Pais acreditam que testes nos jardins-de-infância «são de ponderar» e contestam fim dos apoios
Depois de cerca de dois meses e meio de portas encerradas, as crianças do pré-escolar regressaram esta segunda-feira, 1 de Junho, aos seus estabelecimentos. Os pais manifestam um misto de ansiedade e confiança nas autoridades de saúde e Governo, acreditando estarem reunidas todas as condições de segurança necessária.
A reabertura do ensino pré-escolar «tem sido pacífica» e «está tudo a correr dentro da normalidade», garantiu à Executive Digest o presidente Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Rui Martins. Ainda assim, admite que as preocupações «são as mesmas que eram no dia 13 de Março», uma vez que «ainda nada é garantido».
Para o presidente da CNIPE, fica a faltar a medição da temperatura corporal, sobretudo dos docentes e não docentes, do ensino pré-escolar, nas entradas e saídas dos estabelecimentos. No entender de Rui Martins, é uma questão que «poderia ser resolvida» e até «com alguma facilidade».
Do lado da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, defende que, daqui para a frente, caberá cada estabelecimento «avaliar, diariamente, cada situação que possa causar alguma inquietação ou cuidado». A Confap entende que os testes «são de ponderar», mas acrescenta que «apenas indicam a situação do momento e não passado de uma ou duas horas».
Se, por um lado, «é importante que as crianças possam voltar ao seu tempo de actividade, brincadeira e socialização», também «é importante que os pais ganhem confiança e possam deixar os filhos com tranquilidade num espaço que é favorável e positivo para o seu desenvolvimento», acrescentou.
Pelas contas da CNIPE, numa primeira ronda, pouco mais de metade das crianças terão comparecido na reabertura do ensino pré-escolar, enquanto a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) diz que a afluência rondará os 35%. Já o ministro da Educação avançava, esta manhã, que os jardins-de-infância receberam 225 mil crianças. «Um pouco por todo o país, cerca de 225 mil crianças, e 220 mil famílias têm hoje um recomeço do ano escolar. Apesar de ser por muito pouco tempo, até 26 de Junho, é muito importante darmos este voto de confiança e pudermos assim ajudar muitas famílias que nas últimas semanas nos disseram, que mesmo num ambiente de apreensão tinham a confiança de querer voltar às suas vidas”, afirmou Tiago Brandão Rodrigues.
Seja como for, o presidente da Confap acredita que, «com menos crianças, os jardins-de-infância vão poder ajustar aquilo que ainda deve ser ajustado».
Já no entender da Fenprof, este regresso foi feito «com muitas limitações e muita insegurança, com muitas dúvidas suscitadas pelas orientações produzidas para este nível de educação e pela imprudência do Governo em recusar testar as comunidades educativas (educadoras de infância, crianças e pessoal não docente)». Desde logo, porque «o Governo português optou por não testar previamente as comunidades escolares (crianças, pessoal auxiliar e docentes)», algo que a Fenprof considera ser «muito imprudente».
«Esta falta de segurança», alega, foi justamente «a que levou a que sejam muito poucos os casos em que o regresso das crianças ao regime presencial tivesse ultrapassado os 50%».
Termina hoje apoio social aos pais com crianças
Com a abertura dos jardins-de-infância, o apoio social concedido aos pais com crianças até seis anos terminou esta segunda-feira. O mecanismo em causa – um dos mais baixos que foi criado pelo Governo – servia para apoiar financeiramente os pais que faltem ao trabalho para ficar em casa com os filhos.
No entanto, o presidente da CNIPE defende que deveriam continuar «para casos que assim o exigem». Por outro lado, considera que «não podem os pais estar a trabalhar e a receber o apoio ao mesmo tempo». «O ideal seria poder haver uma opção dos próprios pais em continuar mais algum tempo, pelo menos até ao dia 26 de Junho», quando termina o ano lectivo 2019/2020.
A Confap tem o mesmo entendimento: «Seria bom alargar o prazo para os casos em que seja mesmo necessário».
No caso dos trabalhadores por conta de outrem, o apoio excepcional correspondente a 66% da sua remuneração base, pago em partes iguais pela Segurança Social e pelo empregador. Para independentes, o apoio corresponde a um terço dos rendimentos.
Portugal regista, pelo menos, 1.424 óbitos associados à Covid-19 e 32.700 casos confirmados de infecção desde 2 de Março, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde.
A 3 de Maio, Portugal entrou em situação de calamidade devido à pandemia, prolongada até 14 de Junho, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de Março.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias “France-Presse”, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 370 mil mortos e infectou mais de seis milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 2,5 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.