O que pode uma empresa aprender com um guitarrista?
A capacidade das empresas em manter uma vantagem competitiva é, por vezes, insustentável. A carreira de Jeff Beck, na música, vem ensinar o contrário.
Por Theodore Kinni, colaborador da strategy+business
Ao fim de uma hora de “Still on the Run”, um documentário que explora a carreira do deus da guitarra Jeff Beck, Eric Clapton, outra divindade, aparece no ecrã e afirma: «Nem sei como é que ele o faz metade do tempo.» Clapton fala da capacidade de Beck de dar voz à guitarra. Mas, o seu comentário faz pensar como Beck desenvolveu o seu estilo único e quais, caso hajam, as lições da sua carreira de quase 60 anos para todos os que aspiram chegar ao topo do mundo de negócios.
Com os mandatos dos CEO nas grandes empresas a durarem cerca de cinco anos, o facto de Beck ter sido considerado um dos melhores guitarristas do mundo cerca de 10 vezes é algo que vale a pena explorar. É certo que um talento inato e inúmeras horas de ensaios contam. Mas muitos guitarristas têm ambos e não tiveram carreiras que durassem tanto como a de um CEO. Beck, porém, tem procurado a inovação na tecnologia e na técnica. E este hábito fez com que o músico de 74 anos expandisse as suas capacidades e transformasse o seu som.
Como o biógrafo Martin Powell revelou em “Hot Wired Guitar: The Life of Jeff Beck”, os pais de Beck valorizavam a música, mas não a guitarra eléctrica. Quando os seus pais se recusaram a comprar cordas novas para uma guitarra emprestada, Beck começou a criar os seus instrumentos. Incapaz de afinar os primeiros, aprendeu a esticar as cordas enquanto tocava, alternativa que se tornou assinatura. O aspirante a guitarrista roubou os captadores necessários para a sua primeira guitarra eléctrica e construiu o amplificador na escola. Desde então, explorou e adoptou avanços tecnológicos para moldar e expandir a sua forma de tocar.
A vontade de Beck de aprender e incluir técnicas é outra característica da sua carreira. Tal como Clapton, aprendeu com os gigantes dos blues norte-americanos. Segundo a biografia de Power, Beck revela que a primeira vez que ouviu Jimi Hendrix tocar, pensou: «Oh, meu Deus, mais vale tornar-me carteiro.» Depois seguiu-o para aprender como este criara o seu som. Outras inspirações incluíram um coro feminino que gravava músicas folk búlgaras, o tenor Luciano Pavarotti, e música electrónica. Beck descreve o seu estilo resultante como «uma forma de insanidade… um pouco de tudo, na verdade. Rockabilly, Jimi Hendrix ou Ravi Shankar, música oriental e árabe, está tudo lá.»
A procura de Beck por combinações mais potentes de tecnologia e técnica poderia levar à exaustão. Mas ele também sabe quando se afastar do amplificador. Quando chega a um impasse na carreira, faz uma pausa até a criatividade estar reposta. Outra característica que apoia a sua longevidade é a eterna recusa em procurar o sucesso comercial como objectivo por si só. Alguns dos contemporâneos – incluindo Clapton e Jimmy Page, que fundou os Led Zeppelin – tornaram-se super-estrelas, mas ele não atingiu o mesmo nível raro. Em vez disso, tornou-se mais um guitarrista de culto, que parece determinado em manter a sua independência na indústria da música e em evitar as armadilhas do estrelato.
De facto, sempre que Beck se aproximou do super-estrelato, recuou. Após substituir Clapton nos Yardbirds (e de ter recrutado Jimmy Page), a banda afastou-se dos blues e começou a seguir um som mais comercial. Beck saiu a meio de uma tourné. «Não via qualquer criatividade nos Yardbirds», afirmou mais tarde. Após formar o The Jeff Beck Group, que incluía Rod Stewart e Ronnie Wood, e de se tornar popular nos EUA, mais uma vez saiu a meio de uma tournée e voltou para Inglaterra. Em 1985, acedeu em ir em tournée com Rod Stewart, mais uma vez. Desta, desistiu ao fim de seis noites de uma tournée de 70 espectáculos, afirmando: «Parecia que estava num teatro do revista, com ele a abanar o rabo. Não consegui levar aquilo a sério.»
Em vez de procurar escala, Beck seguiu o caminho de um empreendedor em série. Forma bandas com base na música que deseja explorar – funk, jazz ou fusion – e nas pessoas com quem quer trabalhar, e depois segue para outra coisa. Isto levou a colaborações frutíferas com músicos como o teclista Jan Hammer e vocalistas de talento, como Beth Hart e Imelda May: «Não há o elemento de macho e testosterona aqui», diz Beck, «apenas música.» Beck faz também sessões frequentes com outros músicos. Stevie Wonder escreveu “Superstition” para Beck depois de este ter tocado num dos seus álbuns. (Quando a equipa de Wonder ouviu o futuro êxito, insistiram em mantê-lo e gravá-lo.)
A capacidade das empresas para manterem uma vantagem competitiva sustentável tem sido declarada insustentável no último quarto de século – o trabalho de professores como Richard D’Aveni e Rita McGrath é reconhecido nessa linha de pensamento. Mas o exemplo de Jeff Beck sugere que é possível ter vantagem competitiva sustentável numa carreira na música e nos negócios.
Este artigo foi publicado na edição de Junho de 2019 da Executive Digest.