Operação Aurora: Como vai funcionar o programa de deportações em massa de Trump que custará mais de 300 mil milhões de euros
O plano de deportação em massa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, intitulado “Operação Aurora,” coloca em risco milhões de famílias de imigrantes indocumentados, alertam grupos de defesa dos direitos dos imigrantes. A proposta, que visa a remoção de milhões de pessoas sem documentos legais no país, tem gerado intensa preocupação e críticas, com ativistas a prometer contestá-la nos tribunais antes mesmo de Trump tomar posse.
Durante a campanha, Trump fez da deportação de imigrantes um ponto central, prometendo que o dia 5 de novembro seria “o dia da libertação” das políticas de fronteira anteriores. Embora algumas sondagens tenham demonstrado apoio da população à deportação em massa, as sondagens à boca das urnas mostraram maior apoio a caminhos para a legalização dos imigrantes indocumentados, com 56% dos eleitores a preferirem essa abordagem, segundo dados da CNN e da NBC. Entre esses, 21% identificaram-se como apoiantes de Trump.
Impacto económico e social do plano
A execução do plano de Trump pode custar mais de 315 mil milhões de dólares (mais de 300 mil milhões de euros), segundo estimativas do American Immigration Council (AIC), se for completamente implementado e alcançar entre 11 a 14 milhões de pessoas. A entidade destaca que esta operação seria a maior da história dos EUA, com potencial de desestruturar economicamente o país. Em setores essenciais como a agricultura, que dependem fortemente de trabalhadores migrantes, há receios de perda de mão-de-obra, especialmente em estados como Florida e Wisconsin, que dependem desses trabalhadores para manter suas produções agrícolas. A National Foundation for American Policy (NFAP) advertiu ainda que a falta de trabalhadores migrantes dificultará o crescimento económico e pode levar a uma estagnação do nível de vida no país.
Stuart Anderson, diretor da NFAP, destacou que, “sem os imigrantes e seus filhos, o crescimento da força de trabalho nos últimos cinco anos teria sido nulo.” Anderson argumenta que, sem crescimento na força de trabalho, a economia do país enfrenta grandes desafios, podendo entrar em estagnação.
Como funcionará a operação?
A Operação Aurora, que poderá iniciar-se oficialmente após a posse de Trump, em 20 de janeiro de 2025, visa inicialmente estados com grandes concentrações de imigrantes indocumentados, como Califórnia, Texas e Flórida. Nesses estados, estima-se que residam 2,1 milhões, 1,8 milhões e 1 milhão de imigrantes indocumentados, respetivamente. Embora a maioria seja de origem mexicana, o AIC aponta que imigrantes de mais de 75 países poderiam ser afetados.
Para implementar o plano, Trump e seus aliados consideram recorrer ao Alien Enemies Act de 1798, uma lei que permite a remoção de estrangeiros durante períodos de guerra ou invasão. Trump argumenta que o número de imigrantes indocumentados equivale a uma “invasão”, justificando a sua utilização para a deportação. Noreen Shah, diretora de assuntos governamentais da ACLU, alertou que a utilização deste ato poderia resultar na perseguição de pessoas com base na sua nacionalidade, incluindo aquelas com residência legal mas sem cidadania americana, tornando o plano “sem precedentes e potencialmente de grande alcance”.
Grupos de defesa preparam-se para resistir
Organizações como a American Civil Liberties Union (ACLU) e o Justice Action Center já se preparam para contestar o plano nos tribunais. Karen Tumlin, fundadora do Justice Action Center, afirmou: “Tenho processado todos os presidentes desde George W. Bush. Vamos levar esta batalha aos tribunais se o presidente eleito Trump ou seus representantes tentarem cumprir este plano deplorável.” Ela enviou também uma mensagem de solidariedade às comunidades imigrantes, dizendo: “Estamos convosco e vamos resistir.”
Em resposta às crescentes tensões, a ACLU pede aos líderes estaduais e municipais que adotem medidas preventivas para proteger os imigrantes. Segundo Shah, essas medidas poderiam impedir que autoridades federais deportassem imigrantes que vivem há muitos anos no país e estabeleceram raízes. Ela acrescentou que a implementação de um plano de deportação em massa teria um impacto devastador nas comunidades, afetando o cotidiano de milhões de famílias.
Risco de separação de famílias e impacto nas comunidades latinas
Líderes latinos alertam que a política de deportação em massa de Trump poderá provocar novas separações de famílias, uma situação que foi amplamente criticada durante seu primeiro mandato devido ao sofrimento causado a milhares de crianças e pais. A organização FWD.us, defensora dos direitos dos imigrantes, frisou que o impacto será particularmente sentido nas comunidades latinas, onde um em cada três indivíduos poderá estar em risco de deportação.
Karoline Leavitt, porta-voz da campanha de Trump, afirmou que o plano fará provisões para famílias de status misto, mas destacou que Trump “usará todos os poderes federais e estaduais necessários para implementar a maior operação de deportação de criminosos ilegais, traficantes de droga e traficantes de pessoas da história dos Estados Unidos.”
Entidades de defesa dos imigrantes receiam que a retórica antimigrante promovida durante a campanha aumente os casos de intimidação e assédio contra imigrantes antes mesmo de Trump assumir o cargo. Grupos de direitos civis relatam que algumas comunidades já enfrentam uma maior pressão, com o aumento de ameaças e hostilidade.
A ACLU e outros grupos apelam a uma resposta preventiva das lideranças locais para garantir que os residentes indocumentados, que vivem há anos nos EUA, não sejam alvos de deportação sumária. Noreen Shah concluiu, alertando que, “este tipo de plano irá causar o caos nas comunidades, separando famílias e impedindo muitos de buscar cuidados de saúde e outros serviços básicos.”