Pela primeira vez na história: enfermeiros e médicos estão hoje juntos em greve. Hospitais e centros de saúde sob pressão extra
Enfermeiros e médicos vão cumprir o primeiro de dois dias de greve esta terça-feira, o que vai colocar as instalações hospitalares sobre pressão extra, que podem mesmo ter de fechar serviços: esta é a primeira vez, em 45 anos do SNS (Serviço Nacional de Saúde) que as greves das duas classes profissionais coincidem.
Os enfermeiros, num protesto convocado pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), têm acusado a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, de apresentar propostas “ofensivas”, depois de ter afirmado que as reivindicações dos enfermeiros são justas e que é prioritário a valorização da carreira de enfermagem.
“Continuamos a exigir: justa valorização de todas as posições remuneratórias de todas as categorias da carreira de enfermagem; Compensação do risco e penosidade, designadamente através de condições especiais de aposentação; correção de todas as injustiças eelativas e discriminações relacionadas com a contagem de pontos, desde logo o pagamento dos devidos retroativos desde 2018; que todos os enfermeiros detentores do título de Enfermeiro Especialista até 31 de maio de 2019 transitem para a respetiva categoria; plano de pagamento de dívidas em atraso relativamente ao trabalho extraordinário realizado; pagamento das dívidas relativos aos milhares de dias feriados trabalhados e não gozados e que, não poderá ser diferente de 2 vezes o valor hora do regime das 35 horas; e, por último, a admissão de mais enfermeiros”, apontou o sindicato.
“Nenhuma das cinco estruturas [que junta o SEP (Sindicato dos Enfermeiros Portugueses), o Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), o Sindicato Nacional dos Enfermeiros (SNE), o Sindicato Independente Profissionais Enfermagem (SIPENF) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR)] que estão aqui representadas sente-se completamente satisfeita com aquilo que foi apresentado” na reunião negocial que decorreu com o Ministério da Saúde, adiantou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros (SE), Pedro Costa.
“O que nós propusemos era duas posições remuneratórias da tabela da carreira de enfermagem divididas em três anos. O que nos está a ser proposto agora é uma posição remuneratória e meia em três anos. Não aceitamos isso”, referiu o dirigente sindical do SEP, que tem agendada uma concentração para amanhã, a partir das 15 horas, em frente ao Ministério da Saúde.
Do lado dos médicos, igualmente a cumprir dois dias de greve, Joana Bordalo e Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), indicou que “médicos e enfermeiros em greve vai ter um grande impacto. Vamos ver o que acontece e o que virá a seguir à discussão do Orçamento do Estado”, admitindo que “começa a estar em cima da mesa uma concertação com todo o setor, esse pode ter de ser o caminho para onde avançar”.
A líder da FNAM destacou nesta ação de luta a “defesa do SNS, que seja público, universal e de qualidade para atender toda a população, seja a nível dos cuidados de saúde primários, seja a nível hospitalar, seja a nível da saúde pública. Entendemos que isso é uma emergência”, declarou.
“Continuamos pressionados a fazer horas suplementares para além dos limites legais anuais, com equipas reduzidas e com irregularidades no respetivo pagamento, tendo em conta a confusão na aplicação da nova legislação pelas instituições. Por outro lado, assiste-se ao atraso e atropelos nos concursos na contratação de novos médicos no SNS”, salientou a FNAM.
Para a FNAM “é prioritária a valorização das grelhas salariais para todos os médicos, o regresso às 35 horas de trabalho semanais e das 12 horas em serviço de urgência, a reintegração do internato na carreira médica e a criação de um regime de dedicação exclusiva, opcional para todos os médicos e devidamente majorada”.