Onze mil cientistas declaram emergência climática e alertam para «sofrimento humano incalculável»
Um documento subscrito por mais de 11 mil cientistas de 153 países, publicado esta terça-feira na revista BioScience, vem dizer ao mundo aquilo que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, uma jovem activista de 16 anos chamada Greta Thunberg e outras figuras mediáticas tantas vezes nos têm alertado: vivemos um período de emergência climática. Mas, desta vez, propõe uma espécie de manual de instruções para evitar a destruição da Terra.
«A crise climática é mais grave do que se antecipava e ameaça ecossistemas naturais e o futuro da humanidade. Para assegurar um futuro sustentável, temos de mudar a forma como vivemos e isso envolve grandes mudanças na forma como a sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais», lamenta William Ripple, professor de ecologia na Universidade de Oregon, que encabeça a missiva.
«Apesar de 40 anos de grandes negociações globais, continua tudo na mesma e não conseguimos lidar com essa crise», lê-se no documento. Os especialistas dizem ter a obrigação moral de «avisar a humanidade para a ameaça catastrófica» que as alterações climáticas representam, afirmando “clara e inequivocamente que o planeta Terra está a enfrentar uma emergência climática». A mudança é urgente e inevitável se quisermos evitar um «sofrimento humano incalculável», argumentam os cientistas.
Mas este não é o primeiro aviso à humanidade. Em 1992, mais de 1700 cientistas de todo o mundo assinavam um artigo com o título «Alerta dos Cientistas do Mundo à Humanidade», publicado pela na revista da organização Union of Concerned Scientists. «Os seres humanos e o mundo natural estão em colisão», lia-se nas primeiras linhas do documento. Passado 25 anos, em Novembro de 2017, uma equipa internacional liderada já por William Ripple apresentava o segundo aviso dos cientistas do mundo à humanidade, devido aos poucos progressos na protecção do nosso planeta.
Neste novo documento, a equipa de Ripple volta a apresentar gráficos sobre os efeitos das mudanças nas actividades humanas desde 1979 (ano que os cientistas de 50 países se reuniram na Primeira Conferência Mundial do Clima, em Genebra) até hoje. O que se vê? Traços ascendentes que dizem respeito ao aumento da população humana, do número de cabeças de gado, da produção de carne per capita, do produto interno bruto, da perda de árvores, do aumento do consumo de energia, do crescimento do movimento nos transportes aéreos e, entre outros, das crescentes emissões de CO2.
Num segundo conjunto de gráficos,sobre a «resposta climática» desde 1979 até ao presente, vemos a subir as partes por milhão de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera, a temperatura na superfície da Terra e nos oceanos, o aumento do nível das águas do mar.
Mas nem tudo é mau. Verifica-se, neste período, uma redução nas taxas globais de nascimentos, o abrandamento da perda de floresta na Amazónia brasileira e aumentos na produção de energia eólica e solar.
Os investigadores propõem, assim, seis áreas em que a humanidade deve tomar medidas imediatas para diminuir os efeitos do aquecimento global.
Em matéria de «energia», sugerem «práticas de eficiência e conservação em massa», substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, deixar os stocks restantes de combustíveis fósseis no solo, acabar com os subsídios a empresas de combustíveis fósseis e impor taxas de carbono superiores para limitar o uso de combustíveis fósseis.
No que diz respeito aos «poluentes de vida curta», necessitamos de reduzir rapidamente as emissões de metano, fuligem, hidrofluorcarbonetos e outros poluentes. Isso, segundo os cientistas, pode «reduzir a tendência de aquecimento em mais de 50% nas próximas décadas, enquanto salva milhões de vidas».
Quanto à natureza, é preciso «proteger e restaurar os ecossistemas», como florestas, pradarias, turfeiras, pântanos e mangais.
Já a nossa alimentação, deverá passar a incluir mais plantas e menos produtos de origem animal.
É também preciso «converter a economia numa economia livre de carbono» e limitar «a exploração de ecossistemas para manter a sustentabilidade da biosfera a longo prazo», concluem.