Perante escassez de dadores de medula óssea, há uma empresa que está a recorrer a… cadáveres

Uma solução inovadora está a emergir no combate à escassez de dadores de medula óssea: a utilização de células estaminais extraídas de cadáveres. A Ossium Health, uma empresa de biotecnologia sediada nos Estados Unidos, está a liderar esta abordagem revolucionária, oferecendo uma nova esperança aos pacientes que enfrentam dificuldades em encontrar dadores vivos compatíveis, especialmente os de minorias étnicas.

O transplante de medula óssea é frequentemente a última linha de tratamento para doentes com cancros sanguíneos agressivos, como a leucemia mieloide aguda. Este procedimento exige uma correspondência genética precisa entre o dador e o receptor, com base nos antigénios leucocitários humanos (HLA). Contudo, a probabilidade de encontrar um dador compatível é significativamente menor para pacientes de minorias étnicas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 29% dos pacientes negros ou afro-americanos conseguem encontrar um dador compatível através dos registos tradicionais de dadores vivos. Esta lacuna é particularmente preocupante em situações onde o tempo é crucial, como em doenças de progressão rápida.

A abordagem da Ossium: medula óssea de dadores falecidos

Para enfrentar este desafio, explica a revista WIRED a Ossium Health criou um banco de medula óssea utilizando células estaminais extraídas de cadáveres. Em parceria com organizações de doação de órgãos, a empresa desenvolveu um método único para recolher medula óssea da coluna vertebral de dadores falecidos. Após a extração, as células são criopreservadas em azoto líquido a cerca de -190°C, garantindo a sua viabilidade a longo prazo.

Esta técnica, que começou a ser implementada em 2016, já permitiu à Ossium tratar milhares de dadores. Em junho de 2024, a empresa realizou o seu primeiro transplante bem-sucedido com células de um dador falecido. A paciente, uma mulher afro-americana de 68 anos do Michigan, enfrentava dificuldades em encontrar um dador compatível. Em setembro, a sua saúde apresentava melhorias significativas.

Uma solução “pronta para uso”

Ao contrário dos registos tradicionais de dadores vivos, que exigem tempo para identificar e mobilizar um dador compatível, a Ossium oferece uma alternativa imediata. As células criopreservadas estão disponíveis para uso imediato, reduzindo o tempo de espera para doentes em estado crítico.

Além disso, este método pode beneficiar pacientes que recebem transplantes de órgãos. Segundo Robert Negrin, professor da Universidade de Stanford, combinar um transplante de medula óssea com o transplante de órgãos do mesmo dador poderia permitir que esses pacientes descontinuassem o uso de medicamentos imunossupressores, melhorando a sua qualidade de vida a longo prazo.

Embora promissora, esta abordagem enfrenta desafios técnicos. O processo de criopreservação pode, em alguns casos, reduzir a eficácia das células estaminais, aumentando o risco de recidiva do cancro. Contudo, os resultados iniciais sugerem que o método pode ser uma alternativa viável para pacientes que não encontram soluções nos registos tradicionais.

A utilização de medula óssea de cadáveres abre novas possibilidades no campo da medicina regenerativa e pode transformar o panorama dos transplantes de medula óssea, especialmente para pacientes de minorias étnicas ou com condições de progressão rápida. À medida que esta técnica continua a evoluir, espera-se que mais vidas possam ser salvas graças a esta abordagem pioneira.

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