ONU lança “ultimato” climático: É preciso uma ação urgente, massiva e global para evitar ponto de não retorno
As consequências das alterações climáticas para a humanidade são um tema cada vez mais em debate, contudo é necessário considerar as soluções técnicas possíveis e o capital necessário para conter os piores impactos.
É preciso não só uma mudança rápida, massiva e global para reduzir as emissões como uma adaptação à nova realidade, advertiu o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês) das Nações Unidas, esta segunda-feira, ao explicar que a ausência de ação não só multiplicará os impactos das alterações climáticas como fará com que muitas das soluções hoje disponíveis deixem de ser úteis.
Precisamos de fazer “tudo ao mesmo tempo em todo o lado”, resumiu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres – numa referência ao filme mais premiado na última cerimónia dos Óscares -, ao destacar que o relatório acusa a atividade humana de ter causado “inequivocamente” o aquecimento global.
As temperaturas globais já estão 1,1°C acima da era pré-industrial e deixaram quase metade da população mundial exposta a novos impactos climáticos. Quanto aos ecossistemas e à biodiversidade, estão também a ser destruídos, em alguns casos com efeitos irreversíveis e, à medida que as temperaturas continuam a subir, a capacidade da humanidade para os conter está a diminuir.
Atualmente, o mundo caminha para 2,8°C, muito aquém dos limiares de “segurança climática” de 1,5°C e 2°C, e assiste a um aumento dos efeitos do aquecimento, tais como secas, chuvas torrenciais e subida do nível médio do mar, o que faz desta análise “um alerta para acelerar massivamente os esforços climáticos em todos os países, em todos os setores e em todos os prazos”, segundo Guterres que descreveu as contribuições dos cientistas como “um guia de sobrevivência para a humanidade”.
Vários países têm vindo a melhorar a sua adaptação aos impactos climáticos e tentado reduzir as emissões com efeito de estufa, reconhece o relatório ao acrescentar, porém, que esta ação “não é suficiente”, dado que o fosso entre o que está a ser feito e o que é necessário fazer continuará a alargar-se e alguns impactos já são irreversíveis ou inevitáveis.
A limitação do aquecimento global provocado pelo homem requer a obtenção de “emissões líquidas zero” de CO2, informa o documento, o que significa que é fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa até serem praticamente inexistentes e, caso permaneçam, é preciso contê-las através da tecnologia ou de sumidouros de carbono como as florestas. Como tal, Guterres revelou um novo plano para acelerar a ação climática no qual apelou aos líderes dos países desenvolvidos para se comprometerem a atingir o zero líquido “o mais próximo possível de 2040”.
Embora seja necessário muito investimento para alcançar tanto as metas de adaptação como as de redução de emissões, os cientistas destacam ações a curto prazo que defendem ser uma questão de vontade política e financeira, reconhecendo que “há capital global suficiente para colmatar lacunas de investimento global, mas existem barreiras para redirecionar o capital para a ação climática”.
O aumento do financiamento dedicado ao investimento climático é importante para alcançar os objetivos climáticos globais, de acordo com o documento onde é explicado que os governos, através das finanças públicas e de sinais claros aos investidores, são essenciais para reduzir estas barreiras assim como os investidores, bancos centrais e reguladores financeiros, visto que limitar o aquecimento global a 2°C compensaria os custos e traria benefícios para todos.