O que esperar dos mercados em 2023? Especialista explica
O ano que está a acabar termina com perspectivas bastante negativas no que diz respeito aos mercados e economia mas existem novidades a que devemos estar atentos.
Em entrevista à Deco Proteste, João Sousa, analista financeiro e coordenador da Proteste Investe destaca que “as bolsas vão permanecer voláteis em 2023, mas oferecem oportunidades para quem investe numa perspetiva de longo prazo”.
Sobre o ano que está prestes a terminar sublinha que “2022 foi difícil”. “Ainda que a recuperação no quarto trimestre permita mitigar um pouco os danos, no conjunto das principais bolsas, a queda deste ano é severa. Os mercados bolsistas foram penalizados pela guerra na Ucrânia e pela inflação elevada. Nos Estados Unidos, desde o início do ano, o rendimento do índice S&P 500, incluindo dividendo reinvestido calculado em euros, traduziu-se numa perda de 5,8 por cento. O Nasdaq ficou, claramente, no vermelho ao cair 19,8 por cento”, refere.
Já na Europa “após uma queda muito acentuada, os mercados já mitigaram um pouco os danos. O índice europeu STOXX Europe 50 regista, até 2 de dezembro, um rendimento acumulado de 2,9 por cento. Todavia, a bolsa de Frankfurt caiu 8,5 por cento, e Paris perdeu 2,9 por cento. Depois de vários anos com desempenhos bastante inferiores à média das bolsas europeias, a praça lisboeta, em contraciclo com as suas congéneres, destaca-se pela positiva (8,9 por cento, com dividendo incluído), beneficiando do peso muito significativo do setor de energia no índice PSI”.
Deste modo, 2023 será um ano em que se terá de permanecer atento “às tensões geopolíticas, à crise energética na Europa e à inflação de ambos os lados do Atlântico, com a perspetiva de um possível abrandamento do ritmo de subida das taxas de juro pelos bancos centrais”. Diz ainda que “se a Reserva Federal norte-americana alterar a sua política monetária, as nuvens negras poderão desanuviar, lentamente, em 2023”, mas não é algo muito provável.
Na Zona Euro ressalva que “estamos a caminhar para uma recessão” devido à significativa perda de poder de compra dos consumidores e à subida das taxas de juro. Sabe-se ainda que em termos de crescimento económico, “os últimos meses de 2022 e o primeiro trimestre de 2023 ficarão no vermelho” e para o próximo ano “o crescimento do PIB deverá ser de 0% contra 1,7%, em 2022”.
Em 2024 a recuperação deverá ser apenas de 1%, juntando-se a isto o facto de existir “muita incerteza sobre o abastecimento de hidrocarbonetos, sobretudo gás, no inverno de 2023” que irá pesar na confiança dos agentes económicos.
Sobre o custo do dinheiro, o especialista diz que “o aumento das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu permanecerá na ementa para reduzir a inflação”. No entanto, espera-se “um ritmo de subida de taxas menos agressivo, mais lento do que nos últimos meses, especialmente se o euro estabilizar ou subir face ao dólar”.
No que diz respeito às bolsas Europeias “do ponto de vista económico, a recessão e a crise energética irão levar a uma forte queda dos lucros das empresas”. Por conseguinte, é provável que, “nos próximos meses, os analistas, ou até mesmo as próprias empresas, venham a comunicar surpresas desagradáveis, como revisão em baixa das estimativas ou avisos sobre os lucros”. Isto pode fazer baixar o seu preço, mesmo que a avaliação atual das ações pareça baixa: em média, 12 vezes os lucros estimados.
Por fim, sobre a inflação, “ainda continuará elevada, sobretudo na Europa”, mas o “pico poderá já ter sido atingido”.
É um bom momento para investir?
De acordo com João Sousa “o declínio nos mercados bolsistas e a volatilidade elevada oferecem grandes oportunidades”, em especial para quem ainda não está exposto ou terá investido pouco em ações.
Sobre o tipo de investimentos estes podem ser fundos ou ações. No caso dos fundos, aconselha-se investir em nomes com provas dadas no passado, e que tenham baixos custos de gestão.
Quanto às ações individuais, o investidor deve focar-se em ações de empresas sólidas, que estão bem estabelecidas no seu mercado.
E obrigações?
Para o especialista, “ao contrário do que é habitual em 2022, as obrigações evoluíram no mesmo sentido descendente que as ações, chegando a cair ainda mais, e não deixando qualquer saída para o investidor”. Apesar disso, as obrigações são, por tradição, vistas como um ativo “defensivo” durante uma crise bolsista.
Durante o próximo ano não se espera mais subidas agressivas das taxas de juro em 2023, “o que irá suportar o preço das obrigações”, refere. Assim, excluindo acidentes inesperados (que não são de excluir numa zona euro cada vez mais endividada), os títulos obrigacionistas voltarão a desempenhar um papel de diversificação e limitação do risco nas carteiras de investimento.