Orbán diz que Hungria deve resistir a Bruxelas tal como enfrentou os soviéticos em 1956

No dia da comemoração do 67.º aniversário da Revolução Húngara de 1956, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, fez um discurso inflamado, comparando a atual relação do país com a União Europeia (UE) à resistência contra a União Soviética, que culminou na revolta popular reprimida pelas forças do Pacto de Varsóvia. Orbán, conhecido pelas suas críticas constantes às instituições europeias, acusou Bruxelas de tentar instalar um “governo fantoche” em Budapeste e apelou aos húngaros para resistirem à interferência da UE, tal como enfrentaram os soviéticos há quase sete décadas.

Discursando perante uma multidão reunida em Budapeste para assinalar a revolta de 1956, Orbán alertou esta quarta-feira para o que considera uma tentativa da União Europeia de subverter a soberania húngara. “Bruxelas anunciou que quer derrubar o governo nacional da Hungria. Também anunciaram que pretendem impor um governo fantoche de Bruxelas ao país”, afirmou Orbán, traçando um paralelo com a ocupação soviética do passado.

O primeiro-ministro húngaro, que se tem posicionado como um crítico feroz das políticas europeias e como defensor de um modelo “iliberal” de governo, foi claro no seu apelo: “Aqui está de novo a velha questão: curvamo-nos perante a vontade de uma potência estrangeira, desta vez a vontade de Bruxelas, ou resistimos? Proponho que a nossa resposta seja tão clara e inequívoca como foi em 1956.” Orbán reiterou que não permitirá que a Hungria se torne “um estado fantoche, um vassalo de Bruxelas”.

O legado da revolta de 1956 e o confronto com a União Europeia
A revolta húngara de 1956, que teve início em 23 de outubro desse ano, foi uma tentativa dos cidadãos húngaros de se libertarem da ocupação soviética e do regime comunista imposto em Budapeste. Apesar de um breve sucesso inicial, a revolta foi esmagada em menos de três semanas pelas forças do Exército Vermelho, resultando na morte de aproximadamente 2.500 húngaros e na fuga de cerca de 250.000 pessoas do país. Para Orbán, este episódio trágico da história húngara serve agora de analogia para a atual relação tensa com a UE, que o primeiro-ministro vê como uma entidade que procura minar a independência da Hungria.

No seu discurso, Orbán também teceu duras críticas ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, acusando-o de prolongar a guerra com a Rússia. Orbán afirmou que o plano de vitória de Zelenskyy se traduz numa extensão do conflito, o que poderia, segundo ele, ter consequências diretas para a Hungria. “Em outras palavras, nós, húngaros, acordaríamos uma manhã e encontraríamos soldados eslavos do leste estacionados novamente no território húngaro. Nós não queremos isso”, declarou Orbán, reiterando a sua oposição ao envolvimento da Hungria no conflito e à crescente presença de forças estrangeiras na região.

A posição da Hungria em relação à guerra na Ucrânia tem sido um ponto de discórdia com os seus parceiros da NATO e da UE. O governo de Orbán tem bloqueado sanções mais duras contra a Rússia e tem-se recusado a fornecer apoio militar significativo a Kyiv, o que tem frustrado muitos dos seus aliados ocidentais.

Apesar das suas palavras firmes, Orbán enfrenta atualmente uma ameaça crescente ao seu poder. Peter Magyár, um ex-membro do círculo próximo de Orbán e agora líder da oposição pró-europeia, tem vindo a ganhar terreno no cenário político húngaro. Magyár, que lidera o partido Tisza, tem criticado duramente o governo de Orbán, apontando para a corrupção e para as falhas no Estado de Direito. Estas críticas têm ressoado com o eleitorado, especialmente numa altura em que a economia húngara enfrenta dificuldades e a população está cada vez mais dividida quanto ao futuro do país dentro da União Europeia.

No mesmo dia do discurso de Orbán, uma nova sondagem revelou que o partido de Magyár, Tisza, conta agora com o apoio de 42% dos eleitores húngaros, ultrapassando pela primeira vez o partido Fidesz, de Orbán, que obteve 40% das intenções de voto. Este é um marco importante, pois é a primeira vez que o Fidesz fica atrás nas sondagens desde que Orbán assumiu o poder em 2010.

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