Os livros que influenciaram os líderes: Luís Paulo Salvado, chairman e CEO da Novabase

Por: Luís Paulo Salvado, chairman e CEO da Novabase

Gosto de viajar e descobrir novos lugares e culturas. Ler é também uma forma de viajar, dando-nos a conhecer diferentes realidades e formas de pensar. As nossas emoções e mente são transportadas para novos mundos, e quando a obra é excecional, é mesmo a nossa alma que voa e se transforma…
Começo pela obra de Geoffrey Moore, lançada nos já longínquos anos 90. É surpreendente como os ensinamentos de “Crossing the Chasm”, “Inside the Tornado” e “The Gorilla Game”, onde o autor faz uma análise profunda – e original, à data – do negócio das Tecnologias da Informação, se mantenham ainda tão atuais. Alguns dos conceitos introduzidos, como a importância de atravessar o “abismo” entre os primeiros utilizadores e o mercado de massa, bem como as estratégias para sobreviver e prosperar dentro do “tornado” do crescimento acelerado, mostraram ser fundamentais para se entenderem as dinâmicas deste sector e explicar a concentração de poder nos líderes de mercado. As lições de Moore fazem hoje parte da cartilha obrigatória para qualquer empreendedor e a relevância das suas ideias estende-se a praticamente todos os setores, em especial aos que passam por maiores mudanças.

E, no mundo atual, entender como gerir a mudança é absolutamente vital. O livro “Managing Change” de Bernard Burnes ensina-nos precisamente isso, alertando-nos para os aspetos mais críticos destes processos. Burnes apresenta-nos conceitos simples mas poderosos como, por exemplo, quando refere as três fases a respeitar em qualquer mudança: “descongelar”, isto é, criar a motivação, mudar o que é preciso e “congelar” novamente para que a mudança se fixe. Outra ideia fundamental é a necessidade de se envolverem, logo desde o início, os mais afetados pela mudança. Perceber e analisar a realidade pelos seus olhos e dar-lhes a responsabilidade de contribuir para as soluções, compromete-os e cria as condições necessárias para o sucesso. Assim, como é destacada a importância da comunicação clara e transparente, “olhos nos olhos”, para uma boa gestão das expectativas e mitigação das eventuais resistências. Mais do que um bom manual de gestão, “Managing Change” permite-nos entender e liderar a mudança de forma mais consciente e estratégica.

Lançado em 2001, “The War for Talent”, foi um livro pioneiro que mudou a forma de olharmos para a gestão dos talentos. Na altura, os autores já profetizavam uma intensa competição pelos melhores e como isso seria crucial para o sucesso das organizações no futuro. Uma das ideias chave do livro, que entretanto se banalizou, é que o talento deve ser sempre o ativo mais importante a considerar. Por isso a sua atração, desenvolvimento e retenção devem ser a maior prioridade dos líderes. Igualmente vanguardista foi a ideia de que as empresas devem esforçar-se por criar “marcas empregadoras” fortes. O tempo veio confirmar estas “profecias” pois a competição por profissionais qualificados está mais feroz do que nunca. Neste livro, defende-se também a necessidade de personalizar a experiência de trabalho para reter os melhores. Isso inclui desde oferecer oportunidades de desenvolvimento customizadas até criar ambientes de trabalho flexíveis que se adaptam às necessidades individuais. Este não era o pensamento e as práticas no início dos anos 2000 mas atualmente são já muitas as organizações com este tipo de políticas.

E como tirar o melhor partido dos talentos individuais? Em “Management Teams”, da autoria do investigador Meredith Belbin, descodifica-se a fórmula “mágica” das equipas de alto desempenho. Através de um meticuloso trabalho de observação ao longo de décadas junto de grupos de trabalho de MBA, Belbin chegou à conclusão de que as melhores equipas não eram necessariamente as compostas pelos indivíduos mais brilhantes e competitivos – os quais frequentemente se anulavam num confronto de egos. Eram as equipas que combinavam uma variedade de papéis que se revelavam as mais eficazes e inovadoras. Belbin identificou nove papéis de equipa, e descobriu que o sucesso das equipas dependia da presença e do equilíbrio desses papéis. Um equilíbrio adequado permitia que as equipas enfrentassem uma ampla gama de desafios, desde a geração de ideias inovadoras – papel do “Plant” – até a execução e conclusão de tarefas – papel do “Implementer”, passando pela coordenação e motivação da equipa – papel do “Coordinator”.

Termino com três livros de autores diferentes que se complementam numa visão integrada da natureza humana, nos seus aspetos mais complexos, profundos e misteriosos. Cada um deles fala duma perspetiva diferente: a do individuo, a do grupo ou comunidade e a da civilização. Cheguei a estas obras quando procurava aprender mais sobre as teorias que estão na base dos modelos de liderança adaptativa e o que descobri mudou a forma como penso e compreendo o mundo: como diz um dos autores, Robert Kegan, “nós não vemos o mundo como ele é, mas sim como nós somos”.

Começo por este autor, que é psicólogo e investigador em Harvard, e o seu livro “The Discerning Heart” que explora o desenvolvimento dos adultos através de estágios de maturidade psicológica. Kegan argumenta que, à medida que crescemos, passamos por diferentes formas de consciência que moldam como interpretamos o mundo e interagimos com os outros.
“Spiral Dynamics: Mastering Values, Leadership and Change”, dos sociólogos Don Beck e Christopher Cowan, mergulha na complexidade da evolução cultural e psicológica das civilizações. O livro apresenta um modelo que descreve como as sociedades progridem através de uma espiral de níveis de consciência, cada um caracterizado por diferentes valores, sistemas de crenças e formas de interação. Esta teoria ajuda a compreender as motivações subjacentes às mudanças sociais e organizacionais, oferecendo sugestões sobre como gerir a diversidade e promover a inclusão. É um bom guia para compreendermos melhor o mundo atual, com seus múltiplos conflitos inter e intra civilizacionais.

Inspirado pelas ideias e conceitos dos livros anteriores, “Reinventing Organizations” de Frederic Laloux, apresenta uma visão revolucionária de como as organizações – comunidades ou grupos – podem transcender as abordagens tradicionais da gestão para se tornarem mais empáticas, adaptáveis e alinhadas com os seus propósitos. Laloux revela-nos como as organizações “evolutivas” podem conduzir a níveis mais elevados de satisfação no trabalho e sucesso, ilustrando com casos reais muito curiosos.
Através destes livros apercebemo-nos que a compreensão dos estágios de desenvolvimento humano e da evolução cultural são fundamentais para navegarmos na complexidade dos dias de hoje, o que é especialmente critico para quem tem responsabilidades de liderança. Dão-nos uma lente através da qual podemos ver além das estruturas e práticas convencionais, potenciando práticas e ambientes de trabalho que não só prosperam na mudança, mas também cultivam o crescimento pessoal e coletivo.  

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