O valor nos cuidados de saúde como motor de inovação em Portugal

Por Francisco Valadas, Engagement Manager, IQVIA Consulting, e João Completo, Principal IASIST-IQVIA, Payers, Providers & Government

Entre os grandes desafios que a gestão na saúde enfrenta, o desafio mais premente atualmente é a forma de maximizar os resultados em saúde da população a um custo adequado.

Conscientes de que o orçamento para a saúde é limitado, existem quatro elementos que devem ser trabalhados em simultâneo de forma a promover a melhoria contínua e a sustentabilidade do sistema de saúde, bem como aportar mais valor para o doente e para a sociedade:

  1. Entender mais aprofundadamente o percurso do doente.
  2. Conhecer o custo real do acompanhamento e tratamento do doente.
  3. Recolher e avaliar os resultados em saúde, sejam eles clínicos ou reportados pelo doente.
  4. Adequar os modelos de financiamento à realidade das instituições.

Colocar em prática os modelos do “Value-Based Healthcare” (VBHC) tem todas as potencialidades para ser um motor para a inovação, seja ela organizacional ou assistencial, mas também para a redução do desperdício. No entanto, cabe a todos os parceiros do setor colaborarem para encontrarem soluções que respondam às limitações que podem dificultar a sua respetiva implementação e sucesso.

Para que o VBHC seja efetivo é necessário conhecer toda a jornada do doente, o seu histórico, os aspetos clínicos e assistências mais relevantes e, naturalmente, a expectativa do próprio doente. Ora, a elevada fragmentação da prestação dos cuidados de saúde e o seu foco nas organizações tornam-se desadequados, sendo que o foco de todo o modelo deveria centrar-se na pessoa.

Outro desafio identificado, que está relacionado com os pontos anteriores, é o atual modelo de financiamento das organizações, que se foca essencialmente no volume de produção assistencial e não nos resultados em saúde obtidos.

A perceção e feedback do doente relativamente à prestação dos cuidados é um elemento fundamental para a medição de valor em saúde. Os Patient-Reported Experience Measures (PREMs) e os Patient-Reported Outcome Measures (PROMs), em que os primeiros avaliam a experiência do doente durante o processo de prestação de cuidados e, os segundos, avaliam a perceção do doente em relação aos resultados obtidos, são instrumentos imprescindíveis nas metodologias VBHC, mas colocam desafios no que diz respeito à recolha e análise contínua dos dados reportados pelos doentes.

Embora careça de uma abordagem mais estruturada e integrada, Portugal está numa fase de implementação de alguns projetos-piloto de VBHC que têm como objetivo dar visibilidade às mais-valias do modelo e influenciar a forma comos decisores, equipas de gestão, profissionais de saúde e a população veem a saúde.

A evolução recentemente anunciada pela Direção Executiva do SNS no que diz respeito à forma de organização das entidades prestadoras, designadamente com o alargamento das Unidades Locais de Saúde a todo o território continental e a alteração dos atuais modelos de financiamento para modelos ajustados pela complexidade e risco da população, vem criar condições ideais para a implementação de projetos VBHC que, por um lado, beneficiam dessa integração e, por outro lado, permitem avaliar os resultados efetivos dessa mesma reforma.

Os modelos de VBHC, para além de colocarem verdadeiramente o doente no centro do sistema e de associar os custos gerados na prestação de cuidados aos resultados obtidos, acarretam vantagens para todos os parceiros no ecossistema da saúde. Para os decisores e pagadores, os modelos de VBHC promovem uma cultura de excelência, de melhoria contínua e de obtenção e avaliação dos resultados face ao investimento feito. Para as instituições e profissionais de saúde, promovem um melhor conhecimento das patologias, uma eficiência de gestão e o melhor conhecimento dos custos e dos resultados obtidos.

Por último, e igualmente relevante, para além de melhores resultados, os doentes sentem que os cuidados de saúde se centram nas suas necessidades.

A implementação de modelos de VBHC promove a melhoria contínua, a competição saudável e recompensa o desempenho e os resultados obtidos. Como tal, é essencial o envolvimento de todos para catalisar e disseminar a adoção destes modelos a nível nacional.

 

 

 

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