O que é que a guerra fez à economia da Europa?
Depois de três anos de pandemia, reaberturas, cadeias de fornecimentos condenadas e inflação o chamado “novo normal” nunca chegou a acontecer no velho continente.
Esta é a conclusão dos analistas da revista ‘The Economist’, um ano depois do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Mas nem tudo é mau, a Zona Euro “tem-se mostrado resistente” nos últimos tempos com a guerra e com a crise energética. Neste momento, o gás está mais barato do que na véspera do conflito, depois dos preços dispararem no verão passado. Além disso, os governos não foram forçados a racionar energia como se temia inicialmente e a inflação plena, que atingiu o recorde de 10,6% em outubro, está neste momento a cair.
A isto junta-se o facto de tal como previam os mais pessimistas, a indústria ter entrado em colapso por causa do custo do combustível. Na Alemanha por exemplo, fábricas com uso intensivo de energia viram a produção cair em um quinto desde o início da guerra, à medida que as importações substituíram a produção doméstica. Apesar disso, a produção geral caiu apenas 3% até o final do ano, em linha com a tendência pré-pandémica, mantendo o otimismo dos comerciantes.
Ainda na Alemanha, observou-se a economia a cair ligeiramente, porém no que diz respeito à Zona Euro não se observa ainda uma recessão, sendo que de acordo com a última previsão da Comissão Europeia, o bloco também evitará uma contração neste trimestre.
Neste sentido, a estabilidade económica mantém as pessoas em empregos e o número de trabalhadores na União Europeia (UE) aumentou novamente no quarto trimestre de 2022. A taxa de desemprego é a mais baixa desde que o euro surgiu em 1999 e nas pesquisas, as empresas indicam apetite por novos trabalhadores com os empregos a manterem as pessoas a gastar.
Acrescenta-se ainda que apesar dos altos preços da energia, o consumo contribuiu com meio ponto percentual para o crescimento trimestral no segundo e terceiro trimestres de 2022.
A grande questão neste momento passa por saber por quanto tempo é que as pessoas vão continuar a gastar indefinidamente. Sabe-se que as famílias começaram a apertar o bolso no quarto trimestre de 2022. Na Áustria e em Espanha, para as quais estão disponíveis dados detalhados do PIB, o consumo reduziu o crescimento trimestral em um ponto percentual ao mesmo tempo que o comércio de retalho na Zona do Euro caiu 2,7% em dezembro, na comparação com o mês anterior.
Enquanto isso a inflação parece ser para ficar com o marcado de trabalho a não contribuir para uma redução evidente, bem como, os altos preços e a escassez de mão de obra a piorar à medida que os idosos se aposentam e menos jovens entram na força de trabalho.
Neste cenário, o Banco Central Europeu tem mesmo de manter as taxas de juros altas esperando-se que subam de 2,5% para 3,7% no verão. O financiamento para empresas e famílias deve, portanto, ficar mais caro, afetando o investimento.
Quanto ao futuro da Europa, a recessão pode ainda estar longe mas as perspectivas não são agradáveis. O FMI prevê crescimento de 0,7% em 2023, a Comissão prevê 0,9% naquilo que o meio internacional classifica como o “sombrio novo normal”.