OE2024: O que está em falta no documento? Onde estão as empresas? Esta é a opinião dos líderes portugueses

João Duque, Dean do ISEG, João Pedro Tavares, Presidente da ACEGE, José Theotónio, CEO do Pestana Hotel Group e Ricardo Costa, Presidente do Grupo Bernardo da Costa, juntaram-se no palco da Culturgest, para debater o que está em falta e o que está a mais no Orçamento do Estado para 2024 (OE2024).

 

OE: Onde estão as empresas?

Temos um OE muito assente no Estado, e onde estão as empresas, em setores e áreas que se devia apostar? João Duque considera que o OE não está direcionado para as empresas. É um OE que, estruturalmente, é de transferências, e que vamos ter o maior peso que alguma vez um OE teve na economia portuguesa.

“As empresas não votam, se as empresas votassem, as coisas seriam diferentes”, sublinha o Dean do ISEG.

Assim, ficamos condicionados áquilo que é feito em investimento público às infraestruturas, bem como no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Isto são das poucas coisas que as empresas podem aproveitar.

Ricardo Costa considera que os esforços do Governo devem incidir nas questões de carga fiscal, nomeadamente que impacta na questão salarial, o que pode levar muitos profissionais a aportar talento noutras geografias.

O também Presidente da Associação Empresarial do Minho sublinha ainda que o Estado deve preocupar-se em criar condições favoráveis para atrair investimento, deixando o mercado trabalhar, apoiando na regulação, no entanto, não é necessário que este intervenha na gestão das empresas.

O executivo destacou ainda que temos em Portugal um problema muito grave, o nível de qualificações dos trabalhadores é muito superior ao dos nossos empresários, e isso está a fazer com que os empresários não sejam capazes de dar resposta às necessidades e exigências atuais do mercado.

João Pedro Tavares considera que o nosso país tem um problema de base, há uma enorme falta de convergência, sendo que se devem criar redes, temos que atuar em conjunto. “Temos pequenas empresas, mas que tenhamos boas redes, referências, marcas e reconhecimento”.

Aqui, o Governo tem um papel de promotor e incentivador, mas o papel principal é dos empresários.

“Este OE é ambicioso? Projeta Portugal? Está a transformar? A criar realidades diferentes? Não”, considera o Presidente da ACEGE.

José Theotónio considera que o turismo é um setor muito fragmentado em Portugal, e o modelo de negócio também mudou muito, o que pode fazer com que o setor crie muito mais valor. Mas, para isso, é preciso ter escala e dimensão, que as equipas dentro das empresas consigam gerar uma criação adicional de riqueza.

Assim, considera que o grande desafio do Governo deveria ser aumentar a escala das empresas, micro para PMEs, PMEs para grandes empresas, as grandes para a internacionalização, porque apenas com o crescimento das empresas é possível fazer uma distribuição justa.

 

Qual o rumo para o futuro?

A resposta a esta pergunta acaba por convergir na questão da carga fiscal.“A carga fiscal para a sociedade não é um grande problema, o problema é que temos muita gente a ganhar pouco dinheiro”, refere Ricardo Costa, enquanto João Duque toca no tema da habitação, sublinhando também que a “habitação não é cara em Portugal, nós é que ganhamos pouco. E como pomos portugueses a ganhar mais? A incentivar, a canalizar incentivos para a produtividade”.

O CEO do Grupo Bernardo da Costa sublinha ainda que a ferrovia é algo que nos deve preocupar a todos, e Portugal corre o risco de se tornar cada vez mais periférico, acrescentando que as verbas do PRR deviam ser alocadas a investimentos estruturais.

“Para a revolução industrial temos que ter talento cá, e estamos a desperdiçar esse talento. Esse deve ser o grande desígnio, atrair talento e continuar a atrair o talento que já temos”, destaca.

Já o CEO do Pestana Hotel Group considera que o maior erro foi confundir o novo aeroporto com o turismo, pois se o turismo está bem, este não é prioridade. Mas este serve a sociedade, é a nossa porta de entrada, destaca.

José Theotónio afirma ainda que “é importante conseguirmos ter bons quadros em Portugal. se conseguirmos fazer crescer as empresas, os salários também sobem”.

João Pedro Tavares debruça-se sobre outro tema, o inverno demográfico que o país atravessa, e afiança que “as empresas têm um papel fundamental no combate à pobreza. Ou mudamos, ou vamos continuar a ser mais pobres”.

Por fim, João Duque destaca a palavra Produtividade. “Se queremos garantir as pensões, os cuidados de saúde, sem matar de vez os mais jovens graças ao aumento dos impostos, a sociedade tem que ser mais produtiva e o Estado mais eficiente”.

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