O que prometeu, o que já fez e o que está ‘em andamento’: Os primeiros 100 dias de Von Der Leyen no novo mandato como presidente da Comissão Europeia

Desde que o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, mencionou os seus “primeiros 100 dias” como uma marca importante em 1933, líderes globais têm feito o mesmo, prometendo grandes mudanças aos seus eleitores. Agora, é a vez de Ursula von der Leyen.

A política alemã, que garantiu um segundo mandato como presidente da Comissão Europeia em julho, comprometeu-se a realizar pelo menos sete grandes feitos políticos durante os seus primeiros 100 dias. Von der Leyen adotou uma abordagem semelhante no início do seu primeiro mandato, com resultados variados.

Entre as suas metas estão desde a criação de uma política de defesa robusta até ao desenvolvimento de iniciativas tecnológicas ambiciosas, passando por uma nova visão para a agricultura, capaz de ajudar os agricultores a adaptarem-se às normas ambientais da UE. Contudo, a tarefa de Von der Leyen não será fácil, num contexto marcado por uma economia europeia em dificuldades e pela invasão russa da Ucrânia, ao mesmo tempo que enfrenta o crescimento do nacionalismo em vários estados-membros.

O jornal Político faz um balanço do estado em que estão as promessas feitas por Von der Leyen:

1. Acordo industrial limpo

Von der Leyen prometeu um novo “Acordo Industrial Limpo” para indústrias competitivas e empregos de qualidade, a ser desenvolvido nos primeiros 100 dias do mandato. A ideia é simplificar os processos, promover investimentos e garantir o acesso a energia e matérias-primas sustentáveis e seguras. Este plano servirá para preparar o caminho para a redução de 90% das emissões até 2040, um objetivo ambicioso que será consagrado na Lei Climática Europeia.

A presidente da Comissão propôs também um “Acelerador de Descarbonização Industrial”, que canalizará investimentos para infraestruturas e indústrias, especialmente para setores de elevada intensidade energética, visando acelerar os processos de licitação e planeamento.

No entanto, especialistas alertam que cumprir as promessas de descarbonização, mantendo a competitividade das indústrias europeias, exigirá centenas de bilhões de euros em investimentos. Há, no entanto, uma relutância generalizada entre os estados-membros em alocar esses fundos, o que poderá dificultar a implementação deste plano.

2. Plano de ação europeu para a cibersegurança de hospitais

Von der Leyen destacou a importância de proteger os sistemas de saúde da UE contra ataques cibernéticos, nomeadamente ransomware. Para isso, comprometeu-se a apresentar um plano de ação europeu nos primeiros 100 dias do seu mandato, focado na deteção de ameaças e na resposta a crises.

Embora este plano seja mais uma recomendação do que legislação, tem como objetivo acelerar medidas imediatas para aumentar a cibersegurança nos hospitais. Este é um tema de grande relevância, dado o aumento significativo de ataques a sistemas de saúde nos últimos anos.

O principal desafio será a alocação de recursos, uma vez que muitos hospitais públicos estão com dificuldades financeiras para implementar as mudanças necessárias, e os fornecedores privados poderão resistir ao custo adicional.

3. Iniciativa Fábricas de IA

A presidente da Comissão também anunciou a “Iniciativa Fábricas de IA”, destinada a garantir o acesso a capacidades de supercomputação para startups de inteligência artificial (IA) na União Europeia. Este projeto visa reduzir a dependência europeia da infraestrutura tecnológica norte-americana e chinesa, permitindo que startups da UE possam competir num campo cada vez mais dominado pelos gigantes tecnológicos estrangeiros.

No entanto, alguns especialistas temem que esta iniciativa possa ser demasiado limitada e tardia, dado que várias empresas promissoras da Europa já estabeleceram parcerias com grandes empresas tecnológicas dos Estados Unidos, como o exemplo da startup francesa Mistral, que firmou um acordo com a Microsoft.

4. Livro Branco sobre Defesa

Outro compromisso importante de von der Leyen é a apresentação de um Livro Branco sobre o Futuro da Defesa Europeia. Este documento, previsto para os primeiros 100 dias do mandato, será uma plataforma para debater como reforçar a defesa da UE, incluindo a indústria de defesa e as compras conjuntas. A cooperação com a NATO será também central nesta estratégia, com o objetivo de cobrir ameaças emergentes, como cibersegurança e questões espaciais.

Apesar da importância desta área, o maior obstáculo será o financiamento. Países como a França e a Polónia têm pressionado por obrigações de defesa europeias, uma ideia que enfrenta forte resistência por parte da Alemanha e dos Países Baixos.

5. Visão para a agricultura e alimentação

No campo da agricultura, Von der Leyen prometeu apresentar uma nova visão que assegure a competitividade e a sustentabilidade a longo prazo do setor agrícola europeu. O plano deverá focar-se em garantir que os agricultores obtenham rendimentos justos, ao mesmo tempo que respeitam as normas ambientais da UE.

Este é um tema sensível, especialmente com o aumento de protestos de agricultores em vários países europeus, insatisfeitos com os preços justos e as novas regulamentações ambientais. O desafio para Von der Leyen será equilibrar as necessidades dos agricultores com os objetivos ambientais da UE.

6. Diálogos sobre políticas de juventude

Von der Leyen também quer que todos os comissários organizem diálogos anuais sobre políticas de juventude, nos primeiros 100 dias do seu mandato. O objetivo é dar voz aos jovens e garantir que as suas preocupações sejam tidas em conta na formulação das políticas europeias.

Embora esta iniciativa tenha sido bem recebida, alguns especialistas são céticos quanto à sua capacidade de gerar mudanças políticas concretas.

7. Revisão da política de alargamento

Por fim, Von der Leyen prometeu uma revisão da política de alargamento da UE, com foco em setores como o Estado de direito, o mercado único e a segurança alimentar. A expansão da UE, nomeadamente a adesão da Ucrânia e da Moldávia, é um tema controverso, com preocupações sobre o impacto no mercado agrícola e nos fundos de coesão europeus.

Embora o alargamento seja uma prioridade política para Von der Leyen, muitos líderes europeus mostram-se relutantes em avançar rapidamente, dada a complexidade das reformas internas que tal expansão implicaria.

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