OE2025: Presidente da empresa Medway espera “sinal claro de apoio à ferrovia”
O presidente da empresa ferroviária de mercadorias Medway considerou hoje que Portugal tem sido um “país esquizofrénico” sobre a ferrovia, pelo que espera do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) um “sinal claro de apoio” ao setor.
“Eu acho que sim, que deveria haver algum sinal claro de apoio à ferrovia”, disse o presidente da Medway, Carlos Vasconcelos, quando questionado pelos jornalistas sobre se espera do OE2025 uma atenção positiva para o setor.
Em declarações à margem da inauguração do novo Terminal Ferroviário Intermodal de Badajoz, na Estremadura espanhola, que vai ser operado por um consórcio integrado pela portuguesa Medway, o responsável precisou que, quando se refere a um apoio à ferrovia no OE2025, espera, “no mínimo”, que não exista penalização face à rodovia.
“Quando digo apoio é no sentido de não nos penalizarem face à rodovia, no mínimo”, vincou.
Carlos Vasconcelos explicou que ainda não teve qualquer contacto com o atual ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, com o qual terá “uma reunião em breve”, mas frisou estar confiante em relação ao entendimento do atual executivo da AD sobre a ferrovia e o transporte ferroviário.
“Aguardamos serenamente, mas estamos confiantes, por alguns sinais, algumas declarações, de que há uma vontade de mudar o paradigma anterior”, em que “se falava muito” e havia “muito interesse na ferrovia, mas, na prática, as políticas traduziam-se na penalização da ferrovia”, disse.
O presidente da transportadora ferroviária de mercadorias, que integra o operador Medlog, argumentou, em jeito de “brincadeira”, que até costuma dizer que Portugal “é um país esquizofrénico” quanto à ferrovia.
“Queremos apoiar, fazemos lindos discursos a apoiar a ferrovia”, mas “aumentamos a taxa de uso, que [são] as portagens que os comboios pagam por usar a rede ferroviária, em 22% este ano e para o ano mais 8%”, enquanto, “ao mesmo tempo, eliminamos as portagens das autoestradas”, ilustrou.
Referindo que estas críticas têm a ver com “a situação do governo anterior”, de maioria PS, Carlos Vasconcelos defendeu que o país “tem que definir o que é que quer fazer em termos de ferrovia”.
“Se quer ter uma ferrovia competitiva, que ajude a descarbonizar, que ajude até a economia exportadora e importadora a serem mais competitivas, tem que olhar para a ferrovia de outra maneira, tem que tomar medidas que, de facto, se traduzam no aumento da competitividade”, frisou.
E não se trata de pedir subsídios, alertou: “Queremos ter é as mesmas condições que a rodovia tem e, eventualmente, que esse é o desígnio europeu, se houver uma discriminação que seja uma discriminação positiva a favor da ferrovia”.
Face a Espanha, onde a Medway integra o consórcio público-privado Extremadura Avante Logística, que ganhou o concurso para operar três terminais rodoferroviários na região da Estremadura, num contrato avaliado em 137,9 milhões de euros, Portugal tem que fazer mais, sustentou.
“Espanha, de facto, tem um objetivo muito claro de tornar a ferrovia mais competitiva para atrair mais cargas, com o objetivo de contribuir para a descarbonização da economia. Portugal fala muito, mas faz o contrário”, disse, dando também como exemplo que, no país vizinho, existem apoios à renovação da frota ferroviária, mas em Portugal essa medida “não existe”, só “há apoios para a renovação de frotas de camiões”.
“Em Espanha, nós comprámos agora 16 locomotivas. O Estado espanhol financiou 25% desse custo. Porquê? Porque as locomotivas são um modelo mais eficiente em termos energéticos” e permitem “tirar milhares de camiões da estrada”, indicou, argumentando que, “se os Estados querem de facto descarbonizar, têm que ajudar de alguma maneira”.