Petróleo russo continua a ser transportado pelo mundo graças a dois inesperados ‘aliados’ de Putin em plena União Europeia

Os esforços ocidentais para impedir as receitas petrolíferas da Rússia estão a ser ‘minados’ pelo todo-poderoso sector marítimo da Grécia – o país europeu é o maior armador do mundo em tonelagem ou capacidade de porte bruto. Aliciadas pela possibilidade de lucros enormes, várias companhias marítimas gregas decidiram continuar a transportar petróleo bruto russo, mesmo perante as sanções dos Estados Unidos e da União Europeia. Mas não foi o único contributo grego: alguns armadores venderam antigos petroleiros a Moscovo a “preço de ouro” para que a Rússia construísse uma ‘frota fantasma’ para manter ativo o transporte de petróleo.

“As empresas ocidentais abandonaram a Rússia em massa, mas não os oligarcas gregos, que deslocaram os seus navios para ajudar Putin a vender o seu petróleo em todo o mundo com a sua ‘frota sombra’. Por que a UE tolera isso?”, lamentou Robin Brooks, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), citado pelo jornal espanhol ‘El Economista’. “O petróleo russo mantém a máquina de guerra de Putin em funcionamento. A UE tem o poder de parar isto de uma só vez, mergulhando a Rússia num caos”, indicou o economista.

Em 2022, a proporção de petróleo russo transportado em navios gregos atingiu um máximo histórico: cerca de 30% das exportações russas eram transportadas em navios gregos, segundo o IIF. Em maio de 2023, esse número atingiu o pico de 53%.

Os navios de propriedade grega ainda transportaram cerca de um quinto de todos os embarques de petróleo bruto dos Urais, a referência da Rússia, e cerca de um em cada sete de todos os embarques de petróleo russo, incluindo aqueles enviados de terminais nas costas do Pacífico e do Ártico, segundo dados da ‘Bloomberg’. Nos portos cruciais da Rússia no Mar Báltico e no Mar Negro, sete empresas gregas enviaram coletivamente 50% mais petróleo russo do que a empresa estatal russa Sovcomflot, garantiu o ‘Wall Street Journal’.

Há três companhias marítimas gregas especialmente ativas no transporte de petróleo bruto russo: TMS Tankers, Kyklades Maritime e Minerva Marine. “O transporte marítimo grego e cipriota está bem representado nos embarques de petróleo russo neste momento, com alguma participação maltesa também”, observou Byron McKinney, diretor da S&P Global Market Intelligence. “A maior parte das suas frotas opera normalmente, mas algumas dessas embarcações também estão envolvidas em atividades suspeitas.”

A situação começou a mudar no outono, depois de o Tesouro dos Estados Unidos se ter tornado mais rigoroso e inquirir 30 empresas que controlam 100 petroleiros, o que fez com que os proprietários gregos reduzissem a quantidade de petróleo bruto russo.

No entanto, a ‘frota fantasma’, constituída por navios vendidos por armadores gregos a um preço entre 3 e 5 vez mais alto do que o habitual, continua a operar: “Os oligarcas gregos da navegação estão agora a extrair todo o petróleo cazaque do Portos do Mar Negro. Abandonaram o Báltico – vendendo navios à ‘frota sombra’ de Putin – porque não gostam do limite para o petróleo russo. O seu comportamento vai diretamente contra os interesses estratégicos da UE e a UE não faz nada…”

Entre janeiro de 2022 e agosto de 2023, as companhias marítimas gregas venderam 60 navios-tanque construídos antes de 2010 por pelo menos 30 milhões de dólares cada, de acordo com uma análise da VesselsValue para a publicação ‘Foreing Policy’. A extensão desta frota não é clara: para os analistas do Lloyd’s List, desde a eclosão da guerra na Ucrânia, esta frota aumentou de 220 navios para 535. Já para McKinney, da S&P Global, existem cerca de 443 petroleiros na nebulosa frota que transporta petróleo bruto russo, a maioria dele propriedade grega.

“O PIB real russo está acima de onde estava antes da invasão. É lamentável, mas ninguém em Bruxelas se pode arrepender. A UE tomou uma decisão consciente de colocar os lucros de um punhado de oligarcas marítimos gregos antes dos 450 milhões de pessoas que são deveria representar”, lamentou Brooks.

Mas não é só a Grécia a ‘dar a mão’ a Putin: outro membro da família ortodoxa, a Bulgária, é o principal comprador do petróleo russo, que chega à UE sob a forma de combustíveis refinados – o Kremlin está a ganhar centenas de milhões de dólares ao contornar o limite de preços. A Bulgária é o quarto maior comprador de petróleo bruto marítimo russo, apenas atrás da Índia, China e Turquia. Quando a UE implementou um embargo ao petróleo russo, em dezembro de 2022, foi concedida à Bulgária uma isenção para “garantir a segurança do abastecimento” a nível interno e permitir a venda de combustível à Ucrânia. “O objetivo da exceção é que a Bulgária se possa abastecer, mas não vender petróleo russo importado a outros países”, indicou a Comissão Europeia.

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