O que esperar da formação de executivos em 2024? Líderes das escolas de negócios portuguesas respondem

Com os atuais desafios que enfrentam os líderes empresariais, as escolas de negócios assumem-se como pilares fundamentais na génese de uma boa liderança.

A Executive Digest falou com líderes de escolas de negócios portuguesas para perceber o cenário que anteveem para a formação de executivos, e quais os principais desafios para 2024.

  

João Duque, Dean do ISEG

Liderar é antecipar e conduzir.

Uma vez interiorizada a questão da sustentabilidade dos negócios em termos ambientais, sociais e de governante, os líderes são agora desafiados a saberem explorar e incorporar os programas de inteligência artificial generativa ao serviço dos negócios e dos seus clientes.

Há um ano apareceu o ChatGPT lançado pela Open AI e imediatamente se levantou esta questão ao nível das universidades. Durante os primeiros 3 a 6 meses as universidades foram fortemente abaladas pela nova ferramenta e por aquilo que ela introduzia em termos rutura com o tradicional modelo de ensino e de negócio de educação. No entanto, as universidades cedo perceberam que era impossível negar a evidência e que seria profundamente errado deixar de aproveitar a ferramenta que se apresentava ao mercado. Havia que começar a regular a sua utilização e começar a experimentar a sua utilização. Foi isso que elas fizeram e que estão a fazer.

As empresas terão de fazer o mesmo, aproveitando o que de melhor essa tecnologia poderá trazer à gestão interna e ao desenvolvimento dos negócios.

Os primeiros sobre quem recai a exigência de conhecerem o que é essa tecnologia, quais as suas vantagens, riscos, e ainda de que formas a poderão usar ao serviço da gestão interna e dos negócios são os seus líderes. Quanto mais cedo o conseguirem mais rapidamente estarão a beneficiar das suas vantagens. Isso significa que poderão posicionar-se em termos de vantagem competitiva sobre os seus concorrentes, explorando não só a “first move advantage”, mas também os ganhos de eficiência que poderão advir do seu uso.

Assim, o uso da inteligência artificial pode colocar a empresa numa vantagem em termos de reconhecimento de marca, lealdade de consumidores ou ainda o uso / compras dos que querem conhecer as vantagens do uso dessa Inteligência Artificial nos serviços ou negócios que oferece. E não devemos esquecer o que se pode beneficiar internamente ao usarmos, na governance da empresa, a mesma Inteligência Artificial.

Por isso, é fundamental que as empresas, e em particular os seus líderes, estejam conscientes da revolução que se adivinha.

 

Pedro Oliveira, Dean da Nova SBE

O mundo está hoje, e cada vez mais, em rápida mudança, criando pressão para que os líderes desenvolvam competências para dar resposta aos complexos desafios dos seus contextos laborais. As tensões da mudança surgem de várias frentes, incluindo os factores externos que advêm de um contexto macro-económico global com crescentes graus de incerteza, e de uma pressão emergente para uma transformação digital dentro do mundo corporativo, das transformações tecnológicas em que se destaca a inteligência artificial (IA). Internamente, surgem também desafios relacionados com a gestão e retenção de talento, com os modelos de trabalho híbridos, e com uma cultura organizacional que precisa ser afinada, reforçando os seus aspectos de diversidade e inclusão e compromisso com a sustentabilidade.

Neste contexto, a formação ao longo da vida e, em particular, a formação de executivos, é um aspecto crítico para o sucesso e a sustentabilidade das organizações. Torna-se, por isso, crítico que o desenvolvimento de competências dos líderes seja assegurada de forma contínua, permitindo que os mesmos acompanhem com agilidade os desafios dos seus contextos.

Para permitir essa flexibilidade, na Nova SBE temos procurado ampliar a nossa oferta formativa explorando temas emergentes e formatos inovadores e criando respostas tanto para indivíduos como para organizações, de forma pontual ou mais contínua. Em particular, queremos mobilizar um ecossistema para o aumento da competitividade e do crescimento de Portugal através da educação, através da Nova SBE Voice Leadership Initiative. Esta iniciativa pretende apoiar o processo de modernização e competitividade de Portugal através da capacitação dos decisores das Pequenas e Médias Empresas, com ferramentas e rotinas que ajudem a melhorar o seu crescimento futuro. Este é apenas um exemplo do que acreditamos ser o caminho da formação de líderes, mobilizado para ação e com as vertentes técnicas, estratégicas e de desenvolvimento de soft skills.

 

José Crespo de Carvalho, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education

Se continuarmos a ter os mesmos desafios a que temos assistido, e que recordo, então teremos:

Desafio do caminho digital – onde iremos enfrentar a liderança de organizações cada vez mais digitais em processos, em atividades e tarefas mais e mais mecanizadas, sendo que a tecnologia estará sempre na ordem do dia. Desafio este que não pode gerar perdas de eficiência e de eficácia dos sistemas organizacionais.

Desafio do remoto e quebra cultural ou nascimento de uma nova cultura – onde iremos assistir à convivência do trabalho remoto com a deterioração de uma cultura e de um conjunto de valores a que estamos habituados e, mal ou bem, onde veremos nascer outra cultura e outros valores que, por enquanto, nada nos dizem ou nem existem.

Desafio da diversidade e inclusão – onde iremos dar prioridade a questões de diversidade e inclusão e, muitas vezes e infelizmente, enviesando critérios para o conseguir pois vai-se comprometendo, para cumprir um lado da equação, a equidade e as oportunidades para todos em favor da representatividade.

