva intacta a um segundo mandato de Trump.

Em troca da participação contínua dos Estados Unidos, Trump não apenas esperaria que os países europeus aumentassem drasticamente seus gastos – a sua principal reclamação quando era presidente – mas também envolvia uma “reorientação radical” da aliança militar, defende um especialista em defesa familiarizado com o pensamento dentro do círculo consultivo de segurança nacional de Trump. “Na verdade, não temos mais escolha”, aponta Dan Caldwell, citado pelo jornal ‘POLITICO’.

Segundo os especialistas consultados, os Estados Unidos manteriam o seu guarda-chuva nuclear sobre a Europa durante um segundo mandato de Trump, mantendo o seu poder aéreo e bases na Alemanha, Inglaterra e Turquia, assim como as suas forças navais. Ao mesmo tempo, a maior parte da infantaria, blindados, logística e artilharia acabariam por passar para mãos europeias. Partes desse plano foram lançadas num artigo publicado em fevereiro de 2023 pelo ‘Center for Renewing America’, afiliado a Trump, embora nos últimos meses tenha havido um consenso emergente sobre o esboço de um novo conceito da NATO.

A mudança envolveria “reduzir significativa e substancialmente o papel de segurança dos Estados Unidos — recuando de ser o principal provedor de poder de combate na Europa para alguém que fornece suporte apenas em tempos de crise”, salienta Caldwell.

Outra parte do plano de jogo de Trump é um sistema NATO de dois níveis. Essa ideia, proposta pela primeira vez por outro antigo alto funcionário da administração Trump, o tenente-general reformado do Exército Keith Kellogg, significa que os países-membros que ainda não atingiram a meta de gastar 2% do PIB em defesa “não desfrutariam da generosidade de defesa e garantia de segurança dos Estados Unidos” – isso pode ser visto como um desafio ao Artigo 5 do tratado, que obriga cada membro a tomar “as medidas que julgar necessárias” para ajudar quem for atacado.

Uma resolução rápida do conflito na Ucrânia também provavelmente desempenharia um papel fundamental nos planos de Trump para a NATO: o provável candidato do Partido Republicano está a ponderar um acordo pelo qual a NATO se compromete a não expandir mais para o leste — especificamente para a Ucrânia e a Geórgia — e negociar com Vladimir Putin o território ucraniano que Moscovo poderia manter.

A nova abordagem de Trump nessas áreas é uma revolução nos assuntos da NATO – uma que muitos críticos dizem que a Europa é totalmente incapaz de realizar num futuro previsível. Os EUA são de longe o maior contribuinte para as operações da NATO, gastando cerca de 860 mil milhões de dólares em Defesa, o que representou 68% do gasto total da NATO em 2023 – bem mais de 10 vezes mais do que a Alemanha, o segundo maior país gastador. Cerca de 3,5% do PIB dos EUA vai para a defesa da Europa.

“Sou a favor de sustentar a aliança do Atlântico Norte, mas acho que a única maneira de fazer isso — e digo isso aos europeus o tempo todo — é que eles assumam muito mais do fardo”, salienta Elbridge Colby, que liderou o desenvolvimento da Estratégia de Defesa Nacional de Trump. “Não podemos mais fazer 10 vezes mais do que os alemães estão a fazer, e temos de estar preparados para ser duros com eles. Tem de haver consequências”, salienta Colby. “Queremos que a NATO seja ativa, mas queremos que seja com os europeus na liderança. Essa foi a ideia original, a ideia de Dwight Eisenhower.”

“Os Estados Unidos não têm forças militares suficientes para todos. Não podemos quebrar a nossa lança na Europa contra os russos quando sabemos que os chineses e os russos estão a colaborar, e os chineses são uma ameaça mais perigosa e significativa”, aponta.

Alguns dos especialistas alinhados a Trump estão focados principalmente na questão dos gastos, enquanto outros querem que os países europeus gastem mais e assumam muito mais do fardo militar. Kiron Skinner, uma das responsáveis no Projeto 2025, agenda exaustiva para o segundo mandato de Trump , enfatiza a necessidade de mais gastos europeus como ponto de partida: “Precisamos dimensionar corretamente o papel dos EUA no mundo no século XXI, e é disso que eu acho que se trata”, salienta. “Os EUA não são o ‘ATM’ do mundo. A NATO tem uma contribuição significativa a fazer no teatro Atlântico e no teatro Indo-Pacífico, mas precisamos de mais pensamento estratégico em ambos os lados.”

O primeiro teste das intenções de Trump, caso ganhe outro mandato, seria como lidar com a guerra na Ucrânia. “Eu esperaria um acordo muito rápido para encerrar o conflito”, aponta Kevin Roberts, presidente da ‘The Heritage Foundation’, o influente think tank alinhado a Trump que produziu o Projeto 2025.

De acordo com um dos especialistas em segurança nacional familiarizado com o pensamento de Trump, este “estaria aberto a algo que impedisse a expansão da NATO e não voltasse às fronteiras de 1991 para a Ucrânia. Isso estaria na mesa. Mas isso não significa abrir mão de qualquer outra possibilidade, incluindo o fornecimento de grandes quantidades de armas para a Ucrânia”.

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