Paquistão, Índia ou Espanha: Investigação revela 1200 fugas de metano em lixeiras que ameaçam causar catástrofe climática

Desde 2019 que se contam mais de 1200 emissões de metano de grande proporções, em lixeiras e aterros sanitários. Este gás com efeito de estufa é produzido nas lixeiras quando os resíduos orgânicos se decompõem na ausência de oxigénio, e prende 86 vezes mais calor na atmosfera do que os dióxido de carbono num período de 20 anos.

As emissões de metano em aterros sem controlo poderão duplicar até 2050, alertam vários especialistas, devido ao crescimento das populações urbanas. A situação coloca em sérios riscos o cumprimento das metas e contribui diretamente para um passo em frente rumo à catástrofe climática.

A investigação do The Guardian dá conta de 1256 eventos de superemissão de metano entre janeiro de 2019 e junho de 2023.

Lideram a lista de nações com mais fugas de metano o Paquistão, a Índia e o Bangladesh, mas seguem de perto nações com a Argentina, o Uzbequistão e Espanha.

As emissões de metano têm acelerado desde 2007 e são responsáveis por um terço do aquecimento global que está na origem da crise climática que hoje o planeta enfrenta.

O lixo em decomposição é responsável por 20% das emissões causadas por humanos deste gás, enquanto as operações de extração e produção de combustíveis fósseis representam 40%. Os restantes 40% são causados por gado e arrozais.

Quanto às emissões em aterros, estas podem ser reduzidas se forem criados menos resíduos orgânicos, desviá-los dos aterros ou capturar parte do metano libertado. As medidas para conter o gás são as mais eficazes e de custo mais baixo, que até se autofinanciam se o gás capturado for depois vendido como combustível, assinala o mesmo jornal.

“Os grandes aterros produzem uma grande quantidade de metano, mas não custa muito demolir o solo sobre um aterro fedorento e em chamas. Não é ciência espacial”, brinca Euan Nisbet, especialista em metano da Royal Holloway University de Londres. Com os micróbios do solo, o metano seria convertido em dióxido de carbono, e perdia 97% do seu impacto no efeito de estufa.

Deli, capital indiana, conta pelo menos 124 eventos de superemissões de metano desde 2020, com as autoridades locais a prometerem “intervenção urgente”. O país é muito vulnerável aos efeitos da crise climática, pelo que a redução das emissões de metano seriam chave para, logo no imediato, acabar com incêndios, poluição do ar e da água causadas.

O pior evento registado no período em análise ocorreu em abril de 2022, precisamente nesta cidade indicana. O gás foi libertado a uma velocidade calculada de 434 toneladas por hora, qualquer coisa como 68 milhões de carros a gasolina a circularem ao mesmo tempo.

Também em Buenos Aires se registou uma superemissão de metano, em agosto de 2020, com 230 toneladas por hora emitidas, o equivalente ao movimento de 36 milhões de automóveis.

Porventura o país mais surpreendente a aparecer na lista das superemissões de metano em lixeiras ou aterros detetadas na investigação é Espanha. Madrid registou, segundo os satélites, 17 emissões de grande escala desde 2021, e quatro só no primeiro semestre de 2023.

A maior emissão registada na cidade foi de 25 toneladas por hora, o equivalente a 3,9 milhões de carros a circular ao mesmo tempo.

“Não associamos os países da Europa Ocidental a aterros sanitários com emissões descontroladas de metano. Para mim, é profundamente contraintuitivo”, assinala Antoine Halff, cofundador da empresa Kayrros que forneceu a análise das imagens de satélite na base da investigação.

A Câmara de Madrid diz que são outros aterros, que não são do seu controlo, os que poderão ser responsáveis e alertou que as emissões detetadas poderiam estar relacionadas com o funcionamento das centrais de biogás.

Cortais nas emissões de metano é, segundo os especialistas consultados, uma das melhores formas de combater o aquecimento global, e consequentemente, as alterações climáticas. “Se tiverem um milhão de dólares para gastar, reduzir o metano deveria estar no topo de sua lista de prioridades, porque obtém-se muito mais impacto por cada dólar”, resume Euan Nisbet.

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