Mudanças climatéricas e de sustentabilidade – onde a pressão para alinhar estratégias corporativas com práticas sustentáveis, respondendo aos desafios das mudanças climáticas e às expectativas crescentes dos consumidores, se tornarão mandatórias.

Finalmente, resiliência e gestão de crises – onde os líderes precisarão aprimorar a capacidade de resposta a crises, construindo organizações resilientes diante de desafios imprevisíveis, como pandemias, instabilidades políticas e eventos climatéricos extremos.

Ou seja, se os desafios continuarem a ser estes, a formação não tem como se afastar deles. Há-de haver sempre formação de banda larga onde se exploram competências de liderança e soft skills no geral como se irão explorar temáticas mais técnicas, financeiras, de operações, de supply chain, de marketing, de vendas, de controlo de gestão, de fiscalidade, de projetos e tantos outros – todas elas fazendo uso de inteligência artificial –  e, também, explorando todos os verticais como a saúde, o farmacêutico, a distribuição, alimentar ou não, a banca, os seguros, e tantos e tantos outros. Uma coisa é certa: a formação ao longo da vida veio para ficar. Cada vez mais. E com uma condição: desafios importantes pedem seriedade de abordagens e requerem sempre formatos ajustados. Sempre. Porque, por aqui, cada vez mais, temos de separar a formação que é ajudada ao lado humano, das pessoas, da formação que não se deve fazer que é o trabalho que vai ficar para as máquinas.

 

José Esteves, Dean da Porto Business School

Num mundo empresarial em constante evolução, as organizações necessitam de líderes que antecipem tendências e se adaptem a elas, criando oportunidades e aprimorando competências. A aprendizagem contínua é vital para manter a relevância e o sucesso, algo que as Escolas de Negócios em Portugal estão prontas a proporcionar.

Para 2024, emergem seis focos principais: desenvolvimento de habilidades de liderança, transformação digital e inteligência artificial (IA), adaptação a mudanças rápidas no ambiente de negócios, promoção da diversidade e inclusão, integração da sustentabilidade para gerar valor e gestão do equilíbrio entre trabalho presencial e remoto.

O cenário empresarial está a evoluir rapidamente, influenciado por avanços tecnológicos, alterações nas expectativas dos clientes e pressões competitivas, políticas e regulatórias. Formar gestores não basta; é preciso líderes ágeis e adaptáveis.

Em 2024, a IA será ainda mais proeminente, transformando a sociedade. Os líderes devem usá-la de forma responsável, atendendo a desafios como cibersegurança e proteção de dados.

O e-commerce, com seu potencial de crescimento, exige que as empresas portuguesas melhorem as suas infraestruturas tecnológicas e logísticas, valorizando o marketing digital e a IA.

A sustentabilidade é agora um pilar essencial na formação de líderes, com foco na literacia em sustentabilidade e mudanças climáticas, preparando-os para enfrentar desafios ambientais.

A diversidade e inclusão devem ser estratégias formais nas empresas, com líderes que compreendam e valorizem a diversidade para criar ambientes de trabalho mais inclusivos.

Com o aumento do trabalho remoto, os líderes devem gerir equipas distribuídas geograficamente, repensando a integração entre o trabalho presencial e remoto, com ênfase em tecnologias de comunicação virtual e gestão do tempo, atentos a riscos como cibersegurança e privacidade.

Em 2024, retornar à escola será uma oportunidade valiosa para todos, independentemente da idade.

 

Filipe Santos, Dean, e Céline Abecassis Moedas, Diretora Executiva da Formação de Executivos da Católica Lisbon

 

Portugal e as sociedades ocidentais, bem como o Planeta atravessarão desafios enormes em 2024 e nos próximos anos. E infelizmente faltam na nossa sociedade líderes visionários e inspiradores, orientados por valores humanistas sólidos e uma ética rigorosa, que mobilizem as pessoas para a ação. Líderes que coloquem uma agenda de criação sustentada de valor à frente do seu interesse próprio.

Mas o exercício da liderança, seja na área empresarial seja na esfera pública, é cada vez mais complexo e exige líderes capazes de perceber os desafios centrais a resolver, entender as agendas conflituantes de diferentes grupos, e inspirar soluções inovadoras, sendo capaz de gerir processos de mudança. Numa época de soundbite e fake news, precisamos também de líderes que gerem confiança e se foquem no essencial, que coloquem a análise substantiva da realidade à frente da ideologia. E finalmente os líderes atuais têm de entender rapidamente e saber agir sobre transformações profundas da realidade empresarial, abraçando os temas da sustentabilidade e as alterações trazidas pela inteligência artificial.

Num mundo moderno com grandes transformações demográficas e de gestão do talento, os líderes precisam cada vez mais de se atualizar para se prepararem para os desafios presentes e futuros. Daí a importância da formação executiva em liderança, para os preparar com as competências, conhecimento e valores que permitem o exercício de uma liderança eficaz.

Na CATÓLICA-LISBON estamos no top 25 mundial da formação executiva e temos 50 anos de experiência em formação de líderes éticos orientados para o impacto. Temos vindo a investigar e ensinar há vários anos nos temas da liderança responsável e na gestão de organizações orientadas para o propósito, e na análise sistemática da realidade económica e social para a definição e avaliação das melhores políticas em Portugal. E lançámos formações executivas pioneiras nos temas da sustentabilidade, propósito, inteligência artificial, corporate governance e longevidade, entre outros temas. E como a liderança se exerce na prática, temos desenvolvido modelo de formação interativa e aplicada, combinando metodologias rigorosas com a aplicação a situações concretos.

É que os líderes precisam de se formar para responder aos inúmeros desafios do futuro!

 

 

 

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