Turismo: Coreia do Norte, Colômbia ou Arábia Saudita estão a apostar no “petróleo do século XXI”…mas não a qualquer preço
O turismo, frequentemente subestimado como setor de geração de riqueza, está a afirmar-se como um motor económico global de crescente importância. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), em 2024, uma em cada dez unidades monetárias gastas a nível global será direcionada para viagens turísticas, totalizando 11,1 biliões de dólares. Este número supera em 7,5% o recorde estabelecido em 2019, antes da pandemia, e demonstra como o setor, agora responsável por 9,1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, ultrapassa o setor agropecuário (4%) e aproxima-se do industrial (27%).
Os empregos gerados pelo turismo também atingem novos patamares, empregando 348 milhões de pessoas em 2024, um aumento de 13,6 milhões face a 2019. Com previsões de alcançar 16 biliões de dólares em 2034, o setor apresenta-se como um alicerce essencial para economias em transição, como a colombiana, que aposta em substituir receitas provenientes de energias fósseis por divisas turísticas.
O exemplo de Cartagena de Índias
Na 122.ª reunião do Conselho Executivo da ONU Turismo, realizada este mês em Cartagena de Índias, na Colômbia, o governador do departamento de Bolívar, Yamil Arana, destacou que “o turismo é o petróleo do século XXI”. Com apenas 33 anos, Arana reconhece que a redução das receitas do petróleo – com uma queda prevista de 17% no orçamento de 2025 em comparação com 2024 – exige alternativas económicas. “Vamos apostar tudo no turismo”, afirmou.
Cartagena, um dos destinos mais visitados da Colômbia, recebe atualmente turistas por uma média de três dias e meio, mas Arana pretende prolongar essas estadias ao desenvolver infraestruturas e promover atrativos no restante departamento, como o vulcão do Caribe colombiano e as praias da região. Projetos ambiciosos incluem cruzeiros de luxo pelo rio Magdalena, ligando Cartagena a localidades como Palenque e Mompox, ambas patrimónios da UNESCO.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, reforçou a visão de que o turismo pode substituir as divisas provenientes de carvão e petróleo, os dois principais produtos de exportação do país. Durante o evento, Petro destacou: “Colômbia pode alcançar a mesma importância em divisas que hoje o petróleo ou o carvão representam. É um objetivo real.”
O dilema da sustentabilidade
Apesar do impacto económico positivo, a expansão do turismo global não está isenta de críticas. Cidades como Barcelona e Veneza são frequentemente apontadas como exemplos de turismo de massas insustentável, que exaure recursos locais e exacerba desafios como alterações climáticas e inflação. Jacopo Dettoni, editor do Financial Times, sublinhou durante a cimeira que “o turismo global enfrenta uma crescente questão reputacional”, com protestos em locais como Espanha e Grécia. Para Dettoni, é essencial diversificar destinos, escalonar chegadas e adotar tecnologias para mitigar os impactos negativos nas comunidades locais.
O ministro colombiano do Turismo, Luis Carlos Reyes, foi contundente ao afirmar que “se o turismo não beneficiar as comunidades, é melhor não o ter”. A preservação da biodiversidade e o cuidado com os impactos ambientais são prioridades na estratégia colombiana, que busca evitar os erros de destinos saturados.
A abertura de outros países
A aposta no turismo como motor económico não se limita à Colômbia. Países como a Arábia Saudita, que preside ao Conselho Executivo da ONU Turismo, têm registado crescimentos impressionantes. Desde 2019, o turismo não religioso na Arábia Saudita aumentou 656%, com 4,2 milhões de visitantes a viajar exclusivamente para lazer entre janeiro e julho de 2024.
Mesmo nações tradicionalmente isoladas como a Coreia do Norte começam a aderir à tendência. Após reabrir gradualmente em 2024, o país já atrai turistas russos, impossibilitados de viajar para destinos convencionais devido à guerra na Ucrânia.
O turismo, já apelidado de “petróleo do século XXI”, é mais do que uma fonte de receitas: é um catalisador de transformação económica, social e cultural. No entanto, a sua gestão exige equilíbrio entre expansão e sustentabilidade, sob o risco de comprometer os benefícios a longo prazo. A aposta de líderes como Petro e Arana demonstra que o turismo pode ser mais do que lazer: é uma ferramenta estratégica para moldar o futuro económico de nações inteiras