PJ lança megaoperação para deter uma dezena de suspeitos de atacarem motorista de autocarro com cocktails molotov em Loures
A Polícia Judiciária (PJ) lançou, na manhã desta quarta-feira, uma grande operação para capturar os responsáveis pelo ataque incendiário contra um motorista de autocarro em Santo António dos Cavaleiros, Loures. O crime, ocorrido durante uma onda de tumultos desencadeada pela morte de Odair Moniz às mãos da PSP, é classificado como homicídio na forma tentada, e os suspeitos responderão em coautoria.
O ataque, recorde-se, ocorreu na madrugada de 24 de outubro, pelas 02h00, quando um grupo de cerca de dez jovens emboscou Tiago Cascais, motorista da Carris Metropolitana, enquanto este se encontrava ao volante de um autocarro. Os agressores atiraram garrafas com combustível para o interior do veículo e diretamente contra o condutor, incendiando-as de imediato.
Como resultado, a vítima sofreu queimaduras graves na face, tórax e membros superiores, tendo passado quase um mês internado na unidade de queimados do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Segundo informações avançadas pela CNN Portugal, alguns dos suspeitos têm antecedentes relacionados com criminalidade juvenil.
A operação, coordenada pela secção de homicídios da PJ, envolve cerca de 50 inspetores da Diretoria de Lisboa e tem como alvo os jovens suspeitos, residentes na zona da Cidade Nova, em Loures. A identificação dos responsáveis foi feita ao longo das últimas semanas, com recurso a testemunhos que ajudaram a ligar os indivíduos ao crime.
Fonte da PJ avançou à Lusa, a meio da manhã de hoje, que a operação, envolvendo vários inspetores da diretoria de Lisboa da PJ, já terminou no terreno, “tendo sido cumpridos mandados de busca”.
Até cerca das 10:00, segundo a mesma fonte, não havia indicação de detidos.
“Os vários suspeitos vão ser ouvidos”, precisou ainda, adiantando estar em causa o crime de homicídio na forma tentada.
Os suspeitos são alegadamente os responsáveis pelo incêndio e ataque direto contra um autocarro em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, durante a onda de tumultos gerada na Área Metropolitana de Lisboa pela morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, há cerca de um mês.
O autocarro da Carris Metropolitana já estava sem passageiros quando se deu o incidente, mas o motorista, que ainda estava no interior, sofreu “queimaduras graves na face, tórax e membros superiores”, adiantou na altura a PSP.
O cabo-verdiano Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois.
Nos tumultos que sucederam à sua morte, nos dias seguintes, foram incendiados mais autocarros, dezenas de automóveis e contentores do lixo, mas o ataque que deixou em estado grave o motorista é o mais grave em investigação.
De acordo com a versão oficial da PSP, Odair Moniz ter-se-á posto “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
As autoridades desencadearam inquéritos, mas ainda não são conhecidas conclusões.
O advogado do agente que baleou Odair Moniz disse à Lusa que o profissional permanece de baixa médica, aguardando ser chamado para prestar declarações no âmbito dos processos disciplinares a que foi sujeito.
O agente prestou declarações à Polícia Judiciária “logo a seguir aos factos”, na madrugada de 21 de outubro, mas ainda não o fez perante o Ministério Público, indicou.
A família de Odair Moniz lançou entretanto uma campanha de angariação de fundos (disponível ‘online’, no endereço https://www.gofundme.com/f/justica-por-odair-moniz), que já recolheu mais de 30 mil euros.
*Com Lusa